São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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PARQUE NACIONAL

Excesso de embarcações turísticas para observar golfinhos pode cansar animais e afastá-los da região

Noronha garante aparição do "rotador"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FERNANDO DE NORONHA (PE)

A chegada de barco à baía dos Golfinhos é um tanto apreensiva: os visitantes olham atentamente para avistar os habitantes daquelas águas. Até que surge um casal de golfinhos, mais outro e outro. E, nas águas translúcidas de Fernando de Noronha, você avista um grupo de golfinhos-rotadores escoltando a embarcação que ali navega vagarosamente.
E pode acontecer de eles não aparecerem? "Noronha é o melhor lugar para ver golfinhos, em nenhum outro lugar no mundo é provável ver tanto golfinho em um só ponto por tanto tempo", diz José Martins da Silva Júnior, doutor em oceanografia que coordena o Centro Golfinho-Rotador, ONG responsável pela pesquisa, pelo manejo e pela conservação dos cetáceos nas ilhas.
"O número de golfinhos na baía vai de três a 2.046. Na época da chuva, de março a junho, pode ocorrer de eles não entrarem na baía." Está dado o aviso.
O oceanógrafo explica que os golfinhos-rotadores (Stenella longirostris) usam a baía para descanso, reprodução, cuidado dos filhotes (amamentação) e refúgio contra tubarões. O nome vem do hábito de rodarem em torno do próprio eixo quando saltam fora d'água. Têm uma rotina atribulada: alimentam-se à noite, seguem de manhã em direção à baía e voltam para as zonas de alimentação, em alto-mar, à tarde.
"O rotador existe no mundo inteiro, é a terceira espécie mais abundante. Só no oceano Pacífico existem mais de 2 milhões deles. É uma espécie oceânica e tropical, só está em águas quentes e longe da costa", diz. Mas não é comum ver os golfinhos, porque eles não se aproximam da costa; estão em alto-mar ou perto de ilhas oceânicas para descansar.
Aqueles golfinhos que geralmente acompanham os barcos de turistas são os chamados de guarda, adultos e machos. Essa é uma estratégia usada pelos rotadores para despistar os curiosos: enquanto os turistas se divertem com a escolta de cetáceos, as fêmeas e os filhotes estão bem protegidos, distantes do barco. Mas os golfinhos de guarda não deixam de surpreender os visitantes: no meio do grupo, um casal possivelmente estava em acasalamento. Só faltou o show de pulos e saltos ao redor do barco.
"Os rotadores passam a maior parte de suas vidas em alto-mar, se eles estão perto do arquipélago e se alimentam o suficiente durante a noite, eles têm "tempo ecológico" para descansar na baía dos Golfinhos. É um luxo para os rotadores terem esse reduto de tranqüilidade em Fernando de Noronha", diz o coordenador do Centro do Golfinho-Rotador, que recebe apoio do Ibama, da Petrobras, da Fundação Avina, do Ministério do Turismo e da CVC.

Do alto
Aqueles que não se aventuram atrás dos golfinhos pelo mar ainda podem avistar os cetáceos pelo mirante dos Golfinhos. Para ver os cetáceos de binóculos (cedidos pelos pesquisadores do Centro Golfinho-Rotador) lá de cima, a uns 50 metros de altura, será preciso acordar bem antes de o sol nascer e até deixar o café para mais tarde. É que às 6h ocorre a chegada dos golfinhos à baía, onde permanecem até as 14h.
Segundo dados do Centro Golfinho-Rotador, em 2005, cerca de 25 mil turistas visitaram o mirante e 70 mil turistas saíram de barco para observar os golfinhos. "Quanto mais barcos ou quanto mais tempo as embarcações perseguem os golfinhos, menos tempo eles têm para descansar, reproduzir e cuidar dos filhotes. Como conseqüências dessas alterações comportamentais, temos que tomar cuidado para que o aumento do turismo de observação de golfinhos em Fernando de Noronha não produza estresse nos rotadores a ponto de diminuir a taxa de reprodução ou afugentá-los", diz o pesquisador. (GABRIELA ROMEU)


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