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PARQUE NACIONAL
Excesso de embarcações turísticas para observar golfinhos pode cansar animais e afastá-los da região
Noronha garante aparição do "rotador"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM FERNANDO DE NORONHA (PE)
A chegada de barco à baía dos
Golfinhos é um tanto apreensiva: os visitantes olham atentamente para avistar os habitantes daquelas águas. Até que surge um casal de golfinhos, mais
outro e outro. E, nas águas
translúcidas de Fernando de
Noronha, você avista um grupo
de golfinhos-rotadores escoltando a embarcação que ali navega vagarosamente.
E pode acontecer de eles não
aparecerem? "Noronha é o melhor lugar para ver golfinhos,
em nenhum outro lugar no
mundo é provável ver tanto
golfinho em um só ponto por
tanto tempo", diz José Martins
da Silva Júnior, doutor em
oceanografia que coordena o
Centro Golfinho-Rotador,
ONG responsável pela pesquisa, pelo manejo e pela conservação dos cetáceos nas ilhas.
"O número de golfinhos na
baía vai de três a 2.046. Na época da chuva, de março a junho,
pode ocorrer de eles não entrarem na baía." Está dado o aviso.
O oceanógrafo explica que os
golfinhos-rotadores (Stenella
longirostris) usam a baía para
descanso, reprodução, cuidado
dos filhotes (amamentação) e
refúgio contra tubarões. O nome vem do hábito de rodarem
em torno do próprio eixo quando saltam fora d'água. Têm
uma rotina atribulada: alimentam-se à noite, seguem de manhã em direção à baía e voltam
para as zonas de alimentação,
em alto-mar, à tarde.
"O rotador existe no mundo
inteiro, é a terceira espécie
mais abundante. Só no oceano
Pacífico existem mais de 2 milhões deles. É uma espécie
oceânica e tropical, só está em
águas quentes e longe da costa",
diz. Mas não é comum ver os
golfinhos, porque eles não se
aproximam da costa; estão em
alto-mar ou perto de ilhas oceânicas para descansar.
Aqueles golfinhos que geralmente acompanham os barcos
de turistas são os chamados de
guarda, adultos e machos. Essa
é uma estratégia usada pelos
rotadores para despistar os curiosos: enquanto os turistas se
divertem com a escolta de cetáceos, as fêmeas e os filhotes estão bem protegidos, distantes
do barco. Mas os golfinhos de
guarda não deixam de surpreender os visitantes: no meio
do grupo, um casal possivelmente estava em acasalamento. Só faltou o show de pulos e
saltos ao redor do barco.
"Os rotadores passam a
maior parte de suas vidas em
alto-mar, se eles estão perto do
arquipélago e se alimentam o
suficiente durante a noite, eles
têm "tempo ecológico" para descansar na baía dos Golfinhos. É
um luxo para os rotadores terem esse reduto de tranqüilidade em Fernando de Noronha",
diz o coordenador do Centro do
Golfinho-Rotador, que recebe
apoio do Ibama, da Petrobras,
da Fundação Avina, do Ministério do Turismo e da CVC.
Do alto
Aqueles que não se aventuram atrás dos golfinhos pelo
mar ainda podem avistar os cetáceos pelo mirante dos Golfinhos. Para ver os cetáceos de
binóculos (cedidos pelos pesquisadores do Centro Golfinho-Rotador) lá de cima, a uns
50 metros de altura, será preciso acordar bem antes de o sol
nascer e até deixar o café para
mais tarde. É que às 6h ocorre a
chegada dos golfinhos à baía,
onde permanecem até as 14h.
Segundo dados do Centro
Golfinho-Rotador, em 2005,
cerca de 25 mil turistas visitaram o mirante e 70 mil turistas
saíram de barco para observar
os golfinhos. "Quanto mais barcos ou quanto mais tempo as
embarcações perseguem os
golfinhos, menos tempo eles
têm para descansar, reproduzir
e cuidar dos filhotes. Como
conseqüências dessas alterações comportamentais, temos
que tomar cuidado para que o
aumento do turismo de observação de golfinhos em Fernando de Noronha não produza estresse nos rotadores a ponto de
diminuir a taxa de reprodução
ou afugentá-los", diz o pesquisador.
(GABRIELA ROMEU)
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