São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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CARIBENHA

Apesar da colonização espanhola, influência do Reino Unido é notada na arquitetura, na religião e no idioma

Espanhóis e ingleses deram o tom cultural

DO ENVIADO ESPECIAL A SAN ANDRÉS (COLÔMBIA)

A história do pequeno arquipélago de San Andrés envolve disputa entre colonizadores europeus por sua posse a partir do século 17, aventuras com piratas e até polêmicas decisões políticas.
A controvérsia começa com a definição de sua descoberta. Embora haja registros de que as ilhas tenham sido encontradas por espanhóis em 1510, a maioria dos historiadores considera que o fato ocorreu apenas em 1629, por puritanos ingleses. Na segunda metade desse mesmo século, foram conquistadas pelos espanhóis, dando início a uma disputa de quase 150 anos que envolveu ainda holandeses e só terminou com a assinatura de um acordo no fim do século 18, no qual a Inglaterra reconheceu a soberania da Espanha sobre o arquipélago.
Mesmo depois da ocupação inicial pelos espanhóis, muitos ingleses vindos da Jamaica chegaram a essas ilhas. Eles são considerados os primeiros moradores de fato.
A presença britânica também continuou a despeito do tratado, por meio de relações comerciais, e se reflete ainda hoje em diversos aspectos do cotidiano do arquipélago, especialmente em San Andrés. Muitas casas, de madeira, guardam essa influência, que pode ser conferida na Casa Museo Isleña, na costa leste da ilha, de frente para o mar. Aberta para o público há um ano e meio, recria a arquitetura e o interior de uma habitação do século 19.
Outro exemplo é a Primeira Igreja Batista, no bairro da Loma. Uma das mais antigas do gênero nas Américas, foi erguida em meados do século 19 e é considerada patrimônio nacional. Cerca de 50% a 70% da população é batista. No mesmo bairro, que fica no ponto mais alto de San Andrés, a mais de 100 m do nível do mar, está o mirante Hill Side View, que tem uma das melhores vistas do lado leste da ilha -além de estar tomado por centenas de coqueiros. Estão à vista a praia de Cocoplum Bay e as ilhotas de Aquário e Haynes Cay.
Além da arquitetura e da religião, na população também se percebe a influência. Depois do espanhol, o inglês é a língua mais falada, seguido do creole, uma espécie de dialeto que mistura o inglês com línguas africanas.
A contribuição britânica para a história do arquipélago também se deu com os piratas, que fizeram das ilhas de San Andrés, Providência e Santa Catalina seus refúgios ou bases estratégicas durante saques a barcos espanhóis carregados de ouro e prata.
O mais famoso foi Henri Morgan, que, no século 17, diversas vezes com o aval das então autoridades britânicas, comandou ataques a navios e colônias da Espanha no mar do Caribe, em busca das riquezas extraídas especialmente de onde hoje é o México. Pelos serviços prestados à coroa britânica e pelo prestígio que ganhou, foi nomeado "sir" e até governante da Jamaica.
Na costa oeste da ilha de San Andrés está a caverna de Morgan, com mais de 30 m de profundidade, hoje tomada pela água e de difícil acesso. Um labirinto onde, segundo a lenda contada pelos nativos, o bucaneiro teria escondido seus tesouros.
Outro "legado" está na ilha de Santa Catalina. A ação das ondas durante milhares de anos ajudou a desenhar na rocha a Cabeça de Morgan, uma escultura natural quase suspensa sobre o mar.

Porto livre
Menos de 30 anos após ser reconhecido como território espanhol, o arquipélago foi incorporado à Colômbia, em 1822, durante as guerras pela independência.
Hoje, o turismo e o comércio são as principais atividades econômicas das ilhas, em substituição à agricultura reinante até as décadas iniciais do século 20, primeiro com o algodão -outra influência britânica- e depois com o coco. A mudança foi acelerada após 1953, quando uma polêmica decisão transformou o arquipélago em porto livre.
Estudos apontam que o fluxo turístico cresceu drasticamente e afetou a população local, que se converteu em minoria. Colombianos do continente e estrangeiros desembarcaram na maior ilha do arquipélago. Eram sobretudo árabes, que se estabeleceram como comerciantes e hoje são donos de lojas no centro. A população, que era de 3.700 mil pessoas em 1951, saltou para 14,4 mil em 1964 e para 56,4 mil em 1993.
(MARCELO SAKATE)


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