São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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Abandono ronda patrimônio tombado do séc.17

DO ENVIADO ESPECIAL

Para quem se interessa pela história do país, a principal atração de São Roque é o Sítio Santo Antônio, a 8 km do centro. Apesar da importância e da beleza do lugar, um alerta: a infra-estrutura turística é bastante inadequada ao status de monumento nacional.
O local foi residência do bandeirante Fernão Paes de Barros no século 17 e, após passar por diversos proprietários, pertenceu ao escritor modernista Mário de Andrade. Ele o comprou em dezembro de 1944, dois meses antes de morrer. Nos anos 60, cumprindo um desejo do escritor, a família doou a propriedade à União.
O sítio inclui dois prédios históricos, ambos tombados em 1947 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A casa-grande, construída em 1650, era ponto de encontro de bandeirantes. Já a capela de Santo Antônio foi erguida em 1681 a pedido da mulher de Paes de Barros, Maria de Mendonça.
As duas construções, embora relativamente simples, estão em bom estado -mérito da última restauração, de 1999- e são vestígios raros da época em que aventureiros se embrenhavam pelo interior em busca de riquezas.
A casa-grande, com um único pavimento, tem pelo menos duas curiosidades que ilustram a vida de então: as portas externas mais altas do que as internas para que os homens pudessem entrar na casa de chapéu; e as janelas gradeadas para prevenir a entrada de onças e outros animais selvagens.
Na capela, o altar é de madeira policromada, e o nicho do santo, de ouro. A imagem de santo Antônio é uma réplica da original, furtada há 40 anos. Mesmo sem iluminação ideal, as pinturas do teto chamam a atenção.
Além do interesse histórico, o lugar encanta pela beleza natural e pela atmosfera bucólica. Na frente da casa-grande e da capela, um vasto gramado em suave declive conduz a um lago freqüentado por patos, garças e passarinhos de cores variadas. Na margem oposta, refletido no lago, um belo bosque de mata atlântica.

Falta de infra
O turista, porém, precisa estar preparado para a falta de boas condições de visitação, evidente antes mesmo de chegar lá.
Para quem sai de São Paulo, o modo mais fácil de ir ao sítio, que fica aberto de terça a domingo, das 9h às 17h, é pela estrada Darcy Penteado, que sai da altura do quilômetro 56,5 da rodovia Raposo Tavares. Um pórtico marca o início da estrada. A partir daí, é preciso atenção -a primeira placa indicando o Sítio Santo Antônio surge após alguns minutos.
Ao chegar à entrada do sítio, a impressão é de abandono. Na pequena construção que deveria servir ao mesmo tempo de escritório e guarita, os vidros estão quebrados e não há funcionários nem folhetos explicativos.
Ao lado, no início da ladeira de terra de 200 m, um bambu faz as vezes de cancela. E o motorista deve ser cauteloso ao descer pela estradinha rumo à casa-grande, pois não faltam valas e buracos. Há quem prefira deixar o veículo no meio do caminho e descer a pé.
Ao concluir a descida, a dica é virar à direita e caminhar cerca de 50 m até a casa de Paulo Severino, 42, único funcionário do Iphan que toma conta do sítio. Ele tem as chaves da casa-grande e da capela e, com forte sotaque interiorano, conta a história do lugar.
Há 23 anos no posto, Severino lamenta as condições para o visitante e a escassez de turistas. Segundo ele, houve promessa de melhorias na estrada após a última restauração, mas nada foi feito. "E a idéia de um museu na casa-grande até hoje não saiu do papel." (MM)


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