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DE TUDO
Força do Masp deve ir além da bela fachada
MARCO GIANNOTTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Museu de Arte de São Paulo,
cravado no meio da avenida Paulista, é, sem dúvida, um dos raros
monumentos da cidade. É um dos
poucos edifícios que, além de ser
belo arquitetonicamente, tem a
força singular de sua presença, no
meio do caos urbano paulistano.
Em uma cidade sem horizontes, o
vão livre propiciado pelo museu
cria uma fresta, um respiro para
São Paulo.
Difícil comentar sua coleção,
fruto do olhar arguto de Pietro
Maria Bardi e das jogadas de Assis
Chateaubriand. Como não recordar do quadro de Bellini, onde um
panejamento verde separa a Virgem e o menino Jesus da paisagem? Ou da coruja à espreita da
caverna rochosa de Mategna? Ou
ainda da Amazona de Manet, que
com seu vestido se funde no negro do cavalo?
Houve um tempo ainda em que
o Masp realizava exposições modernas e contemporâneas inesquecíveis como a suíte Vollard de
Picasso e a grande retrospectiva
de Morandi e de Soulages.
Recordo que almoçar aos domingos no restaurante do Masp
era um programa quase obrigatório. Infelizmente, hoje em dia é
mais fácil percorrer a feira de antiquário situada de maneira duvidosa no vão espetacular de Lina
Bo Bardi do que voltar a freqüentar o museu.
Qual a razão para tamanha decadência? Uma política comprometida com a autopromoção,
preocupada mais em realizar reformas babilônicas que descaracterizam o projeto de Lina do que
em oferecer exposições de qualidade para a população.
O Masp vive atualmente apenas
da sua bela fachada. As exposições temporárias, quando ocorrem, também são de fachada,
pois, em vez de investir em obras
de qualidade, o museu investe na
publicidade enganosa, criando a
ilusão de que o Masp não vive
apenas dos seus fantasmas.
O pior é que agora a dívida contraída por essa gestão quer partilhar o prejuízo com a sociedade,
repetindo o mesmo sintoma de
algumas gestões da prefeitura.
Como é que deixamos isso
acontecer? O velho problema brasileiro de transformar um espaço
público em privado parece ser
uma das razões mais evidentes
para esse descaso.
O Masp precisa resgatar a sua
transparência. O museu imaginário de Malraux, que durante anos
foi o paradigma da visão utópica
de Lina, que, ao colocar painéis de
vidro nas obras nos dava a impressão de passear pela história
da arte sem começo ou fim -por
mais problemática que essa montagem fosse-, agora é substituído por uma visão especuladora e
predatória.
Não tenho dúvida de que o
Masp pode voltar a ser o museu
preferido dos paulistanos. Mas,
para que isso aconteça, é preciso
que o museu resgate a sua auto-estima e volte a poder sonhar com
novos projetos culturais. Afinal
de contas, o Masp é a nossa cara, e
viver no museu é viver na cidade.
Marco Giannotti, 38, é pintor e professor da Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo.
MASP - Av. Paulista, 1.578. tel. 0/xx/
11/251-5644. De terça a domingo,
das 11h às 18h. Entrada: R$ 10, estudantes pagam R$ 5; gratuita para
menores de dez e maiores de 60
anos.
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