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RELIGIÃO
Católicos e evangélicos proporcionam 82 horas semanais de programas dedicados à fé; precárias, atrações atingem no máximo 2 pontos no Ibope
TV se transforma em templo eletrônico
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
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Missa de inauguração da Rede Vida, em 95 |
CLÁUDIA CROITOR
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
A TV BRASILEIRA conta hoje com
18 programas religiosos, além de
dois canais UHF quase inteiramente dedicados a esse tema (Rede Gospel e Rede
Vida). Da Igreja Adventista do Sétimo
Dia à poderosa Igreja Internacional da
Graça de Deus -que possui atrações na
Rede TV!, Gazeta, CNT e Bandeirantes,
inclusive no horário nobre-, é possível
assistir, em apenas uma semana, a mais
de 82 horas de missas, cultos, pregações,
exorcismos. Se não atingem um índice
significativo de audiência, não chegando
a ultrapassar picos de 2 pontos no Ibope
(cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo), esses programas pelo menos comprovam que a
TV se tornou, definitivamente, uma arma poderosa para as religiões.
"Jesus disse: "Ide por todo o mundo e
pregai o Evangelho". E falou a seus discípulos: "O que falo ao pé de seus ouvidos
vocês podem anunciar de cima dos telhados". Isso é profético, já que é no telhado que fica a antena de TV", afirma o publicitário e pastor Hideraldo Tagliarin,
apresentador do programa "Paz e Vida",
que há seis meses vem sendo exibido, às
8h30, aos domingos, pela Gazeta.
A atração é ligada à Comunidade Paz e
Vida, que, em apenas cinco anos de existência, já possui 103 igrejas na cidade de
São Paulo. "Temos de usar todos os
meios para propagar a paz do Evangelho", afirma o pastor.
Para a doutora em antropologia Regina
Novaes, que faz parte do Iser (Instituto
de Estudos da Religião), a presença de
programas religiosos na TV faz parte do
contexto da sociedade atual: "Vivemos
em uma sociedade midiática, de informação. Então, é muito natural que a religião use recursos da comunicação de
massa para se difundir".
Apesar de pertencerem às mais variadas religiões, esses programas têm diversos pontos em comum: precários, são
poucos os que apresentam alguma qualidade técnica. Além disso, quase sempre
são transmitidos em horários ingratos,
entre 5h e 8h -período mais barato para
locação nas emissoras.
Entre eles, há uma surpresa: o dominical "Fé para Hoje", da Igreja Adventista
do Sétimo Dia, que há 35 anos é exibido
na TV. Atualmente transmitida pela Gazeta, às 8h45, a atração tem 15 minutos de
duração e estreou em 25 de novembro de
1962, na extinta TV Tupi. Desde o início,
ela tem como diretor e "orador" o pastor
Alcides Campolongo, de 75 anos, que,
além das atividades ligadas à igreja, também ministra o curso "Como Parar de
Fumar em Cinco Dias".
"Resolvemos criar um programa de
TV para ajudar as famílias brasileiras.
Além dos ensinamentos, também fazemos edições especiais sobre o Dia das
Mães, Natal etc. E ensinamos as pessoas a
largar o vício do cigarro.", diz ele. "Acredito que a TV tem ajudado a nos aproximar das pessoas, pois recebemos em média 150 cartas e telefonemas", afirma o
pastor Campolongo, que, jura, tem uma
audiência de "mais de 250 mil pessoas".
Ibope, aliás, é uma palavra complicada
ao se falar dos programas religiosos: "Em
geral, eles atingem, no máximo, meio
ponto no Ibope, o que é considerado traço. O único que consegue um pouquinho
mais é o missionário R.R. Soares, que
tem um programa às 19h30 e marca picos de 2 pontos. Mas isso não importa
muito para eles, já que têm um público
bastante específico e fiel ao programa",
afirma Reginaldo Andrade, gerente de
marketing da Gazeta.
Andrade não revela quanto custa locar
um horário na Gazeta, mas, para ter uma
noção, 30 segundos na emissora valem
R$ 2.500. "Apesar de a locação de nossos
horários não estar dentro de nossa meta
como emissora, eles nos trazem, hoje,
um bom retorno financeiro, que vale a
pena", diz ele.
O gerente se refere, especificamente, à
Igreja Internacional da Graça de Deus,
que, além de ter um programa diário de
duas horas, o "Igreja da Graça", ainda
ocupa, de segunda a sexta, uma hora e 15
minutos da programação da emissora, a
partir das 19h30, com a atração "R.R.
Soares". A sigla significa Romildo Ribeiro Soares, nome do fundador da igreja,
que completou este ano duas décadas de
existência. Ex-integrante da Igreja Universal, o "missionário" Soares aparece
em atrações religiosas na TV desde 1977
e protagoniza boa parte do programa da
Gazeta. Enquanto fala a um templo lotado, vão aparecendo na tela endereços de
suas filiais, que, do Acre ao interior de
São Paulo, dão uma idéia de seu poder.
Igualmente poderosa, a Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo
bispo Edir Macedo, ocupa boa parte das
madrugadas e manhãs da programação
da Rede Record e da Rede Mulher, das
quais é proprietária.
"Mas, ao contrário do que muita gente
imagina, a programação religiosa é totalmente independente da emissora. Boa
parte dos programas é feita em estúdios
localizados fora da Record. Todo o conteúdo é decidido pelos bispos da igreja.
Apenas repassamos as fitas para a Record transmitir", explica o pastor Denir
Vieira, responsável pela produção de
programas como "Ponto de Fé", "Despertar da Fé" e "Palavra de Vida", que
vão ao ar diariamente na Record.
Apesar de mudarem de nome, os programas têm quase sempre o mesmo conteúdo: um pastor lê a "Bíblia", entrevista
pessoas que falam de sua conversão, faz
orações pelos telespectadores. "Não queremos necessariamente chamar as pessoas para fazer parte da Igreja Universal.
Queremos oferecer ajuda para quem
precisa", diz Vieira.
E não são apenas os evangélicos que
ocupam seu espaço na TV. Os católicos
também marcam forte presença, com
uma emissora quase totalmente dedicada a eles, a Rede Vida, fundada em parceria com a Igreja Católica há cinco anos e
que tem a maior parte de sua programação dedicada a transmissão de missas, de
rezas do terço etc..
"A televisão acaba cumprindo o papel
da igreja, muitas vezes. Se alguém não
pode ir à missa, se contenta assistindo à
TV", diz a antropóloga Regina Novaes.
João Monteiro, fundador da Rede Vida, confirma a tese. "Jamais transmitimos missas gravadas. As missas são sempre ao vivo, para o telespectador poder
participar."
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