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Gastronomia regional convida à gula, mas peregrino volta leve e sem culpa
DA ENVIADA ESPECIAL
Cada região cortada pelo caminho de Santiago de Compostela tem sua especialidade culinária, e se o peregrino se puser
a provar todas elas, corre o risco de voltar para casa com vários quilos a mais -ainda que
perdoado dos pecados.
Na verdade, muitos acabam
optando pelo "menu do peregrino", que oferece entrada,
prato principal, sobremesa e vinho da casa por preço acessível.
Em Astorga (Castela-Léon),
uma pedida é provar o famoso
"cocido maragato" (a Maragatería é uma região histórico-cultural da Província de León).
Ordem
Os maragatos, um povo viajador e empreendedor, percorriam toda a região ocidental e
central da Espanha vendendo
principalmente seus produtos
artesanais.
O cozido servia para alimentá-los em uma só refeição, seguindo uma ordem específica
para comer os alimentos mantida até hoje.
Primeiro vêm as carnes (pés
e orelhas de porco, cordeiro,
toucinho, chouriço, morcela,
frango e carne de vaca); em seguida, comem-se grão-de-bico
cozido com repolho, verduras e
batatas; para terminar, sopa de
macarrão, de pão ou de arroz.
A sobremesa típica costuma
ser a "natilla", um doce cremoso feito com ovos, açúcar e leite
e que se assemelha a um mingau de maisena, ou então os
"bizcochos maragatos".
Na tradicional Casa Maragata, o menu inteiro fica por
16,50 (R$ 45). Mas é preciso
estômago forte, porque é um
prato bastante pesado.
Na Província de Palência, que
faz parte da rota gastronômica
do caminho, o Mesón Villasirga, no vilarejo de mesmo nome,
serve a "cecina", uma espécie de
presunto de carne de vaca levemente defumado, queijo "manchego" (de cabra), sopa de pão
com presunto e cordeiro assado
em porções fartas. De sobremesa, "hojaldre" (mil-folhas) com
toucinho do céu. Só o preço é
salgado: 35 (R$ 96).
Mas recomenda-se abrir
mão do "licor do peregrino"
oferecido no fim da refeição,
uma bebida intragável feita
com café, maçã, "olujo" (um tipo de grapa) e açúcar.
Bacalhau
Esquisitices à parte, uma
iguaria bastante comum em várias regiões é o bacalhau -mas
não salgado, como costuma-se
comer no Brasil.
No prato típico do País Basco, bacalhau "al pil pil", por
exemplo, o peixe é totalmente
desalgado antes de ir à panela
de barro com azeite e alho, que,
no cozimento, forma um molho
branco gelatinoso. O curioso
nome "pil pil" vem do barulho
feito pelo peixe em contato
com o azeite quente.
A especialidade da região de
Navarra são os aspargos frescos
e as alcachofras. Outro prato típico é o "cordero en chilindrón", um guisado de cordeiro
com molho de tomate, pimentão e cebola.
Em Pamplona (Navarra) vale
experimentar a "horchata" natural (infusão feita com arroz,
amêndoas ou um tipo de noz
chamado "chufa", mais açúcar
e água) e o "limón granizado"
(uma espécie de raspadinha de
limão), muito refrescantes nos
dias quentes. Um bom lugar para fazer isso é no Café Iruña, na
plaza del Castillo, recomendado pelo guia "Routard" de 2005
e que era freqüentado pelo escritor norte-americano Ernest
Hemingway (1899-1961).
Na Galícia, as opções são o
"pulpo", uma torta galega recheada de bacalhau ou carne de
porco e, no verão, os "pimientos de Padrón" (pequenos pimentões verdes).
Mas não param por aí. Há
também as empanadas de bacalhau, calamares (lula) ou carne, as tortillas recheadas com
chouriço ou torresmo e as típicas caldeiradas de peixe com
"ajada" (molho de alho).
(CAROLINA VILA-NOVA)
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