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TRILHAS GERAIS
Parque natural encravado na serra do Espinhaço agrada a turistas ecológicos, religiosos ou simplesmente curiosos
Caraça conquista com suas muitas faces
DA ENVIADA ESPECIAL ÀS CIDADES HISTÓRICAS (MG)
As caras do Parque Natural do
Caraça são muitas. De dia, tem a
cara dos andejos que podem percorrer trilhas, visitar cascatas ou
escalar um dos picos do parque de
11 mil hectares. De noite, toma a
cara da curiosidade dos hóspedes
à espera do lobo-guará, que dá as
caras à noite e de madrugada. E, a
qualquer momento, assume a face histórica e religiosa incorporada no santuário do Caraça.
As únicas edificações da reserva
particular longe da "civilização"
estão em torno da igreja neogótica Nossa Senhora Mãe dos Homens -a primeira visão a arrebatar quem chega. O santuário está
no meio do nada, encravado na
serra e protegido por um rochedo, o Caraça (cara grande), que
lembra o rosto de um homem.
Longe dos dois municípios aos
quais pertence, Catas Altas e Santa Bárbara, a 15 km e 25 km respectivamente, o Caraça se sustenta pelo turismo ecológico, religioso e histórico e, hoje, hospeda em
208 leitos os visitantes que não temem o "isolamento".
Numa área de transição de mata
atlântica e cerrado, as caminhadas por uma das 14 trilhas ou até o
pico do Inficionado, a 2.069 m de
altitude, e o do Sol (2.072 m)
preenchem o dia. O parque tem
guias experientes e, como a sinalização não é boa, vale tê-los ao lado. Para grupos de até cinco pessoas, cobram-se R$ 50.
Durante os passeios encontram-se espécies endêmicas e raras que já cativaram os olhos do
naturalista francês Saint-Hilaire,
que em 1816 esteve lá.
"Começamos a ver, no meio de
rochedos, belíssimas plantas que
ainda não conhecíamos, entre outras, orquídeas de longas espigas
de flores de um rubro vermelhão,
e uma melastomácea arborescente, cujas folhas glaucas e muito
aproximadas se dispõem em quatro seres; e as flores, azuis", descreve no livro "Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas
Gerais". O Caraça tem 538 espécies catalogadas, e biólogos e estudantes fazem pesquisa de campo.
"A maioria vem atraída pela reserva, pela tranqüilidade, mas as
pessoas não deixam de ficar fascinadas pela arquitetura", diz Consuelo Paganini, coordenadora
ambiental do Caraça.
O complexo arquitetônico é admirável e, nos intervalos, entre
andadas e a chegada do lobo-guará (leia na pág. F6), o passeio fica
concentrado por ali mesmo.
Além de a visão externa da igreja erguida em 1774 pelo fundador
irmão Lourenço ser onipresente
naquele espaço em meio ao verde,
o interior tem peças ricas do marianense Manoel da Costa Athayde (1762-1837), que esteve por
cerca de um ano no Caraça, entre
1807 e 1808, para fazer o douramento e a pintura da capela de lá.
Há dois púlpitos na entrada feitos
por ele e um quadro seu doado
pelo próprio ao irmão Lourenço.
Ainda foi construído um colégio e seminário, por onde passaram mais de 10 mil estudantes e
que esteve na ativa de 1820 a 1968.
No colégio, inaugurado em 1821,
estudaram presidentes, como os
mineiros Afonso Pena (1906-1909) e Arthur Bernardes (1922-1926). A escola foi desativada em
1968 por causa de um incêndio
que a destruiu parcialmente.
Hoje, o espaço mantém sinais
do fogo e abriga um museu com
itens usados por estudantes do
Caraça. Estão expostas as camas
onde dormiram d. Pedro 2º e a
mulher, Teresa Cristina, quando
se hospedaram ali em 1891.
(MARGARETE MAGALHÃES)
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