São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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MERCADO
Um dos criadores do modelo atual de televisão por assinatura no país propõe o uso de técnicas de varejo para conquistar novos assinantes
'TV paga precisa ser agressiva'

ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local

Aplicar técnicas agressivas de varejo, como vender raspadinhas ou carnês de sorteio. Essas são algumas das propostas do consultor Antonio Athayde para que o mercado brasileiro de TV paga saia do atual marasmo e atinja a classe C.
Athayde foi um dos principais executivos responsáveis pela implantação do sistema Net no Brasil. Trabalhou no setor entre 92 e 97, acompanhando toda sua evolução.
Ele não tem dúvidas de que os executivos do setor não conseguem achar soluções criativas para a crise. "O negócio de TV paga é um sucesso explosivo em todo o mundo. Se não é assim por aqui é porque algo está errado", analisa.
A TV paga no Brasil vive um momento de indefinição. As incertezas apareceram depois de o setor enfrentar um período de estagnação em 1998, agravado pela crise econômica deste ano e o subsequente aumento no preço das mensalidades.
Somadas as operações de TVA/DirecTV e Net/Sky, o mercado tem os mesmos 2,4 milhões de assinantes do início de 1998.
O único setor que conseguiu crescer no ano passado foi o mercado de miniparabólicas, disputado por DirecTV e Sky. Mas seu alvo era a classe A, menos afetada pelas crises.
Alguns investimentos foram adiados. A TVA pretendia implantar o MMDS (que usa antena de microondas) digital, aumentando a oferta de canais e possibilitando a comercialização de videogames pela TV. O projeto, porém, teve de ser abandonado por tempo indeterminado.
"O modelo de TV paga criado quando o crescimento do setor era vertiginoso fracassou. Não consegue lidar com os novos desafios", afirma Athayde, criticando a própria criação.
"O negócio precisa de ajuste, sim. Mas, na nossa visão, é preciso cortar custos, buscar publicidade e tentar oferecer o mesmo pacote por um preço menor em vez de tirar canais. O cliente quer o melhor", diz Antonio Barreto, diretor-geral da Net Brasil.
"A crise se torna uma oportunidade porque a empresa procura soluções que não prejudiquem o assinante", afirma Barreto. A operadora, no entanto, elevou seus preços em 11% e adiou a idéia de criar pacotes para a classe C.
Na visão de Luiz Eduardo Baptista, diretor de operações da TVA (que também reajustou os preços), para conquistar clientes é preciso oferecer menos canais por um preço mais baixo.
"O assinante sente que paga pelo que consome. Essa estratégia fez com que, em nossas estimativas, evitássemos a saída de 15 mil assinantes", afirma.
Segundo Baptista, assinaturas ao custo de R$ 60 são inviáveis para conquistar o grande público, levando o setor a atingir a meta inicial para 99: totalizar cerca de 4 milhões de assinantes no país.
A TVA pode implantar nos próximos meses um pacote com todos os canais abertos e quatro ou cinco pagos. Depois, o assinante poderia comprar grupos de canais de filmes, de esportes ou de séries.
Para Alberto Pecegueiro, diretor-geral da programadora Globosat, pacotes mais simples não são a solução. Os próprios assinantes não se interessam.
"A saída para baratear está na publicidade. Temos mais assinantes do que as três principais revistas semanais juntas, e todo o faturamento publicitário do setor não chega a R$ 70 milhões por ano, enquanto a revista líder fatura R$ 150 milhões", compara.
Athayde diz que suas propostas servem, principalmente, para os novos operadores que estão chegando a diversas cidade brasileiras. "Eu não tenho a solução, mas os novos operadores deviam prestar atenção ao que aconteceu com Net e TVA. Devem correr outros riscos, cometer novos erros e não os que eu cometi."


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