FÁTIMA GIGLIOTTI
DA REDAÇÃO

O GRANDE Stanley Kubrick, um dos maiores cineastas do século, morreu em 7 de março de 1999, quatro dias depois de ter entregue aos executivos da Warner a primeira cópia do filme "De Olhos Bem Fechados" -adaptado do romance "Traumnovelle", publicado pelo austríaco Arthur Schnitzler em 1926- e meses antes de seu lançamento.
De produção mais recente -como a imprensa especializada costuma se referir ao lançamento de novos filmes de cineastas consagrados- de Kubrick, "De Olhos Bem Fechados" tornou-se o último filme do diretor, sem, no entanto -afirmam alguns-, ser o portador do seu legado ou do seu testamento cinematográfico. Motivos não faltariam para tal. Mas bastaria apenas um -Kubrick não teve tempo para elaborar seu meticuloso trabalho de montagem, marca registrada de toda sua obra. Entretanto -afirmam outros-, na transposição do tempo do livro, da Viena na virada do século 20 para a Nova York atual, o cineasta teria feito seu ensaio fílmico sobre o amor no final do século 20. Como havia feito, por exemplo, sobre a Guerra do Vietnã, em "Nascido para Matar" (1987), ou sobre a Guerra Fria, em "Dr. Fantástico" (1964). Com o lançamento do filme em VHS e DVD, é possível ver ou rever "De Olhos Bem Fechados" e tirar a sua própria conclusão. O tempo do filme é preciso: 72 horas. Entre a primeira e a última hora, Bill e Alice -os badalados Tom Cruise e Nicole Kidman- vão do céu ao inferno de seu casamento e de sua relação amorosa. O pavio da discórdia é aceso em uma festa na alta roda de Nova York, na qual os dois ouvem o chamado da traição. Mas a bomba estoura mesmo quando ela confessa que se sentiu seduzida por um homem durante as últimas férias. Abalado em sua vidinha confortável, luxuosa e segura, Bill sai pelas ruas da cidade em busca de si mesmo, de suas fantasias, de seu lugar no amor. Sua viagem interior é a viagem de Kubrick pelas máscaras da emoção. Com -sobre isso todos concordam- a genialidade narrativa e plástica de sempre.