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AVIAÇÃO
No ar desde 1969, supersônico deve ser substituído pelo Sonic Cruiser, que ainda está nas pranchetas da Boeing
Concorde se aposenta por tempo de serviço
DA REDAÇÃO
No ar desde 1969, ensaiando decolar das pranchetas entre 1956 e
1959, os aviões franco-britânicos
Concordes, que protagonizam as
únicas rotas comerciais supersônicas do planeta, serão desativados em outubro, quando British
Airways e Air France aposentam
suas frotas de sete e cinco aeronaves respectivamente.
Leigos têm identificado esse fim
de operação como "fracasso comercial". Mas o fato é que o Concorde, que Jean-Cyril Spinetta, presidente da Air France, chama
de "o mais belo objeto industrial
jamais fabricado", envelheceu.
No ano 2000, uma trágica coincidência anunciou a morte da
operação Concorde. Em 25 de julho, a Folha noticiou rachaduras
nas asas dos Concordes da British
Airways, em atividade na rota
Londres-Nova York.
No mesmo dia, um dos seis supersônicos da Air France, que
operam a rota Paris-Nova York,
decolou do aeroporto de Charles
de Gaulle com um motor em chamas, caindo em Gonesse, a 21 km
de Paris, matando 113 pessoas, entre passageiros e tripulantes.
Os vôos foram suspensos e, depois, retomados. Porém, com o
acidente grave e a velhice da frota,
os aviões, que voam duas vezes
mais rápido que a velocidade do
som, ficaram condenados e hoje
os supersônicos estão prestes a virar peças de museu.
De todo modo, em tempo de
pré-aposentadoria, convém lembrar que velocidade custa caro e
que o Concorde, que tem cem assentos de primeira classe, faz a rota entre Paris e Nova York em três
horas e 45 minutos, voando a
2.200 km/h (Mach 2), contra oito
horas de viagem de um avião de
carreira normal, capaz de desenvolver 900 km/h.
O preço da viagem por trecho é
pouco maior que o de um vôo de
primeira classe normal. Na Air
France, o trecho Paris-Nova York
num Concorde custa 6.412 (só
ida) ou 8.652 nos dois trechos
(ida e volta). Num vôo normal de
primeira classe, a empresa cobra
5.275 pela ida ou 7.032 pela
viagem de ida e volta.
A maioria dos passageiros da
British e da Air France usa o Concorde para um dos trechos, voltando em avião normal, e, segundo as empresas, dois terços deles
viajam a trabalho e são viajantes
frequentes (voam em média quatro vezes por ano no Concorde).
Quem usa o supersônico tem
pressa e, graças ao fuso, chega a
Nova York antes de sair de Paris.
Nunca igualado
Em 1927, o pioneiro Charles
Lindberg fez esse mesmo vôo em
33 horas e 45 minutos. Desde então, a aviação comercial tomou
conta do mundo, mas nunca houve um avião como o Concorde,
exceto o chamado "Concordski",
apelido dado ao Tupolev-144, que
os russos-soviéticos fizeram calcados no supersônico franco-britânico e cuja operação comercial não se efetivou. Lançado em 1969,
o "Concordski", aliás, foi retirado
de operação precocemente, pois
um deles caiu em 1973, durante
exibição na feira de aviação que
acontece nos anos ímpares em Le
Bourget, nos arredores de Paris,
matando 13 pessoas.
Revolucionário desde o lançamento, o Concorde deverá ter sucessor, provavelmente fabricado pela Boeing, em cujas pranchetas
ganha asas o Sonic Cruiser.
Entre 1975 e 1982, quando o
Concorde da Air France fazia a
rota entre Paris, Dacar (no Senegal) e Rio, voar no supersônico
era, mais do que tudo, render-se à
beleza do modelo.
Quando um deles caiu na França em 2000, o arquiteto Oscar
Niemeyer, conhecido pelo medo
de avião, contou que havia voado
três vezes no Concorde e desabafou: "Puxa, é uma máquina tão
bonita, parece um pássaro, custo
a acreditar que um deles tenha
caído".
(SILVIO CIOFFI)
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