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"Talento" para trabalho informal aflora entre os habitantes
DA ENVIADA ESPECIAL
As crianças estão todas na escola. Quem fica doente é atendido
por um bom médico, faz operações sem pagar. Os moradores recebem cestas básicas mensais.
Sorrisos, música e dança por toda
parte. O que será que falta aos habitantes da ilha de Fidel?
"Jamais poderemos nos tornar
ditadores. Eu sou um homem que
sabe quando é preciso ir embora."
Essa frase fez parte do discurso de
Fidel Castro em 1959, logo que tomou o poder em Havana. Desde
então, o ditador continua convocando a população aos seus discursos intermináveis na praça da
Revolução. E o povo vai.
Desde pequenos os cubanos são
treinados a falar sobre a revolução, a desenhar carinhas do Che
em trabalhos escolares, a exaltar a
qualidade da educação que tiveram. Porém as belezas de uma cidade limpa, com índices de delinquência quase inexistentes, digna
de receber turistas do mundo inteiro, esconde o sofrimento dos
cubanos, que não podem trocar
de casa, sair do país, tirar férias ou
comprar eletrodomésticos, boas
comidas nem roupas novas.
Foi a partir de 1990 que Cuba
começou a explorar seu potencial
turístico. Os hotéis suntuosos, antes raros, hoje existem às pencas.
Só em 2001, mais de 1,8 milhão de
turistas visitaram Havana (destes,
cerca de 10 mil brasileiros).
No início dos anos 90, o cubano
que fosse pego com dólares no
bolso poderia ser preso.
Hoje, a população da ilha, que
tem pouco mais de 11 milhões de
habitantes, deposita no turismo a
possibilidade de conquistar dinheiro extra. Normalmente, os
que trabalham diretamente em
hotéis e agências de viagens têm
mais chances de ganhar dólares.
Os visitantes precisam ter em
mente que o país socialista está dividido em dois: o dos turistas e o
dos cubanos. O turista desfruta da
TV a cabo nos hotéis, o cubano se
contenta com apenas dois canais
estatais. O turista pode acessar a
internet (cerca de US$ 4 por 15
minutos), enquanto o cubano usa
o telefone do vizinho contando os
segundos. O turista vai aos cafés
dançantes e tenta imitar o gingado dos nativos, o cubano raramente consegue pagar o preço de
US$ 10 para dançar uma noite.
Os contrastes entre os dois
mundos são tão gritantes que toda gorjeta e qualquer presente às
camareiras significam motivos de
agradecimentos emocionados.
Com isso, afloram os "talentos"
para os chamados trabalhos informais. Os carros da marca Lada,
antigos e em péssimo estado de
conservação, transformam-se em
táxis, bem como as bicicletas. Engenheiros, médicos e professores
se rendem ao artesanato para
complementar a renda.
O racionamento de alimentos é
controlado na ponta do lápis em
uma caderneta chamada "libreta". Ali são anotadas a quantidade
de produtos que a família tem a
receber todo mês e que, na grande
maioria dos casos, é insuficiente.
Para ter uma idéia, o óleo é distribuído apenas duas vezes por
ano (um litro por ano). Três quilos de arroz, 2,5 quilos de batata.
O leite, em pó, é reservado às
crianças com até sete anos de idade e aos idosos.
Por isso não se assuste se, ao dar
US$ 5 de gorjeta para um cubano,
ele ameaçar dar um abraço em
você no meio da rua.
(KC)
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