São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Canto da jubarte se intensifica na época de acasalamento

Sons são emitidos apenas pelos machos da espécie, que também é conhecida como baleia-cantora

Biólogo pioneiro no estudo dessas baleias aposta que cantoria serve para atrair fêmeas e repelir concorrentes

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA

Quem tem o privilégio de observar as jubartes na costa do Brasil -também frequentada pelas baleias-francas-austrais- infelizmente não tem como apreciar outro espetáculo: o canto desses bichos que, em inglês, são chamados de "humpbacks".
A comparação soa absurda, mas talvez o análogo mais próximo das gigantes entre a fauna terrestre brasileira sejam os sabiás.
Ou, pelo menos, outros pássaros canoros. Isso porque, ao que tudo indica, as canções das jubartes desempenham papel parecido com as das aves, numa espécie de duelo musical que talvez sirva para mostrar à "plateia" a habilidade do cantor.
"Cantor", no masculino, porque, conforme conta o biólogo americano Roger Payne, 75, pioneiro nos estudos sobre os bichos, apenas os machos entoam melodias.
"Sabemos que as canções repelem outras baleias. É como o canto das aves. Dois pássaros não ficam ali gorjeando alegremente um do lado do outro, eles estão brigando", explica Payne.

NA RETRANCA
No caso dos machos de jubarte, "parece que eles estão defendendo a água em torno de si, mas a água nem sempre é a mesma, pode ser essa baía aqui em certo dia, aquela outra área lá mais tarde".
Essa demonstração ritualística se intensifica durante o período de acasalamento.
Em vários casos, a canção cessa quando outro indivíduo se junta ao cantor e fica perto dele sem interações violentas -possível indício de que se trate de uma fêmea conquistada pela exibição. Por isso, Payne aposta que a música serve tanto para repelir outros machos quanto para atrair parceiras.
Os biólogos ainda tentam entender o uso que as baleias fazem de seu cérebro avantajado. Duas apostas são mais ou menos seguras. Primeiro, processar sons no ambiente subaquático exige excelente "computador de bordo". E a vida social complexa também demanda inteligência.
Seja como for, a complexidade das canções é tão característica que, nos anos 1970, o astrônomo Carl Sagan as incluiu no Disco de Ouro, registro de sons da Terra enviado Cosmos afora a bordo das naves não tripuladas Voyager. Essas naves já deixaram o Sistema Solar e carregam os sons da jubarte para, quiçá, um encontro com ETs daqui a milhares de anos.


Texto Anterior: Praia do Rosa acolhe ou agita os visitantes
Próximo Texto: Dicas ajudam a fotografar cetáceos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.