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CAMINHOS MONTEVIDEANOS
Habitantes permeiam obra de Benedetti
Relação dos uruguaios com Benedetti se intensificou na possibilidade de entoar seus versos como canção
MARINA DELLA VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL
No último dia 19, cerca de
2.000 pessoas percorreram as
ruas de Montevidéu acompanhando o corpo de Mario Benedetti, em uma homenagem com
muitas flores e choro.
Foi um gesto de reciprocidade dos montevideanos com o
autor que escreveu sobre eles
em quase todas suas obras, na
visão de Miriam Volpe, professora da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Juiz
de Fora, autora da tese "Geografias de Exílio: Mario Benedetti, um Intelectual Latino-americano", publicada pela
editora UFJF em 2005 no livro
"Geografias de Exílio".
"A relação de Benedetti com
Montevidéu deveria ser traduzida como sua relação com seus
habitantes, sobre os quais escreveu em quase toda sua obra
-e, por meio deles, com todos
os uruguaios, pois a cidade contém mais da metade da população do país", diz Volpe.
Exílio
Nem mesmo o exílio -dez
anos longe do Uruguai durante
o período de ditadura militar-
fez com que o autor visse a cidade com um olhar estrangeiro.
"Para Benedetti, não importa
onde estivesse -Buenos Aires,
Lima, Cuba, Madri, que foram
seus refúgios- , Montevidéu
foi sempre sua cidade. Nunca a
viu com outros olhos. A cidade
e os montevideanos estiveram
sempre presentes em suas
obras", diz Volpe.
Dono de uma obra variada e
extensa, definir Benedetti como autor é trabalho difícil.
"Há, no entanto, uma possível definição de sua obra como
um todo: sua sensibilidade,
compaixão e solidariedade com
o cidadão, seu leitor, a quem
sempre ofereceu uma alternativa de esperança; sua consciência política; a firmeza de
suas convicções e, principalmente, seu grande compromisso com a literatura", analisa
Volpe.
Engajamento
Outro aspecto importante da
vida de Benedetti é seu engajamento político com os movimentos de esquerda -o autor
foi um dos fundadores do Movimento 26 de Marzo, que fez
parte da coalizão de esquerda
Frente Ampla até 2008.
Se a orientação política é
uma das influências na obra do
autor, ela se dá de modo distinto. "Benedetti se declara engajado, no entanto, sua obra não é
panfletária. Pelo contrário, é
mais uma expressão de preocupação humanista com seu próximo", afirma Volpe.
Outra característica interessante da relação dos uruguaios
com Benedetti é o sucesso de
poemas musicados, o que acabou gerando um outro tipo de
relação com o autor - a possibilidade de entoar seus versos
como uma canção.
Para Volpe, uma possibilidade cheia de beleza. "Benedetti
sempre foi um autor popular.
Os grandes cantautores que
musicaram seus poemas
-Joan Manuel Serrat, Daniel
Viglietti, Nacha Guevara, entre
outros- possibilitaram que
grandes audiências cantassem
em uníssono seus versos. Há algo mais bonito?"
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