São Paulo, Domingo, 04 de Abril de 1999
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NADA SE CRIA

Escritora afirma que Globo copiou história de seu livro

da Reportagem Local

A escritora curitibana Heloísa Hilário Kohler acusa a Rede Globo de plagiar um livro nunca publicado que ela escreveu em 1989, usando a história em sua nova trama das sete, "Andando nas Nuvens".
A petição foi entregue na 17ª vara cível do Rio de Janeiro e recebeu a apreciação da juíza Teresa de Andrade Castro Neves Nogueira, no dia 16 de março.
A Globo foi notificada e deve defender-se até a próxima sexta, dia 9. Se o processo for instaurado e a emissora perder, poderá ter que pagar à autora indenização de R$ 2 milhões.
O livro conta a história de um homem que se suicida e nasce novamente dentro da mesma família como o filho mais novo, resultado de segundo casamento de sua mulher.
Ele cresce como o filho mais jovem e sofre um acidente aos 18 anos. Quando acorda, descobre que, na verdade, passou um mês em coma e que seu renascimento foi um sonho.
A trama de Euclydes Marinho mostra um homem que sofre uma doença que o faz dormir por 18 anos. Quando acorda, o mundo ao seu redor mudou.
Como a novela está no ar em todo o Brasil, Kohler acha que não poderá mais publicar o seu livro porque será ela a acusada de plágio. "Quero que eles reconheçam que se inspiraram em minha obra", afirma.
A autora diz que ficou surpresa ao ver chamadas no início de janeiro sobre a nova trama da Globo. Para ela há diversas semelhanças entre a idéia básica de seu livro e a da novela escrita por Marinho.
Segundo Kohler, o livro, que se chama "O Lado Oculto", foi enviado à Globo no início de 1991 para que fosse avaliado por Mário Lúcio Vaz, atual diretor da Central Globo de Controle de Qualidade.
Meses depois, a autora conheceu o designer gráfico Hans Donner, responsável por diversas aberturas e vinhetas veiculadas na emissora. Naquele ano, ela promovia eventos e organizou uma palestra de Donner em Curitiba (PR).
Sem resposta da emissora, a autora entregou outra cópia ao designer, esperando que, com sua ajuda, recebesse mais atenção.
Donner teria contando à autora que, para Vaz, a trama poderia ser um especial de uma hora de duração. Kohler diz ter cópia desse memorando escrito por Vaz.
O próprio Donner, ainda segundo a escritora, lhe enviou a cópia via fax. Ele confirma a história, afirmando que conheceu Heloisa Kohler em 1991 e entregou o texto a Vaz.
"Na época, não era proibido -como é hoje- que pessoas de fora do setor de criação recebessem histórias", conta Donner.
O designer diz que não leu o texto, apenas o encaminhou. Foi ele quem, antes da escritora tentar processar a emissora, levou o caso à diretoria.
O departamento jurídico da Globo atesta que não vê semelhança entre as tramas. Marinho, o autor da novela, diz que a acusação de Kohler é absurda.
"Se eu fosse copiar a idéia dela, a primeira coisa que mudaria seria o período de 18 anos. As remotas semelhanças que possam existir são coincidências", conclui.
(ALEXANDRE MARON)



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