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Canto da jubarte se intensifica na época de acasalamento
Sons são emitidos apenas pelos machos da espécie, que também é conhecida como baleia-cantora
Biólogo pioneiro no estudo dessas baleias aposta que cantoria serve para atrair fêmeas e repelir concorrentes
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
Quem tem o privilégio de
observar as jubartes na costa
do Brasil -também frequentada pelas baleias-francas-austrais- infelizmente não
tem como apreciar outro espetáculo: o canto desses bichos que, em inglês, são chamados de "humpbacks".
A comparação soa absurda, mas talvez o análogo
mais próximo das gigantes
entre a fauna terrestre brasileira sejam os sabiás.
Ou, pelo menos, outros
pássaros canoros. Isso porque, ao que tudo indica, as
canções das jubartes desempenham papel parecido com
as das aves, numa espécie de
duelo musical que talvez sirva para mostrar à "plateia" a
habilidade do cantor.
"Cantor", no masculino,
porque, conforme conta o
biólogo americano Roger
Payne, 75, pioneiro nos estudos sobre os bichos, apenas
os machos entoam melodias.
"Sabemos que as canções
repelem outras baleias. É como o canto das aves. Dois
pássaros não ficam ali gorjeando alegremente um do
lado do outro, eles estão brigando", explica Payne.
NA RETRANCA
No caso dos machos de jubarte, "parece que eles estão
defendendo a água em torno
de si, mas a água nem sempre é a mesma, pode ser essa
baía aqui em certo dia, aquela outra área lá mais tarde".
Essa demonstração ritualística se intensifica durante
o período de acasalamento.
Em vários casos, a canção
cessa quando outro indivíduo se junta ao cantor e fica
perto dele sem interações
violentas -possível indício
de que se trate de uma fêmea
conquistada pela exibição.
Por isso, Payne aposta que a
música serve tanto para repelir outros machos quanto para atrair parceiras.
Os biólogos ainda tentam
entender o uso que as baleias
fazem de seu cérebro avantajado. Duas apostas são mais
ou menos seguras. Primeiro,
processar sons no ambiente
subaquático exige excelente
"computador de bordo". E a
vida social complexa também demanda inteligência.
Seja como for, a complexidade das canções é tão característica que, nos anos 1970,
o astrônomo Carl Sagan as
incluiu no Disco de Ouro, registro de sons da Terra enviado Cosmos afora a bordo das
naves não tripuladas Voyager. Essas naves já deixaram
o Sistema Solar e carregam
os sons da jubarte para, quiçá, um encontro com ETs daqui a milhares de anos.
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