UOL


São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AVIAÇÃO

No ar desde 1969, supersônico deve ser substituído pelo Sonic Cruiser, que ainda está nas pranchetas da Boeing

Concorde se aposenta por tempo de serviço

DA REDAÇÃO

No ar desde 1969, ensaiando decolar das pranchetas entre 1956 e 1959, os aviões franco-britânicos Concordes, que protagonizam as únicas rotas comerciais supersônicas do planeta, serão desativados em outubro, quando British Airways e Air France aposentam suas frotas de sete e cinco aeronaves respectivamente.
Leigos têm identificado esse fim de operação como "fracasso comercial". Mas o fato é que o Concorde, que Jean-Cyril Spinetta, presidente da Air France, chama de "o mais belo objeto industrial jamais fabricado", envelheceu.
No ano 2000, uma trágica coincidência anunciou a morte da operação Concorde. Em 25 de julho, a Folha noticiou rachaduras nas asas dos Concordes da British Airways, em atividade na rota Londres-Nova York.
No mesmo dia, um dos seis supersônicos da Air France, que operam a rota Paris-Nova York, decolou do aeroporto de Charles de Gaulle com um motor em chamas, caindo em Gonesse, a 21 km de Paris, matando 113 pessoas, entre passageiros e tripulantes.
Os vôos foram suspensos e, depois, retomados. Porém, com o acidente grave e a velhice da frota, os aviões, que voam duas vezes mais rápido que a velocidade do som, ficaram condenados e hoje os supersônicos estão prestes a virar peças de museu.
De todo modo, em tempo de pré-aposentadoria, convém lembrar que velocidade custa caro e que o Concorde, que tem cem assentos de primeira classe, faz a rota entre Paris e Nova York em três horas e 45 minutos, voando a 2.200 km/h (Mach 2), contra oito horas de viagem de um avião de carreira normal, capaz de desenvolver 900 km/h.
O preço da viagem por trecho é pouco maior que o de um vôo de primeira classe normal. Na Air France, o trecho Paris-Nova York num Concorde custa 6.412 (só ida) ou 8.652 nos dois trechos (ida e volta). Num vôo normal de primeira classe, a empresa cobra 5.275 pela ida ou 7.032 pela viagem de ida e volta.
A maioria dos passageiros da British e da Air France usa o Concorde para um dos trechos, voltando em avião normal, e, segundo as empresas, dois terços deles viajam a trabalho e são viajantes frequentes (voam em média quatro vezes por ano no Concorde). Quem usa o supersônico tem pressa e, graças ao fuso, chega a Nova York antes de sair de Paris.

Nunca igualado
Em 1927, o pioneiro Charles Lindberg fez esse mesmo vôo em 33 horas e 45 minutos. Desde então, a aviação comercial tomou conta do mundo, mas nunca houve um avião como o Concorde, exceto o chamado "Concordski", apelido dado ao Tupolev-144, que os russos-soviéticos fizeram calcados no supersônico franco-britânico e cuja operação comercial não se efetivou. Lançado em 1969, o "Concordski", aliás, foi retirado de operação precocemente, pois um deles caiu em 1973, durante exibição na feira de aviação que acontece nos anos ímpares em Le Bourget, nos arredores de Paris, matando 13 pessoas.
Revolucionário desde o lançamento, o Concorde deverá ter sucessor, provavelmente fabricado pela Boeing, em cujas pranchetas ganha asas o Sonic Cruiser.
Entre 1975 e 1982, quando o Concorde da Air France fazia a rota entre Paris, Dacar (no Senegal) e Rio, voar no supersônico era, mais do que tudo, render-se à beleza do modelo.
Quando um deles caiu na França em 2000, o arquiteto Oscar Niemeyer, conhecido pelo medo de avião, contou que havia voado três vezes no Concorde e desabafou: "Puxa, é uma máquina tão bonita, parece um pássaro, custo a acreditar que um deles tenha caído". (SILVIO CIOFFI)


Texto Anterior: Relaxe em Cuba, Buenos Aires ou Santiago
Próximo Texto: Nunca um avião foi tão testado
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.