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"MEA CUBA"
Metodologia desenvolvida em centros de dança transforma pessoas sem condições físicas em bons bailarinos
Balé rompe com ditadura do corpo delgado
DA ENVIADA ESPECIAL A CUBA
Em Cuba, a dança ocupa lugar
de destaque, como todas as manifestações culturais. Lá, o bailarino
é profissional reconhecido, com
salário equivalente ao de um médico (ainda que não seja alto). É
um exemplo de que, na formação
do cidadão cubano, a cultura ocupa um papel fundamental.
Ainda na escola, as crianças são
convidadas a participar de audições (como são chamados os testes para bailarinos). Passado o
tempo de experimentação, se gostarem, elas são incentivadas a seguir o curso, que fará parte do
currículo escolar, como um curso
técnico qualquer. Ao fazer a opção, elas participam de menos aulas de física, por exemplo, e dedicam mais tempo à dança.
A metodologia cubana de ensino de balé foi desenvolvida especialmente para o tipo físico dos latinos, desmistificando a idéia do
balé feito para corpos longilíneos
e pessoas de pele branca.
Nos cursos ministrados em Cuba, como o do centro Pró-Danza,
profissionais do mundo inteiro
podem ter aulas de metodologia.
Hoje, a técnica cubana é reconhecida mundialmente e, em muitos
casos, tida como um método revolucionário, ao mostrar eficiência na capacidade de transformar
pessoas sem condições físicas para o balé em bons bailarinos.
O centro Pró-Danza, dirigido
por Laura Alonso, filha da primeira bailarina de Cuba, Alicia Alonso, funciona como escola e companhia de dança. De grande atividade na ilha, a companhia leva espetáculos a escolas e fábricas.
O Pró-Danza monta cerca de oito balés clássicos completos por
ano, produções longas e caras.
Em recente apresentação do balé "O Corsário", no teatro Mella,
em Havana, a diretora da companhia, ao lado do pai, Fernando
Alonso, 87- responsável pela
fundação do Balé Nacional de Cuba junto com Alicia Alonso-,
disse estar feliz com a difusão da
técnica cubana pelo mundo. "Todos os anos recebemos muitos estrangeiros que vêm a Cuba para
estudar a nossa técnica."
Nas coxias, dezenas de garotos,
com idades que variam de sete a
13 anos, brincam usando sapatilhas, ao mesmo tempo em que falam, como adultos, sobre o propósito de dançar: "Eu faço balé
porque gosto. Não estou aqui
porque quero viajar o mundo",
diz Aniel Gonzalez Jorge, 12.
Alicia Alonso
Por volta de 1915, incentivados
por uma fundação, a Sociedade
Pró-Arte Musical de Havana, foram convidadas companhias de
ópera, música e outras artes para
se apresentarem em Cuba. Em
1931, em meio a dificuldades econômicas, a fundação abriu três
cursos: balé, violão e declamação.
Um ano depois, houve o primeiro espetáculo de dança. Alicia
Martinez del Hoyo, depois Alicia
Alonso, estava no corpo de baile
do clássico "A Bela Adormecida".
Apesar do sucesso, ela sabia que
não havia como se tornar uma
profissional da dança em Cuba,
sem professores qualificados.
Com Fernando Alonso, ela partiu para Nova York, para fazer
parte da companhia do Ballet
Mordkin. Em 1940, foi fundado o
American Ballet Theatre, e os dois
foram aceitos nos testes. Em 1946,
graças ao seu virtuosismo, Alicia
interpretou o papel principal do
balé "O Lago dos Cisnes" e, em
1948, foi reconhecida como primeira bailarina da companhia.
Aproveitando uma grave crise
econômica do American Ballet,
no mesmo ano Alicia e Fernando
convidaram professores da companhia para dar aulas em Cuba.
Nasceu o Ballet Alicia Alonso,
reconhecido a partir de 1955 como o Ballet Nacional de Cuba. Os
bailarinos estrangeiros garantiram maior rigor técnico no ensino dos alunos cubanos.
A partir de 1952, no governo do
ditador Fulgencio Batista, a escola
viu-se obrigada a se dissolver. Alicia viajou o mundo e se tornou a
primeira bailarina do continente
americano a visitar e a ter aulas de
dança na ex-União Soviética.
Com o triunfo da revolução, Fidel
Castro ofereceu aos Alonso cerca
de 200 mil pesos para que eles reconstruíssem a companhia.
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