TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"BUENA VISTA Social Club" é uma tenda dos milagres. Sim, antes de tudo, o milagre de seus personagens, músicos cubanos esquecidos que vieram, por força das circunstâncias, a conquistar, já muito velhos, a consagração internacional. Milagre também de um filme pequeno, documentário relativamente modesto e ortodoxo, que se tornou um tremendo sucesso comercial, conquistando a crítica e o público do mundo inteiro. O maior milagre operado por "Buena Vista Social Club", no entanto, talvez tenha sido mesmo o de recuperar a carreira de Wim Wenders. Um tanto perdido, sem inspiração e parecendo decidido a banalizar a própria filmografia, Wenders só fizera "movimentos em falso" nestes anos 90, antes de retomar, aqui, o prestígio e a auto-estima, com dez prêmios internacionais. Bem, o caso é que ainda teremos que esperar um próximo filme para saudarmos um "Wenders de volta à velha forma". Seus méritos por aqui são escassos: inúmeros e repetitivos "travellings" circulares em steadycam e uma finalização caprichada, fiel à coloração da imagem digital. De resto, Wenders faz o básico do básico. O grande mérito do projeto, inevitável dizê-lo, é do músico e produtor Ry Cooder. Ele não só reuniu e relançou os músicos cubanos, como também concebeu e produziu, com o dinheiro do sucesso do disco, o documentário. Inútil louvar seus esforços, no entanto. Cooder, com suas camisas tropicais, é tão estrangeiro e aproveitador quanto Wenders, apesar de toda sua "solidariedade musical" (aquela mesma de Paul Simon). "Buena Vista Social Club" aparenta ser um filme de boa consciência, mas seu saudosismo corresponde, como evidencia o esforço de memória de seus personagens e a estrutura narrativa de Wenders, estritamente à época em que Cuba era o mais musical dos cassinos/bordéis americanos. Época em que o tal Social Club podia até mesmo ser considerado como uma espécie de filial do Carnegie Hall.

BUENA VISTA SOCIAL CLUB
Europa
   
(Buena Vista Social Club). Alemanha/EUA/Itália/ Cuba, 1999. Direção: Wim Wenders. 101 minutos. Documentário.