São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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PERFIL / LARRY KING
Seu "talk show" é, há 15 anos, o principal programa de entrevistas da CNN. Aos 66 anos, Larry King é conhecido no mundo todo, mas não se incomoda muito. "É estranho ser abordado tanto nas ruas de Nairóbi como em Nova York, Paris ou Bancoc. Tento levar uma vida o mais normal possível, mas não é fácil. Acho bom ser uma celebridade... pelo menos assim consigo uma boa mesa nos restaurantes com mais facilidade!"
Apresentador quer entrevistar Deus e o papa

FRANCISCO MARTINS DA COSTA
Editor do TV Folha

Como é a sua preparação para uma entrevista? Em toda a minha vida, sempre fui muito curioso. Hoje entrevistei o rei da Jordânia. Em vez de perguntar-lhe sobre a situação política no Oriente Médio, a primeira coisa que eu quis saber foi: "Como é ser rei?". Eu não me preparo muito antes das entrevistas para acabar descobrindo coisas sobre as pessoas durante a conversa e ser surpreendido com isso. Não gosto de saber qual resposta meu interlocutor vai dar. Assim eu acho que fica mais interessante para os espectadores.

Como o sr. definiria seu estilo?
Considero-me um catalisador da comunicação entre o convidado e a audiência. Minha função é fazer boas perguntas e manter o show em movimento. Não estou lá para contar casos da minha vida. Evito falar de mim. Faço perguntas curtas e deixo o convidado falar. Não quero aparecer, mas fazer com que o convidado se abra e se comunique, mantendo o interesse de quem nos vê.

Quem teve a idéia de levar o seu programa do rádio para a TV?
Eu comecei em Miami, numa rádio, em 1957. Em 1960 estreei na TV. O programa era basicamente o mesmo. Outras emissoras foram se interessando pelo meu "talk show" na TV, e, em 1978, eu me mudei para Washington para começar um programa em rede nacional, na ABC. Continuei fazendo também o programa no rádio, e ele era transmitido por mais de 400 estações por todo o país, da meia-noite às 5h. Um dia, Ted Turner participou de meu show e, depois do final da entrevista, me convidou para trabalhar na CNN, que estava completando cinco anos. Nós não tínhamos plena certeza de que daria certo -eu nem conhecia a CNN (não tinha TV a cabo), e Ted estava arriscando bastante ao apostar em mim. Fizemos um contrato de um ano sem multas caso alguma das partes resolvesse sair fora. Ainda bem que deu certo!
Mas, respondendo à pergunta, a idéia foi toda do Ted (Turner). Considero-o um grande gênio e o maior homem de mídia do século 20, arrojado e criativo.

Qual a melhor entrevista que o sr. já fez?
Quando conversei com Frank Sinatra foi com certeza uma das melhores. Ele sempre fugia de entrevistas, mas no dia em que veio aqui estava muito falante, rendeu um ótimo programa.
Marlon Brando também rendeu um excelente material. Ele também odeia entrevistas, mas recebeu-me em sua casa, deu respostas polêmicas, serviu champanhe à minha equipe e, ao final, me deu um beijo na boca. Não conseguia parar de pensar nele depois disso... (risos)

Qual a pior entrevista que já foi ao ar em seu programa?
Tive muitas dificuldades com Robert Mitchum, o ator. Todas suas respostas eram monossilábicas. Perguntei sobre o estilo de um determinado diretor, mas a resposta foi lacônica: "Se você conhece um, conhece todos", disse ele.
Aí comecei a fazer perguntas começando com "por que" para forçá-lo a dar respostas mais elaboradas. Não adiantou...

O que fazer numa hora dessas?
Às vezes recorro a alguns truques. Uma vez recebi um veterano de guerra que havia sido baleado 12 vezes e poderia render uma boa entrevista. No início ele não falava nada, estava muito tímido. Aí eu mudei totalmente o assunto. Começamos a falar sobre o medo. O cara foi se abrindo, e aí eu senti ter criado um monstro. Ele começou a lembrar momentos terríveis do campo de batalha e, exaltado, falava "dos morteiros flamejantes cruzando o céu púrpura como gigantes bolas de fogo enquanto o companheiro se esvaía em sangue, mas ainda assim combatia com muita dignidade e com a bravura de um leão". Foi difícil controlá-lo, mas rendeu um bom papo.

Quem o sr. gostaria de entrevistar, mas nunca conseguiu levar ao seu programa?
O papa João Paulo 2º. Considero-o uma figura fascinante. Já o convidamos várias vezes, mas a resposta mais animadora foi um lacônico "talvez".
Gostaria também de entrevistar Deus. Perguntaria a ele: "Você tem um filho?". Se ele dissesse que não... (risos).

Se o sr. fosse entrevistar Larry King, que pergunta faria a ele?
Acho que eu falaria sobre sua falta de fé. Não sou judeu, nem católico, nem mesmo religioso. Sou muito cético, mas estou começando a me perguntar sobre muitas coisas, apesar de continuar não acreditando nas respostas. Sei que vou morrer e estou ficando preocupado. Queria ter mais fé. Queria entender o milagre da vida, saber de onde viemos...

É uma longa história...
Quando ficamos mais velhos, ela não é tão longa... (risos).



BLITZ
Nome: Larry King
Nascido em: 19 de novembro de 1933
Família: sete casamentos e quatro filhos
Grau de instrução: segundo grau completo
Atividade fora da TV: Presidente da Larry King Cardiac Foundation, que financia tratamento cardíaco a pessoas carentes




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