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AROMAS
Comilança é regada a chá, bolinhos e serenidade
DA ENVIADA ESPECIAL A HONG KONG
Sente-se, segure os pauzinhos
com segurança e delicie-se. Comer em Hong Kong não se resume a atender às reclamações de
seu estômago desprovido de alimentos. A nutrição exige tempo,
paciência e libertação de qualquer
pudor calórico. Um pequeno
banquete a cada refeição.
Comecemos pelo café da manhã, ou melhor, pelo almoço. O
hábito local é unir os dois repastos
em uma espécie de "brunch" chamado de "dim sum", que, traduzindo, significa "tocar o coração".
São dezenas de bolinhos cozidos e
fritos, feitos com carne de porco e
frutos do mar, que comovem
também o seu paladar. Envoltos
por uma fina massa, os petiscos
são servidos um após o outro em
cestos de bambu, acompanhados
de múltiplos molhos -picantes e
agridoces; espessos e ralos-, sopas e vegetais.
O restaurante Fung Shing (749
Nathan Road), em Kowloon, serve um dos "dim sum" mais famosos da cidade. O preço é dado pelo
número de cestos pedidos (os pequenos custam HK$ 10, e os grandes, HK$ 21), que, normalmente,
passam de dez. Mas, antes de comer, compre um pacote de lenços-de-papel. Nos restaurantes
mais tradicionais não há guardanapos. O cliente deve trazer o seu
próprio de casa.
O chá é bebida inevitável em
qualquer refeição. Ele está na mesa antes mesmo de os comensais
chegarem. E o costume dita que,
ao ser servido dele, o convidado
deve bater delicadamente os dedos indicador e médio um pouco
curvados algumas vezes na mesa.
É a maneira oriental de se dizer:
"Muito obrigado pelo chá".
No jantar, outra comilança demorada. Muita carne -bovina,
suína e de frango- frita ou assada. O macarrão, chamado de
"noodle", frito ou cozido e servido com vegetais não pode faltar.
Ele é sinônimo de fartura. Seu
preparo, manual, é um espetáculo
à parte. Os fios surgem da massa
como mágica, sem o uso de facas.
Para finalizar, a sobremesa intriga qualquer brasileiro. Nosso
estimado feijão é usado em quase
todos os doces. A vagem, mais
vermelha do que a usada por aqui,
é misturada com leite condensado, leite de coco e pedaços de
manga. O sabor não desagrada.
Com mil anos
Para banquetes, uma das especialidades é o ovo de mil anos.
Muito apreciado pelos locais, o
prato é, na maioria das vezes, evitado pelos turistas que descobrem
seu processo de feitura antes da
primeira mordida. O ovo, de pato,
não tem a idade que o nome indica, mas passa longe de ser chamado de fresco.
Para prepará-lo, envolve-se o
ovo em um líquido feito com chá,
sal, cinzas -de madeira e carvão- e limão. Em seguida, forra-se uma tigela com terra e deita-se
o ovo sobre essa camada, cobrindo-o com um pouco mais de terra. Depois, é só levar o pote para
um lugar escuro e deixá-lo lá, por
uma centena de dias!
Após os três meses e dez dias, o
ovo é descoberto e lavado em
água corrente. A clara adquire um
amarelo translúcido, e a gema,
uma tonalidade verde, muito escura. Cortado em duas partes
iguais, o alimento é servido acompanhado de vegetais e de carne de
água-viva, por exemplo.
Sopa de barbatana de tubarão e
de ninho de andorinha também
fazem parte do cardápio das ocasiões especiais.
(JULIANA DORETTO)
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