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CARIBENHA
Apesar da colonização espanhola, influência do Reino Unido é notada na arquitetura, na religião e no idioma
Espanhóis e ingleses deram o tom cultural
DO ENVIADO ESPECIAL A SAN ANDRÉS (COLÔMBIA)
A história do pequeno arquipélago de San Andrés envolve disputa entre colonizadores europeus por sua posse a partir do século 17, aventuras com piratas e
até polêmicas decisões políticas.
A controvérsia começa com a
definição de sua descoberta. Embora haja registros de que as ilhas
tenham sido encontradas por espanhóis em 1510, a maioria dos
historiadores considera que o fato
ocorreu apenas em 1629, por puritanos ingleses. Na segunda metade desse mesmo século, foram
conquistadas pelos espanhóis,
dando início a uma disputa de
quase 150 anos que envolveu ainda holandeses e só terminou com
a assinatura de um acordo no fim
do século 18, no qual a Inglaterra
reconheceu a soberania da Espanha sobre o arquipélago.
Mesmo depois da ocupação inicial pelos espanhóis, muitos ingleses vindos da Jamaica chegaram a
essas ilhas. Eles são considerados
os primeiros moradores de fato.
A presença britânica também
continuou a despeito do tratado,
por meio de relações comerciais, e
se reflete ainda hoje em diversos
aspectos do cotidiano do arquipélago, especialmente em San Andrés. Muitas casas, de madeira,
guardam essa influência, que pode ser conferida na Casa Museo
Isleña, na costa leste da ilha, de
frente para o mar. Aberta para o
público há um ano e meio, recria a
arquitetura e o interior de uma
habitação do século 19.
Outro exemplo é a Primeira
Igreja Batista, no bairro da Loma.
Uma das mais antigas do gênero
nas Américas, foi erguida em
meados do século 19 e é considerada patrimônio nacional. Cerca
de 50% a 70% da população é batista. No mesmo bairro, que fica
no ponto mais alto de San Andrés,
a mais de 100 m do nível do mar,
está o mirante Hill Side View, que
tem uma das melhores vistas do
lado leste da ilha -além de estar
tomado por centenas de coqueiros. Estão à vista a praia de Cocoplum Bay e as ilhotas de Aquário e
Haynes Cay.
Além da arquitetura e da religião, na população também se
percebe a influência. Depois do
espanhol, o inglês é a língua mais
falada, seguido do creole, uma espécie de dialeto que mistura o inglês com línguas africanas.
A contribuição britânica para a
história do arquipélago também
se deu com os piratas, que fizeram
das ilhas de San Andrés, Providência e Santa Catalina seus refúgios ou bases estratégicas durante
saques a barcos espanhóis carregados de ouro e prata.
O mais famoso foi Henri Morgan, que, no século 17, diversas
vezes com o aval das então autoridades britânicas, comandou ataques a navios e colônias da Espanha no mar do Caribe, em busca
das riquezas extraídas especialmente de onde hoje é o México.
Pelos serviços prestados à coroa
britânica e pelo prestígio que ganhou, foi nomeado "sir" e até governante da Jamaica.
Na costa oeste da ilha de San
Andrés está a caverna de Morgan,
com mais de 30 m de profundidade, hoje tomada pela água e de difícil acesso. Um labirinto onde, segundo a lenda contada pelos nativos, o bucaneiro teria escondido
seus tesouros.
Outro "legado" está na ilha de
Santa Catalina. A ação das ondas
durante milhares de anos ajudou
a desenhar na rocha a Cabeça de
Morgan, uma escultura natural
quase suspensa sobre o mar.
Porto livre
Menos de 30 anos após ser reconhecido como território espanhol, o arquipélago foi incorporado à Colômbia, em 1822, durante
as guerras pela independência.
Hoje, o turismo e o comércio
são as principais atividades econômicas das ilhas, em substituição à agricultura reinante até as
décadas iniciais do século 20, primeiro com o algodão -outra influência britânica- e depois com
o coco. A mudança foi acelerada
após 1953, quando uma polêmica
decisão transformou o arquipélago em porto livre.
Estudos apontam que o fluxo
turístico cresceu drasticamente e
afetou a população local, que se
converteu em minoria. Colombianos do continente e estrangeiros desembarcaram na maior ilha
do arquipélago. Eram sobretudo
árabes, que se estabeleceram como comerciantes e hoje são donos de lojas no centro. A população, que era de 3.700 mil pessoas
em 1951, saltou para 14,4 mil em
1964 e para 56,4 mil em 1993.
(MARCELO SAKATE)
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