FERNANDA DANNEMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

QUANDO disseram, do outro lado da linha, que se tratava de um convite para trabalhar na novela de Benedito Ruy Barbosa, a atriz Araci Esteves, 63, logo pensou em trote. "Só comecei a achar que era real depois do terceiro telefonema", diz a intérprete de Constança em "Esperança".
Com 40 anos de teatro, ela nunca havia feito novela. Sua única experiência televisiva acontecera na série "Os Farrapos", produção da RBS veiculada no Rio Grande do Sul em 2000, na qual contracenou com Marcos Palmeira.
"Nunca tive interesse em atuar numa novela. Construí minha vida lá no finzinho do Brasil", afirma a atriz, que mora em Porto Alegre. "Novela estava fora de cogitação! Sem eu correr atrás, como aconteceria? Papai Noel ia cair de pára-quedas me chamando?".
Foi mais ou menos o que aconteceu, quando o diretor Luiz Fernando Carvalho a viu no papel principal do filme "Anahy de Las Misiones", de Sérgio Silva. Aceito o convite, Araci nem fez teste para interpretar a italiana casada com Vicenzo, vivido por Othon Bastos.
"Cheguei à Globo receosa de que o trabalho fosse massificante, com medo de não me adaptar. Mas descobri que é muito legal fazer TV. Não me sinto um peixe fora d'água", afirma ela.
Sem nunca ter acompanhado uma novela do começo ao fim, por causa do trabalho em teatro, Araci ainda se assusta com a exposição: "Sou tímida e não me sinto à vontade quando penso que sou vista por milhões de pessoas".
Devido ao penteado e à maquiagem usados em cena, a atriz não costuma ser reconhecida nas ruas. "As pessoas olham uma, duas vezes, e então perguntam: "Você não é a atriz que faz a novela?". A personagem carrega um peso que eu não tenho, mas todas as mulheres têm um pouco de Constança, que é forte, mas não deixa de ser afetiva", diz.
Apesar de ter trocado a casa com horta e jardim em Porto Alegre por um apart-hotel no Rio, Araci diz que quase nada se modificou. "Minha cabeça já está muito velha pra mudar. Gostaria de fazer TV, mas não de colar uma novela na outra. Nessa altura da vida, já não penso mais em carreira, só em prazer. O que eu tinha de fazer para ser reconhecida, já fiz. Se ninguém viu, azar o meu", brinca ela.


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