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CRÍTICA
Quem quer ser como Silvio Santos?
Francisco Martins da Costa
PARA Silvio Santos, os Estados Unidos são o melhor lugar do mundo e, para trazer um pouquinho desse "paraíso" às suas colegas de trabalho,
o homem do baú está transformando sua emissora numa réplica tupiniquim de uma rede norte-americana -com tudo que isso significa de bom e de ruim.
O empresário acabou de fechar um acordo de centenas
de milhões de dólares para ter o direito de exibir em primeira mão filmes de sucesso produzidos pelos estúdios
Warner e Disney.
Os "reality shows", produto típico
da TV dos EUA, têm em Ratinho sua
sucursal brasileira, ainda que os casos aqui apresentados sejam mais bizarros e miseráveis.
Além dos filmes e do programa de
Ratinho, a emissora ainda é o lar da
Oprah Winfrey brasileira (Hebe Camargo) e da versão tropical do
Emmy (o Troféu Imprensa), além
das novelas latinas -outro produto
muito popular na terra de Bill Clinton.
Para completar, enquanto a febre
dos "game shows" campeia nos EUA,
Silvio lança mão de seu "Show do Milhão", inspirado exatamente naquele
programa que atualmente é um dos
maiores sucessos da TV ianque, o
"Who Wants to Be a Millionaire"
(Quem Quer Ser um Milionário).
Lançado para tapar um buraco nas
férias de verão do ano passado na rede ABC, "Millionaire" surpreendeu e
alcançou as audiências mais altas da
TV norte-americana no período.
Em viagem aos EUA, no segundo
semestre de 99, Silvio Santos se encantou com o programa e, de lá mesmo, ordenou que fossem colocadas no ar chamadas
anunciando um misterioso programa que prometia
"mudar a vida das pessoas".
Quando voltou, lançou o "game show" no Brasil e faturou muitos milhões -cada um dos candidatos a participar do programa teve de comprar uma revista que custava R$ 3, e foram vendidos mais de 2 milhões de exemplares.
Só uma pequena parcela desse dinheiro, no entanto, foi
distribuída na forma de prêmios.
A conta é simples: foram arrecadados mais de R$ 6 milhões, mas ninguém levou o prêmio máximo.
A conclusão é que o grande milionário do jogo é a banca
-o próprio apresentador.
O sucesso do programa dos EUA vem se repetindo (ainda que em menor escala) aqui no Brasil. Com a exibição
do "Show do Milhão", o SBT atinge cerca de 20 pontos no
Ibope, um índice excelente para os padrões da emissora.
Tanto nos EUA como no Brasil, o jogo é visto por muita
gente, mas poucos reconhecem o poder do programa de
entreter o telespectador. Enquanto por aqui a atração é
apreciada pelo povão por sua "dificuldade", mas acompanhada pelos mais instruídos apenas por seu caráter
"trash", nos EUA ela foi banida da festa dos Emmy distribuídos aos programas do horário nobre apesar de ser exibida à noite pela rede ABC.
Com isso, "Who Wants to Be a Millionaire" vai competir na cerimônia
dos Daytime Emmys, uma premiação de segunda classe nos EUA, dominada por telenovelas (as soap operas) e "talk shows" escandalosos.
A justificativa para a discriminação
seria a inexistência de uma categoria
para os "game shows" na festa dos
Primetime Emmys -o que é inexplicável, afinal, após o sucesso de "Millionaire", quase todas as emissoras
atualmente têm gincanas e competições em pleno horário nobre.
Regis Philbin, o apresentador da
atração nos EUA, que sempre foi
uma celebridade do segundo escalão
no país, desfruta agora, aos 66 anos,
de todas as regalias que a fama pode
proporcionar.
Aqui no Brasil, o papel de condutor
do jogo cai como uma luva para Silvio Santos. Ele consegue criar suspense nas questões mais prosaicas e
jamais deixa o ritmo da atração desandar e o interesse do telespectador
cair.
Mas se tem uma função que o programa não consegue cumprir é a de
fornecer algo instrutivo aos telespectadores. Mesmo em
questões tolas como "Quem é a namorada do Pateta?" a
produção patina e aceita como resposta "Clarabela", que
é a namorada do personagem Horácio nos quadrinhos de
Walt Disney.
Em outra edição, o jogo só serviu para evidenciar o baixíssimo nível dos universitários convidados a dar dicas
aos participantes. Quando a pergunta era "Bruxelas é a
capital de que país europeu?", três estudantes da banca
sugeriram que a candidata escolhesse como resposta a
Suíça.
Pior foi quando o próprio Silvio Santos disse que o escritor argentino Jorge Luis Borges é brasileiro.
Excepcionalmente nesta edição o artigo de Fernando de Barros e Silva não
é publicado
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