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CORRA, TURISTA, CORRA
Atletas percorrerão o caminho nas Olimpíadas
História circunda o percurso de Atenas
DA REDAÇÃO
Correr com os pés montados na
história é a grande atração da Maratona de Atenas. O percurso é o
mesmo dos primeiros Jogos
Olímpicos da Era Moderna, que
os melhores corredores do mundo percorrerão em agosto.
A corrida começa no estádio de
Maratona, onde atenienses e persas se enfrentaram em 490 a.C. na
batalha que mudou a história.
Não se pode saber como seria o
mundo hoje se os persas -que
então contavam com mais armas
e mais soldados- tivessem vencido, mas é lícito acreditar que dificilmente floresceriam a arte, a literatura, a filosofia e a política
gregas, base da cultura ocidental.
Talvez para sua própria surpresa, os atenienses venceram. O comandante Miltíades mandou um
soldado até Atenas para dar a notícia. Superequipado, ele correu
os cerca de 42 quilômetros até a
capital, deu a boa nova e morreu.
Sua façanha entrou para a história e, mais de dois mil anos depois, foi lembrada quando estavam sendo organizados os primeiros jogos da Era Moderna.
Em homenagem ao feito do soldado grego -Fidípides, segundo
alguns, mas há polêmica sobre o
seu nome-, criou-se uma corrida de distância semelhante à que
separa Maratona de Atenas.
Na prova moderna, os atletas
correm o tempo todo em asfalto e
seus maiores inimigos são o calor,
a umidade e algumas armadilhas
que o percurso lhes reserva.
Os primeiros quilômetros são
planos, com uma leve descida. É
quando os corredores ficam cercados pela história.
À direita, nas colinas de Maratona, está a tumba em que foram
enterrados soldados atenienses e
escravos -naquela batalha, pela
primeira vez, senhores e servos
combateram lado a lado. E, pela
bravura, os escravos tiveram a duvidosa honra de serem enterrados
com os homens livres.
À esquerda, ao longe, está a baía
onde aportaram os persas. Mas os
corredores não a vêem. A seu alcance, está apenas o cenário grego
suburbano de hoje. Alguns moradores saúdam vizinhos que correm, outros incentivam a todos.
A partir daí, o cenário não varia
muito: a estrada corta pequenas
cidades, passa por regiões menos
habitadas, volta ao perímetro urbano. O que muda é a topografia:
a partir do km 10 e até o 17, aproximadamente, o percurso tem várias subidas. Algumas curtas, outras mais longas. Nada muito íngreme, mas o suficiente para minar as forças do corredor.
No km 17, um refresco: forte
descida, em que muitos aproveitam para recuperar o terreno. É aí
que erram, pois logo começa uma
longa, dolorosa subida, que, com
alguns platôs, vai até o km 30. Então inicia a parte mais difícil da
maratona, dois quilômetros e tanto que lembram a subida da Brigadeiro Luiz Antônio -o terror
de quem corre a São Silvestre, em
31 de dezembro, em São Paulo.
Para compensar, o atendimento
por parte dos organizadores é impecável. A cada 2,5 km, os maratonistas recebem água; em postos
selecionados, há esponjas com
água gelada para refrescar o corpo, bebidas isotônicas e frutas.
Mesmo assim, o corredor comum chega esgotado à entrada da
cidade. Pelo menos agora o esforço é menor, com o percurso final
todo em descida. Mas sempre em
terreno aberto, exposto ao sol.
Mesmo em Atenas, a corrida passa por largas avenidas e quase não
há sombra -os mais extenuados
chegam a se sentar ou deitar nos
canteiros das avenidas, buscando
a proteção dos arbustos.
A estátua de um corredor estilizado anuncia que falta apenas um
quilômetro. Os corredores buscam as últimas forças, apertam o
ritmo e se preparam para festejar.
Enfim terminam a empreitada no
berço da história esportiva moderna, correndo pela ferradura do
estádio Panathinaikon.
(RODOLFO LUCENA)
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