São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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"MEA CUBA"

Metodologia desenvolvida em centros de dança transforma pessoas sem condições físicas em bons bailarinos

Balé rompe com ditadura do corpo delgado

DA ENVIADA ESPECIAL A CUBA

Em Cuba, a dança ocupa lugar de destaque, como todas as manifestações culturais. Lá, o bailarino é profissional reconhecido, com salário equivalente ao de um médico (ainda que não seja alto). É um exemplo de que, na formação do cidadão cubano, a cultura ocupa um papel fundamental.
Ainda na escola, as crianças são convidadas a participar de audições (como são chamados os testes para bailarinos). Passado o tempo de experimentação, se gostarem, elas são incentivadas a seguir o curso, que fará parte do currículo escolar, como um curso técnico qualquer. Ao fazer a opção, elas participam de menos aulas de física, por exemplo, e dedicam mais tempo à dança.
A metodologia cubana de ensino de balé foi desenvolvida especialmente para o tipo físico dos latinos, desmistificando a idéia do balé feito para corpos longilíneos e pessoas de pele branca.
Nos cursos ministrados em Cuba, como o do centro Pró-Danza, profissionais do mundo inteiro podem ter aulas de metodologia. Hoje, a técnica cubana é reconhecida mundialmente e, em muitos casos, tida como um método revolucionário, ao mostrar eficiência na capacidade de transformar pessoas sem condições físicas para o balé em bons bailarinos.
O centro Pró-Danza, dirigido por Laura Alonso, filha da primeira bailarina de Cuba, Alicia Alonso, funciona como escola e companhia de dança. De grande atividade na ilha, a companhia leva espetáculos a escolas e fábricas.
O Pró-Danza monta cerca de oito balés clássicos completos por ano, produções longas e caras.
Em recente apresentação do balé "O Corsário", no teatro Mella, em Havana, a diretora da companhia, ao lado do pai, Fernando Alonso, 87- responsável pela fundação do Balé Nacional de Cuba junto com Alicia Alonso-, disse estar feliz com a difusão da técnica cubana pelo mundo. "Todos os anos recebemos muitos estrangeiros que vêm a Cuba para estudar a nossa técnica."
Nas coxias, dezenas de garotos, com idades que variam de sete a 13 anos, brincam usando sapatilhas, ao mesmo tempo em que falam, como adultos, sobre o propósito de dançar: "Eu faço balé porque gosto. Não estou aqui porque quero viajar o mundo", diz Aniel Gonzalez Jorge, 12.

Alicia Alonso
Por volta de 1915, incentivados por uma fundação, a Sociedade Pró-Arte Musical de Havana, foram convidadas companhias de ópera, música e outras artes para se apresentarem em Cuba. Em 1931, em meio a dificuldades econômicas, a fundação abriu três cursos: balé, violão e declamação.
Um ano depois, houve o primeiro espetáculo de dança. Alicia Martinez del Hoyo, depois Alicia Alonso, estava no corpo de baile do clássico "A Bela Adormecida". Apesar do sucesso, ela sabia que não havia como se tornar uma profissional da dança em Cuba, sem professores qualificados.
Com Fernando Alonso, ela partiu para Nova York, para fazer parte da companhia do Ballet Mordkin. Em 1940, foi fundado o American Ballet Theatre, e os dois foram aceitos nos testes. Em 1946, graças ao seu virtuosismo, Alicia interpretou o papel principal do balé "O Lago dos Cisnes" e, em 1948, foi reconhecida como primeira bailarina da companhia.
Aproveitando uma grave crise econômica do American Ballet, no mesmo ano Alicia e Fernando convidaram professores da companhia para dar aulas em Cuba.
Nasceu o Ballet Alicia Alonso, reconhecido a partir de 1955 como o Ballet Nacional de Cuba. Os bailarinos estrangeiros garantiram maior rigor técnico no ensino dos alunos cubanos.
A partir de 1952, no governo do ditador Fulgencio Batista, a escola viu-se obrigada a se dissolver. Alicia viajou o mundo e se tornou a primeira bailarina do continente americano a visitar e a ter aulas de dança na ex-União Soviética. Com o triunfo da revolução, Fidel Castro ofereceu aos Alonso cerca de 200 mil pesos para que eles reconstruíssem a companhia.

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