São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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RAPIDINHAS
Programa "Eurocurtas" mostra ao longo do mês algumas produções selecionadas entre as exibidas no Festival de Clermont-Ferrand; destaque da semana é o belga "O Natal Negro", de Pieter van Hess
Euro abre espaço à ousadia e à criatividade dos curtas

CECÍLIA SAYAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

O CURTA-METRAGEM é um formato de filme que suscita questões interessantes. Apesar de ter uma produção abundante, suas possibilidades de exibição em telas de cinema, no Brasil e no mundo, são restritas a festivais e a poucas salas que os projetam antes de longas-metragens, como aperitivos.
A televisão, no entanto, tem se apresentado como um meio a mais para a divulgação de curtas, com programas especializados, como o "Eurocurtas", no Eurochannel, que mostrará todos os sábados do mês de maio os filmes exibidos no 22º Festival de Clermont-Ferrand (França), um dos mais importantes eventos dedicados ao formato. O canal promete exibir até o final do ano as principais produções do festival.
Ainda que programas como o "Eurocurtas" apontem uma saída para o confinamento desse tipo de filme a festivais ou salas isoladas, o fato de estarem à margem do circuito comercial abre para os curtas um maior espaço para experimentações. Por não ter compromisso com a bilheteria, o diretor possui, em tese, mais liberdade para ousar seja na forma, seja no conteúdo. Mas nem todos o fazem.
A curta duração das produções implica também algumas características comuns ao formato. Sem poder contar com muito tempo para envolver o espectador com seus personagens e suas tramas, o curta acaba tendo de apostar no humor, no impacto e na surpresa, não apenas para prender a atenção do público, mas para fixar-se em sua mente. Afinal, é muitas vezes o cartão de visitas de jovens cineastas.

Programação internacional
A programação do Eurochannel neste mês de maio traz produções da Bélgica ("O Natal Negro"), França ("Duelo", "Homenagem a Alfred Lepetit" e "O Fetichista") e Irlanda ("Em Memória"), todas de 1999.
"O Natal Negro", de Pieter van Hess, é o melhor exemplo de aposta no impacto. Um Papai Noel negro tem sua filha literalmente devorada por um policial canibal. O filme concentra sua força na violência de suas imagens (a menina sai de dentro da barriga do oficial) e de sua simbologia (Deus conduz a vida das pessoas por meio de um joguinho eletrônico).
Entre os representantes da França, dois utilizam o próprio cinema como assunto. "Duelo" (de Jean-Loup Hubert), por exemplo, apresenta um jovem casal que registra suas verdades individuais com uma câmera de vídeo.
Já o divertido "Homenagem a Alfred Lepetit" (Jean Rousselot) aborda o cinema não como linguagem, mas como processo. O filme se constitui numa carinhosa e muito bem-humorada lembrança da figura do estagiário numa equipe de filmagem, aquele que cuida do café da estrela, da lâmpada que queimou, do cigarro do diretor.
O curta exibe depoimentos de personalidades como o cineasta Roman Polanski e os atores Jean-Claude Brialy e Charlotte Rampling elogiando o ficcional Lepetit por seu trabalho e dedicação.
Polanski chega a dizer que um de seus projetos, que supostamente teria naufragado por um problema com o ator principal, John Travolta, na verdade foi deixado de lado porque o tal Lepetit não pôde integrar sua equipe em determinada época.
Mas nem todos os curtas aproveitam as condições favoráveis citadas acima para investir em originalidade. Bem menos surpreendentes, "Em Memória" (Audrey O'Reilly) e "O Fetichista" (Nicolas Klein) abordam dois tipos de amor opostos, mas bastantes estereotipados: o amor eterno e o amor fetichista.
"Em Memória" faz a ode ao amor que dura mais do que a vida. No dia do enterro do marido, uma senhora amarra às mãos deste uma fita para manter-se eternamente ligada a ele.
"O Fetichista", por sua vez, não economiza clichês para mostrar as conquistas de um vendedor de sapatos fascinado por pés que leva à loucura todas as clientes da loja em que trabalha.


EUROCURTAS
"O Natal Negro" e "Duelo", dia 16, à 0h30, dia 18, às 20h30, e dia 20, às 13h; "Em Memória" e "Homenagem a Alfred Lepetit", dia 20, às 18h30; "O Fetichista", dia 27, às 18h30




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