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HUMOR
Pitbicha é sucesso polêmico
DA REPORTAGEM LOCAL
"EU SOU um Gracie. Grace
Kelly." "Sou homem com
h, mano. H de homossexual." Com
esses bordões, Pitbicha, vivido por
Tom Cavalcante, ganha espaço e gera polêmica.
O personagem lembra os músicos/dançarinos do Village People e
é um "herói" que leva para casa os
rapazes em perigo que ajuda.
Criado para fazer parte do extinto
"Megatom", na Globo, o personagem agora tem quadro fixo no
"Zorra Total", sábado à noite.
Quando ocupa sozinho um bloco
do humorístico, "levanta" a audiência. Na edição de 30/6 do "Zorra",
Pitbicha recebeu do bloco anterior
audiência de 24 pontos no Ibope,
mas terminou sua aparição com 30.
No sábado 7/7, conseguiu resultado mais modesto, ampliando em
um ponto o ibope (de 33 para 34).
Mas, nesse dia, o quadro foi ao ar na
segunda metade de um bloco.
Fora da TV, já está pronto o roteiro de "As aventuras de Pitbicha",
sua estréia no cinema.
O personagem ainda "apareceu"
na quinta parada gay de São Paulo,
no dia 17/6, quando alguns manifestantes foram para a avenida Paulista
vestidos como ele.
Entretanto, isso não significa unanimidade. "É lamentável. Imagino
que quem estava fantasiado incorpora o preconceito, porque o personagem é preconceituoso", afirma
André Fischer, 36, colunista da Folha e diretor do MiX Brasil, festival
de cinema GLS. Para Fischer, Pitbicha ressalta um estereótipo gerador
de violência. "Essa coisa de ele só
pensar em homem, de chegar agarrando, alimenta o medo que certos
heterossexuais têm de ser "atacados"
por gays."
Opinião semelhante tem o antropólogo e presidente do Grupo Gay
da Bahia, Luiz Mott, 55. "Esse tipo
de personagem instiga a homofobia, faz do gay motivo de riso", diz.
Já para o cabeleireiro Beto Brunelli, 32, a situação é oposta. "O personagem mostra que nós, gays, antes
de tudo, somos homens. Há muito
homossexual que é como ele, briguento, e é melhor não mexer," diz.
Outro homossexual que não enxerga tanto problema no Pitbicha é
Carlos (nome fictício), 23, jornalista. Ele diz que o humor na TV sempre tende para a ridicularização do
estereótipo e cita um "clássico".
"Em "Os Trapalhões", Mussum era o
negro bêbado, Zacharias, o homossexual enrustido, Dedé, o vagabundo, e Didi, o nordestino atrapalhado. E eu cresci rindo deles."
Fernando (nome fictício), 40, médico, afirma que criticar Pitbicha é
"extremismo". "Trabalho em um
hospital, lido com todo tipo de pessoas, e a maioria delas acha o Pitbicha divertido, e só."
Para a Globo, o personagem é inofensivo. "O Pitbicha é assunto recorrente na Folha. Recentemente
fomos procurados para falar sobre
o referido quadro. Na ocasião, a tese
era de que ele fazia a apologia do homossexualismo. Agora sustentam
que é ofensivo. Essa contradição é
saudável, porque, mesmo sendo
um quadro de humor sem intuito
algum a não ser o de divertir, revela
o preconceito que existe com relação ao tema", diz Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação.
(RODRIGO DIONISIO)
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