São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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"MEA CUBA"

Festivais como a feira internacional de livros, que acontece em fevereiro de 2003, são parte do cenário cultural da capital

Havana se refugia na leitura e na dança

Katia Calsavara/Folha Imagem
ARTE Nanete Morales Hernandez, 5, descansa em frente a um de seus quadros favoritos no Museu de Belas Artes de Havana, que reúne de obras do século 17 a trabalhos atuais


DA ENVIADA ESPECIAL A CUBA

Com 114.525 km² de extensão, Cuba concentra 58 teatros, 361 bibliotecas, 276 museus, 131 galerias de arte e 308 casas de cultura. Isso sem falar em feiras, encontros e festivais, que atraem visitantes do mundo todo.
Os destaques vão para dois importantes acontecimentos na literatura e na dança. O primeiro é o Festival Internacional de Balé de Havana, que começou no dia 18 de outubro e termina hoje. É o mais importante festival de dança da ilha, dirigido pela "prima ballerina" de Cuba, Alicia Alonso.
Na abertura do evento, o ditador Fidel Castro, no poder desde 1959, falou sobre o desenvolvimento da dança na ilha e parabenizou seus artistas: "O Balé Nacional de Cuba tem estado presente em nossas maiores realizações culturais. Com seu selo peculiar e a qualidade se sua arte, constitui hoje uma das companhias mais reconhecidas do mundo".
O outro evento importante na ilha é a Feira Internacional do Livro de Havana, que terá a sua 12ª edição em fevereiro de 2003, com homenagens ao poeta cubano Pablo Armando Fernández, prêmio nacional de literatura de 1996.
Em um país em que o número de analfabetos atualmente corresponde a 3,8% da população, de cerca de 11 milhões de habitantes, a leitura é um hábito. Para ter uma idéia, em 2002 comemora-se o centenário de Nicolás Guillén (1902-1989) -um dos maiores representantes da poesia negra do país-, e, nas ruas, mesmo em bairros mais pobres (sim, há diferenças entre um bairro e outro), as pessoas conversam sobre a importância da obra de Guillén.

Teatro Nacional
Inaugurado em 16 de março de 1960, a festa de inauguração do Teatro Nacional de Cuba tinha Jean-Paul Sartre (1905-1980) na platéia. Não era para menos. O edifício se tornaria um dos centros de arte mais importantes de Havana, onde se realizam festivais, oficinas, exposições e cursos.
Quem olha de fora não imagina quão enorme o teatro é por dentro. Uma de suas duas salas, a Avellaneda, tem capacidade para 2.500 pessoas. O palco, imenso, deve fazer brilhar os olhos de quem atua, dança ou canta por lá. A outra sala, para 800 pessoas, traz o nome de Francisco Covarrubias (1775-1850), tido como o fundador do teatro cubano. "Investimos no desenvolvimento de interesses da população. Todos os anos, temos oficinas de maestros. Desde pequenas, as crianças são estimuladas", diz Nisia Agüero, 67, diretora do teatro desde 1989. Também há exposições de artes plásticas e de fotografia.
O Teatro Nacional de Cuba fica na famosa praça da Revolução, onde está o clássico monumento a Che Guevara. No mesmo local também ficam a Biblioteca Nacional de Cuba, o Palácio da Revolução, as sedes do Partido Comunista e de ministérios como o das Forças Armadas e do Interior.
Na praça, há também o grande monumento em homenagem ao herói cubano José Martí, que morreu em maio de 1895, durante uma batalha contra a Espanha. Fidel Castro o considera mentor intelectual do levante armado do célebre 1º de janeiro de 1959, o ano da revolução na ilha.
Conheça ainda o memorial de Martí, que funciona de terça a sábado, das 9h30 às 17h30, e aos domingos, das 10h às 14h (tel. local 59-2347). Em Havana, os museus não funcionam às segundas.

Museu de Belas Artes
Dividido em quatro blocos, o Museu de Belas Artes é bem organizado e tem ótima iluminação, além de ser bastante amplo. Lá estão reunidas obras que datam do século 17, além de peças modernas e contemporâneas.
Na seção reservada às obras coloniais, destacam-se as do pintor Guillermo Collazo (1850-1896), que retratou paisagens e cenas religiosas. Há também uma ala reservada para a transição de século, onde começam a despontar traços modernos, como os da obra de Rafael Blanco.
A ousadia aparece com os festejados Marcelo Pogolotti e Wifredo Lam. Neste ano, os dois estariam completando cem anos, e o museu já selecionou algumas obras para serem expostas.
Os inspirados pela revolução também têm espaço reservado no museu. As obras apresentam características mais realistas em quadros de Raúl Martínez e Santiago Armada. Dentro do museu também fica o Centro de Informação Antonio Rodríguez Morey, o maior centro de documentação de artes plásticas do país.
Há serviço especializado de monitoria, que precisa ser agendado por telefone. O museu funciona de terça a sábado, das 10h às 18h, e domingos, das 9h às 13h. Estrangeiros pagam US$ 5. Cubanos pagam 5 pesos, o que equivale a cerca de US$ 0,20. (KATIA CALSAVARA)


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