São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 1998.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ninguém me tira do ar!


Atores são escalados sucessivamente para novelas na Globo e naManchete; Fernanda Rodrigues pulou de "Zazá" para "CorpoDourado", emendando um trabalho no outro na faixa das 19h


ELAINE GUERINI
da Reportagem Local

Com dificuldades na escalação de atores para suas novelas, a Rede Globo já submete alguns de seus profissionais contratados à superexposição.
O caso mais recente é o de Fernanda Rodrigues, 18, que interpretava a personagem Valéria em "Zazá" e foi recrutada para o elenco de "Corpo Dourado", engatando um trabalho atrás no outro na faixa das 19h.
Uma das justificativas para a escalação sucessiva de Fernanda seria a atual crise no banco de atores da emissora. Apesar de seus 300 membros contratados, a Globo enfrenta dificuldades para convencê-los a aceitar papéis em novelas.
Dos que estão disponíveis, muitos preferem atuar em minisséries e especiais, enquanto outros já estão comprometidos com produções cinematográficas ou excursionando com espetáculos teatrais pelo Brasil.
"Foi um sufoco. Levamos três meses para conseguir fechar o elenco de "Corpo Dourado'. Não queríamos reutilizar Fernanda no horário, mas não conseguimos outra atriz que tivesse o perfil da personagem Lígia", diz Antonio Calmon, 52, autor da novela.
Paulo Ubiratan, diretor do núcleo responsável por ""Corpo Dourado", teve de pedir a liberação da atriz a Jorge Fernando, diretor de "Zazá". A solução encontrada foi tirar a personagem da trama antes da hora -ela foi mandada para São Paulo, onde supostamente teria se casado.
Com o novo papel, Fernanda vai completar quatro anos consecutivos no ar. Depois de "A Viagem", em que ela curiosamente encarnava a filha de Lucinha Lins -situação que se repete em "Corpo Dourado"-, a atriz integrou o elenco de "Malhação" por dois anos e, na sequência, entrou na trama de "Zazá".
"Tive sorte em fazer personagens diferentes. Do contrário, poderia ter ficado rotulada em um determinado tipo de papel", afirma a atriz, que admite sua preocupação com o desgaste de imagem. "Depois de "Corpo Dourado', vou descansar e dar um descanso ao público."
Outro ator que está interpretando um personagem atrás do outro no vídeo é Victor Wagner, 38, da Manchete. Desde sua estréia na TV, na novela "Tocaia Grande" (1995), o ator foi escalado para protagonizar as tramas de "Xica da Silva" e, depois, de "Mandacaru", atualmente no ar.
"Como a audiência da Manchete é menor, não acredito estar correndo o risco de superexposição. Além disso, a emissora não tem um banco de atores tão grande quanto o da Globo para se dar ao luxo de renovar o elenco constantemente", diz o ator, que ainda pode ser visto no filme "Bocage - O Triunfo do Amor" (em cartaz em São Paulo).
A parceira de Victor Wagner em "Xica", Taís Araújo, 19, também não parou mais de trabalhar desde "Tocaia Grande". Depois da estréia, ela foi convidada para encarnar a protagonista escrava na trama produzida pela Manchete e, agora, vive a maquiadora Vivian em "Anjo Mau", na Globo.
"Como ainda estou começando minha carreira, preciso exercitar e não vejo problema em fazer um papel atrás do outro. No meu caso, a situação não é tão grave porque acabei mudando de emissora e de horário."
Há ainda os casos de atores que trabalham em duas produções na mesma emissora -levando-se em conta o elenco da sessão "Vale a Pena Ver de Novo", apresentada no período da tarde na Globo.
Atualmente, a reprise de "Fera Ferida" submete Suzana Vieira e Marcos Winter, entre outros atores, a uma dupla exposição. "Eu levo vantagem porque mudo radicalmente na composição de meus personagens, a começar pelo visual", diz Suzana Vieira. Em "Fera Ferida", a atriz vive Rubra Rosa ("um papel surreal") e, em "Por Amor", encarna Branca ("que não poderia ser mais realista").
Marcos Winter vive atualmente um mau caráter à tarde e um yuppie à noite. "Não me preocupo com o desgaste de imagem porque o público é diferente", diz o ator, que deve continuar em dose dupla na emissora -a provável sucessora de "Fera Ferida" no horário é "Felicidade", em que ele também atua.
Segundo a empresária Níssia Garcia, 41, que agencia nomes como Ana Paula Arósio, Cássio Gabus Mendes e Murilo Benício, o ator precisa de um intervalo de três a quatro meses entre um trabalho e outro.
"Nesse período, ele pode se dedicar ao teatro e ao cinema. Agora, caso ele seja escalado sucessivamente na TV, deve se certificar de que os personagens são mesmo diferentes. Do contrário, isso pode comprometer sua imagem."
Com o crescimento do mercado de teledramaturgia em São Paulo -principalmente com a criação de núcleos na Bandeirantes e na Record- ainda existe o risco de um ator estar no ar em mais de uma emissora. Isso porque a maioria dos contratos são por trabalho (o que não garante exclusividade) e o número de atores que vivem em São Paulo é menor.
"Como o SBT tem duas novelas prontas ("Pérola Negra" e "Direito de Nascer"), vamos tomar cuidado para não repetir os atores na nossa produção", conta Fernando Rancoleta, 30, produtor de elenco da Bandeirantes, referindo-se à novela "Serras Azuis", que começa a ser gravada em março. "A superexposição não é boa para ninguém."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.