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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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PORTO DE AROMAS

Em mercado de pássaros, calculadora intermedeia venda

Em vez de cães, chineses levam aves para passear

DA ENVIADA ESPECIAL A HONG KONG

Mesmo que você não fale uma palavra em cantonês, prepare-se para "conversar" muito em Mong Kok. A região, na península de Kowloon, é um grande mercado a céu aberto, com ruas tomadas por barracas, pequenas lojas e uma infinidade de comerciantes chineses, que distribuem "hellos" aos cobiçados turistas ocidentais. Mas o diálogo em inglês acaba aí. Quando fisgado, o comprador passará a argumentar muito com o vendedor usando outra linguagem: a matemática.
O preço inicial, claro, nunca é o verdadeiro. Cabe ao interessado pedir descontos e ao comerciante mostrar o novo valor, digitando-o em calculadoras, enquanto fala os números em inglês com forte sotaque.
Se não estiver satisfeito, vale lutar por mais abatimentos, até que o vendedor, cansado, pergunte ao comprador: "Quanto?". Então, o preço final é dado -que, ainda assim, pode ser ou não aceito pelo lojista. A mercadoria chega a sair pela metade do valor do início. O único risco é o comprador sair da barraca tão satisfeito que comece a comprar tudo o que vê, só pelo prazer de pechinchar.
O principal mercado de Mong Kok -que, apropriadamente, significa "lugar com muita gente"- é conhecido como Ladie's Market e se concentra nos quarteirões da Tung Choi Street. As barracas, formadas por grandes pedaços de tecido pendurados, originalmente vendiam apenas roupas femininas, mas hoje oferecem de tudo: imitações de bolsas e relógios de marcas famosas ocidentais (HK$ 140), sapatos ricamente bordados (HK$ 180), CDs (HK$ 30), objetos de decoração e até calcinhas temáticas (HK$ 15). Nas ruas paralelas à Tung Choi, lojinhas oferecem imitações de tênis e aparelhos eletrônicos.

Pio
Durante o dia, a pechincha toma lugar no Bird Market (Flower Market Road, das 7h às 20h), prédio que tem lojas especializadas na criação de pássaros, o animal de estimação preferido dos chineses -com 7 milhões de pessoas apinhadas em minúsculos apartamentos, não há muito espaço para cães e gatos.
Pelos corredores, espalham-se delicadas gaiolas de bambu (de HK$ 50 a HK$ 170), abrigando uma infinidade de espécies. Até mesmo a nossa arara, que o comerciante jura ser espécie nativa de Hong Kong, aparece por lá.
Os compradores, que levam os bichinhos em suas gaiolas para passear e para acompanhá-los nas novas aquisições, buscam, além de acessórios, como recipientes para água e comida em porcelana, suprimento para a alimentação dos animais.
As guloseimas variam de sementes a gafanhotos vivos, para os pássaros maiores. O preço é dado de acordo com o tamanho dos insetos -de HK$ 7 a HK$ 10. Como trilha sonora, uma "sinfonia" descompassada e confusa: cantos e gritos (dos bichinhos) misturados com conversas, risadas e pechinchas dos compradores e dos vendedores.
Esparramado ao lado do Bird Market, o Flower Market é, talvez, o mercado mais perfumado de que se tem notícia. Suas lojas (na Flower Market Road e na Prince Edward Road West) estão sempre abarrotadas de uma imensa variedade de flores, vasos e plantas ornamentais. Com tanto verde, é difícil saber onde termina uma barraca e onde começa a outra.
Em Yau Ma Tei, região vizinha a Mong Kok, tomam forma outros dois mercados. O Jade Market (Kansu Street; aberto até às 18h) atrai os compradores da verde jade, pedra comum na China continental, usada em jóias e acessórios. Mas é preciso ter cuidado e não comprar gato por lebre: as falsificações são tão apetitosas quanto as pedras originais.
Na Temple Street, as ofertas e o burburinho, que se assemelham aos encontrados no Ladie's Market, estendem-se noite adentro (até à 0h), quando o clima mais fresco pode ajudar a enfrentar a multidão que se aperta pela rua.
No sul da ilha de Hong Kong, perto da baía Stanley -cercada de casas e apartamentos luxuosos-, o Stanley Market (Stanley Main Street, das 11h às 18h) tem produtos de melhor qualidade e preços um pouco mais altos do que os dos outros mercados, mas, ainda assim, passíveis de uma boa pechincha. (JULIANA DORETTO)

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