São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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TV NA BERLINDA

Lançamento da 4ª Cúpula Mundial acontece amanhã, no Rio, com a presença de 70 delegados de várias partes do planeta

Começa discussão sobre mídia para criança e jovem

MARCELO BORTOLOTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

VIOLÊNCIA, consumismo, erotização precoce, incentivo ao consumo de álcool e tabaco. Esses deverão ser alguns dos temas debatidos na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, que acontecerá na cidade em 2004 e será lançada oficialmente amanhã, no Rio de Janeiro.
Realizada a cada três anos, a cúpula é uma iniciativa da World Summit on Midia for Children Foundation e, pela primeira vez, terá sede na América Latina. Durante toda esta semana, 70 delegados mundiais estarão reunidos no Rio para discutir as diretrizes do evento, que terá a programação televisiva no centro de suas atenções. Para Claudio Ceccon, do Centro Brasileiro de Mídia para Criança, parceiro da Cúpula, o objetivo não é instituir censura, mas zelar para que os produtores de mídia infantil estejam cientes de que seu espectador é um indivíduo ainda em formação. Ele afirma que as últimas cúpulas produziram documentos que influenciaram legislações nacionais e são aceitos internacionalmente. "Ninguém é abertamente contra algo que fale em qualidade e que se dirija à criança e ao adolescente. É que nem sempre a qualidade é clara para todos", afirma. Regina Assis, presidente da Empresa Municipal de Multimeios, do Rio, outra das organizadoras do encontro, diz que será uma oportunidade de reavaliar o resultado das últimas cúpulas sob o ponto de vista de países em desenvolvimento. "Queremos criar uma rede interamericana de pesquisadores que possa ter voz e voto nas decisões que digam respeito à produção de mídia para criança e adolescente", afirma. Segundo Regina Assis, a produção infantil no Brasil ainda é mínima para o consumo do país e deveria ser vista, trocada e co-produzida com outras partes do mundo. "Há programas infantis que têm só dez minutos de gracinha; o resto é tudo enlatado. Não precisamos que os americanos ou europeus nos representem", afirma.

Agressividade
O representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, acredita que o elemento mais preocupante hoje na TV é a exacerbação da violência, que tem um impacto muito negativo sobre crianças e jovens.
Segundo ele, os mais afetados por esse bombardeio são aqueles que possuem estruturas familiares fracas. "Muitas crianças e adolescentes no Brasil são praticamente excluídos de alternativas culturais ou de lazer, o único veículo que têm é a TV. Em outros países, elas ficam menos tempo diante da televisão", afirma.
Para Werthein, o controle de conteúdo também é mais eficaz em países desenvolvidos, onde os produtores seguem um código de ética, o que não tem funcionado para a América Latina.
Regina Assis cita como exemplo o crime do Brooklin, em que o casal Richthofen teria sido assassinado a mando da filha. "Aquele crime não foi praticado por uma pessoa despreparada, mas por alguém que assistiu a muitas horas de televisão desde pequena. É esta visão de estar acima do bem e do mal que a mídia veicula. Programas onde vale tudo, onde as pessoas ficam famosas da noite para o dia, passam essa imagem de impunidade", diz.
Segundo ela, os crimes praticados por crianças e adolescentes nos EUA e na Inglaterra também não são gratuitos. "Eles foram praticados por pessoas que aprenderam isso e que tiveram uma babá eletrônica poderosa desde pequenas", completa.


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