São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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TEM VAGA NA MTV

O sonho de ser VJ

CARLA MENEGHINI
DA REPORTAGEM LOCAL

"ACHO QUE tenho tudo para realizar meu sonho de ser apresentador da MTV; essa minha gagueira é meu diferencial, meu charme", diz -sem esconder o dito atropelo fônico- o analista de sistemas Eduardo Silva, 21, uma das cerca de 50 mil pessoas inscritas no concurso "Caça VJ", promovido pela emissora para contratar um novo apresentador. "O intuito não é escolher um bonitão ou uma bonitona, e sim uma pessoa normal, mas que tenha algo de especial", diz José Wilson, diretor de marketing da MTV e coordenador do projeto -que envolve a produção de vários programas-, orçado em R$ 15 milhões. Segundo ele, a média é de 3.000 inscrições por dia. Serão quatro etapas: avaliação de fichas de inscrição (no site www.mtv.com.br) até o fim de agosto, testes de vídeo em arenas espalhadas pelo país, em setembro e outubro, e, finalmente, os programas-testes com os cinco finalistas, que vão ao ar em dezembro. Também serão produzidos programetes, comandados por Thunderbird, com os testes nas arenas. "Nos "drops" queremos mostrar as piores e mais engraçadas performances", diz Wilson. A seleção será feita pela produção da emissora, não pelo voto do público, como era a idéia inicial. "Não queremos que confundam o "Caça VJ" com um "Big Brother" requentado. Não vamos correr o risco de colocar alguém do nível do Kléber Bambam como VJ", diz o coordenador do projeto. A única restrição imposta pela emissora é a idade mínima: 18 anos. "Até recebemos inscrições de alguns "coroas", mas, obviamente, a preferência é pelos jovens", afirma. Segundo a emissora, há um candidato de 46 anos, que, pelo visto, já está de fora. Segundo Wilson, a MTV ensaiava havia alguns anos fazer um concurso nacional para VJ. Em 1993, a emissora promoveu o concurso "Pega Pra Criar", restrito a algumas capitais e que lançou o professor de inglês Cazé Pecini como VJ. No ano passado, o canal realizou o quadro "VJ por Um Dia", parte do "MTV na Praia". "Era para ser uma brincadeira, mas muita gente achou que já estava contratada", conta.

Emprego
Ao final do processo, restará um único escolhido, que assinará contrato de um ano com a MTV, onde, inicialmente, apresentará um dos programas de clipes, como o "Uauá". "Fama, mulheres, dinheiro, autógrafos, tudo isso virá junto", brinca Wilson. E qual será o salário do VJ eleito? A emissora só revela que é equivalente ao de um médio executivo -entre R$ 5.000 e R$ 15 mil, segundo tabela. Mas os candidatos à vaga não parecem muito interessados no dinheiro. "Se der para a alimentação e o vale-transporte já está bom", afirma o publicitário Fernando Fuzzaro, 23. "Isso é um mero detalhe. Se eu pudesse, até pagava para apresentar o que gosto na MTV", diz a designer carioca Ghy Kurabayashi, 28, que considera-se uma "emitivimaníaca". "Se me oferecessem uma vaga na MTV para segurar os cabos, sem ganhar nada, eu ia na mesma hora", afirma a auxiliar administrativa Patrícia Aparecida, 26. "Nem acompanho muito a MTV porque não tenho TV a cabo, mas ser selecionada seria a chance de realizar o sonho que deixei para trás quando larguei a faculdade de jornalismo por não ter como pagá-la."

Celebridade
"Minha vida daria uma reviravolta: mudança de cidade, correria, assédio, autógrafos, posar nua e tudo mais o que vier", diz a candidata Ghy Kurabayashi.
"Imagina se me escolhem? Dá até um medinho...", diz a estilista Adriana Queiroz, 23, para quem ser VJ da MTV não seria um fim, mas um meio. "Eu poderia mostrar no ar minhas criações e deixaria de ser uma "zé ninguém'; surgiriam convites para outras TVs."
A gaúcha Lúcia Green, 20, que também se inscreveu no "Caça VJ", afirma que, se for escolhida, nunca deixará a MTV em troca de um canal aberto: "Não vou ficar de olho grande e cometer o erro do [Marcos" Mion, que se queimou, nem da Sabrina, que está muito forçada na Bandeirantes".
Mas não é só a MTV que mudaria a vida dessas pessoas; algumas delas também querem mudar a MTV. "Quando eu estiver lá dentro, vou tornar o canal mais justo com todas as regiões do Brasil; só São Paulo e Rio têm espaço na MTV", diz o soteropolitano Maurício Lopes, 23. Fã de reggae e "rastafari" assumido, ele reclama que "as bandas baianas só têm espaço no programa "Piores Clipes'".
O carioca Eduardo Silva conta as mudanças que faria na emissora: "Como sou muito engraçado, colocaria mais humor na programação e apresentaria um programa de debates para conscientizar a juventude; estando na MTV poderei mudar o mundo".



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