São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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TRILHAS GERAIS

Parque natural encravado na serra do Espinhaço agrada a turistas ecológicos, religiosos ou simplesmente curiosos

Caraça conquista com suas muitas faces

DA ENVIADA ESPECIAL ÀS CIDADES HISTÓRICAS (MG)

As caras do Parque Natural do Caraça são muitas. De dia, tem a cara dos andejos que podem percorrer trilhas, visitar cascatas ou escalar um dos picos do parque de 11 mil hectares. De noite, toma a cara da curiosidade dos hóspedes à espera do lobo-guará, que dá as caras à noite e de madrugada. E, a qualquer momento, assume a face histórica e religiosa incorporada no santuário do Caraça.
As únicas edificações da reserva particular longe da "civilização" estão em torno da igreja neogótica Nossa Senhora Mãe dos Homens -a primeira visão a arrebatar quem chega. O santuário está no meio do nada, encravado na serra e protegido por um rochedo, o Caraça (cara grande), que lembra o rosto de um homem.
Longe dos dois municípios aos quais pertence, Catas Altas e Santa Bárbara, a 15 km e 25 km respectivamente, o Caraça se sustenta pelo turismo ecológico, religioso e histórico e, hoje, hospeda em 208 leitos os visitantes que não temem o "isolamento".
Numa área de transição de mata atlântica e cerrado, as caminhadas por uma das 14 trilhas ou até o pico do Inficionado, a 2.069 m de altitude, e o do Sol (2.072 m) preenchem o dia. O parque tem guias experientes e, como a sinalização não é boa, vale tê-los ao lado. Para grupos de até cinco pessoas, cobram-se R$ 50.
Durante os passeios encontram-se espécies endêmicas e raras que já cativaram os olhos do naturalista francês Saint-Hilaire, que em 1816 esteve lá.
"Começamos a ver, no meio de rochedos, belíssimas plantas que ainda não conhecíamos, entre outras, orquídeas de longas espigas de flores de um rubro vermelhão, e uma melastomácea arborescente, cujas folhas glaucas e muito aproximadas se dispõem em quatro seres; e as flores, azuis", descreve no livro "Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais". O Caraça tem 538 espécies catalogadas, e biólogos e estudantes fazem pesquisa de campo.
"A maioria vem atraída pela reserva, pela tranqüilidade, mas as pessoas não deixam de ficar fascinadas pela arquitetura", diz Consuelo Paganini, coordenadora ambiental do Caraça.
O complexo arquitetônico é admirável e, nos intervalos, entre andadas e a chegada do lobo-guará (leia na pág. F6), o passeio fica concentrado por ali mesmo.
Além de a visão externa da igreja erguida em 1774 pelo fundador irmão Lourenço ser onipresente naquele espaço em meio ao verde, o interior tem peças ricas do marianense Manoel da Costa Athayde (1762-1837), que esteve por cerca de um ano no Caraça, entre 1807 e 1808, para fazer o douramento e a pintura da capela de lá. Há dois púlpitos na entrada feitos por ele e um quadro seu doado pelo próprio ao irmão Lourenço.
Ainda foi construído um colégio e seminário, por onde passaram mais de 10 mil estudantes e que esteve na ativa de 1820 a 1968. No colégio, inaugurado em 1821, estudaram presidentes, como os mineiros Afonso Pena (1906-1909) e Arthur Bernardes (1922-1926). A escola foi desativada em 1968 por causa de um incêndio que a destruiu parcialmente.
Hoje, o espaço mantém sinais do fogo e abriga um museu com itens usados por estudantes do Caraça. Estão expostas as camas onde dormiram d. Pedro 2º e a mulher, Teresa Cristina, quando se hospedaram ali em 1891. (MARGARETE MAGALHÃES)


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