São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009

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CAMINHOS MONTEVIDEANOS

Habitantes permeiam obra de Benedetti

Relação dos uruguaios com Benedetti se intensificou na possibilidade de entoar seus versos como canção

MARINA DELLA VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL

No último dia 19, cerca de 2.000 pessoas percorreram as ruas de Montevidéu acompanhando o corpo de Mario Benedetti, em uma homenagem com muitas flores e choro.
Foi um gesto de reciprocidade dos montevideanos com o autor que escreveu sobre eles em quase todas suas obras, na visão de Miriam Volpe, professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, autora da tese "Geografias de Exílio: Mario Benedetti, um Intelectual Latino-americano", publicada pela editora UFJF em 2005 no livro "Geografias de Exílio".
"A relação de Benedetti com Montevidéu deveria ser traduzida como sua relação com seus habitantes, sobre os quais escreveu em quase toda sua obra -e, por meio deles, com todos os uruguaios, pois a cidade contém mais da metade da população do país", diz Volpe.

Exílio
Nem mesmo o exílio -dez anos longe do Uruguai durante o período de ditadura militar- fez com que o autor visse a cidade com um olhar estrangeiro.
"Para Benedetti, não importa onde estivesse -Buenos Aires, Lima, Cuba, Madri, que foram seus refúgios- , Montevidéu foi sempre sua cidade. Nunca a viu com outros olhos. A cidade e os montevideanos estiveram sempre presentes em suas obras", diz Volpe.
Dono de uma obra variada e extensa, definir Benedetti como autor é trabalho difícil.
"Há, no entanto, uma possível definição de sua obra como um todo: sua sensibilidade, compaixão e solidariedade com o cidadão, seu leitor, a quem sempre ofereceu uma alternativa de esperança; sua consciência política; a firmeza de suas convicções e, principalmente, seu grande compromisso com a literatura", analisa Volpe.

Engajamento
Outro aspecto importante da vida de Benedetti é seu engajamento político com os movimentos de esquerda -o autor foi um dos fundadores do Movimento 26 de Marzo, que fez parte da coalizão de esquerda Frente Ampla até 2008.
Se a orientação política é uma das influências na obra do autor, ela se dá de modo distinto. "Benedetti se declara engajado, no entanto, sua obra não é panfletária. Pelo contrário, é mais uma expressão de preocupação humanista com seu próximo", afirma Volpe.
Outra característica interessante da relação dos uruguaios com Benedetti é o sucesso de poemas musicados, o que acabou gerando um outro tipo de relação com o autor - a possibilidade de entoar seus versos como uma canção.
Para Volpe, uma possibilidade cheia de beleza. "Benedetti sempre foi um autor popular. Os grandes cantautores que musicaram seus poemas -Joan Manuel Serrat, Daniel Viglietti, Nacha Guevara, entre outros- possibilitaram que grandes audiências cantassem em uníssono seus versos. Há algo mais bonito?"


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