São Paulo, domingo, 15 de julho de 2001

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HUMOR

Pitbicha é sucesso polêmico

DA REPORTAGEM LOCAL

"EU SOU um Gracie. Grace Kelly." "Sou homem com h, mano. H de homossexual." Com esses bordões, Pitbicha, vivido por Tom Cavalcante, ganha espaço e gera polêmica.
O personagem lembra os músicos/dançarinos do Village People e é um "herói" que leva para casa os rapazes em perigo que ajuda.
Criado para fazer parte do extinto "Megatom", na Globo, o personagem agora tem quadro fixo no "Zorra Total", sábado à noite.
Quando ocupa sozinho um bloco do humorístico, "levanta" a audiência. Na edição de 30/6 do "Zorra", Pitbicha recebeu do bloco anterior audiência de 24 pontos no Ibope, mas terminou sua aparição com 30.
No sábado 7/7, conseguiu resultado mais modesto, ampliando em um ponto o ibope (de 33 para 34). Mas, nesse dia, o quadro foi ao ar na segunda metade de um bloco.
Fora da TV, já está pronto o roteiro de "As aventuras de Pitbicha", sua estréia no cinema.
O personagem ainda "apareceu" na quinta parada gay de São Paulo, no dia 17/6, quando alguns manifestantes foram para a avenida Paulista vestidos como ele.
Entretanto, isso não significa unanimidade. "É lamentável. Imagino que quem estava fantasiado incorpora o preconceito, porque o personagem é preconceituoso", afirma André Fischer, 36, colunista da Folha e diretor do MiX Brasil, festival de cinema GLS. Para Fischer, Pitbicha ressalta um estereótipo gerador de violência. "Essa coisa de ele só pensar em homem, de chegar agarrando, alimenta o medo que certos heterossexuais têm de ser "atacados" por gays."
Opinião semelhante tem o antropólogo e presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, 55. "Esse tipo de personagem instiga a homofobia, faz do gay motivo de riso", diz.
Já para o cabeleireiro Beto Brunelli, 32, a situação é oposta. "O personagem mostra que nós, gays, antes de tudo, somos homens. Há muito homossexual que é como ele, briguento, e é melhor não mexer," diz.
Outro homossexual que não enxerga tanto problema no Pitbicha é Carlos (nome fictício), 23, jornalista. Ele diz que o humor na TV sempre tende para a ridicularização do estereótipo e cita um "clássico". "Em "Os Trapalhões", Mussum era o negro bêbado, Zacharias, o homossexual enrustido, Dedé, o vagabundo, e Didi, o nordestino atrapalhado. E eu cresci rindo deles."
Fernando (nome fictício), 40, médico, afirma que criticar Pitbicha é "extremismo". "Trabalho em um hospital, lido com todo tipo de pessoas, e a maioria delas acha o Pitbicha divertido, e só."
Para a Globo, o personagem é inofensivo. "O Pitbicha é assunto recorrente na Folha. Recentemente fomos procurados para falar sobre o referido quadro. Na ocasião, a tese era de que ele fazia a apologia do homossexualismo. Agora sustentam que é ofensivo. Essa contradição é saudável, porque, mesmo sendo um quadro de humor sem intuito algum a não ser o de divertir, revela o preconceito que existe com relação ao tema", diz Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. (RODRIGO DIONISIO)



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