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FOLIA DA FAMA
Atores, jogadores e personalidades roubam espaço dos sambistas no Carnaval e pegam carona na maior festa popular brasileira para brilhar na TV
Artistas tiram dez no quesito exibição
Patrícia fernandes/Folha Imagem
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Joana Prado, a Feiticeira, desfilará no Rio (pela Salgueiro), em São Paulo (na Vai-Vai), e é convidada de um camarote em Salvador |
ALEXANDRE MARON
DA SUCURSAL DO RIO
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O CARNAVAL sempre foi conhecido
mundialmente como a maior festa
popular brasileira. Mas os sambódromos
se tornaram territórios ocupados por
atores, modelos, pagodeiros e jogadores
de futebol, ofuscando as pessoas das comunidades das escolas de samba.
Fica cada vez mais difícil surgirem nomes como o da mulata Adele Fátima, ou
o da passista Piná, da Beija-Flor, que
dançou com o príncipe Charles no início
dos anos 80 e ganhou fama internacional. Para completar, com o aumento da
visibilidade dos carnavais de São Paulo e
de Salvador, a sensação é a de que alguns
artistas estarão em todos os lugares ao
mesmo tempo, tudo por alguns momentos de exibição na TV.
O ator Miguel Falabella é um dos que
estará em toda parte no Carnaval. Além
de desfilar no Rio na Unidos da Tijuca e
na Grande Rio, ele sairá também, pelo
terceiro ano consecutivo, na Nenê da Vila Matilde, em São Paulo. Falabella é dos
poucos atores familiarizados com o dia-a-dia de uma escola de samba, visto que
já foi carnavalesco da Império da Tijuca.
Mas trata-se da exceção em um meio em
que prevalecem os exibicionistas.
Uma das pessoas que mais entende do
ofício de se exibir no Brasil, Adriane Galisteu, ensina que a melhor coisa no Carnaval é sair em um lugar só. Ter fidelidade. "Você tem que ter identidade. Usar o
Carnaval para aparecer em todos os lugares é ruim para a imagem. Escola de
samba é que nem time de futebol, não se
troca. Quero estar na Portela até me considerarem da velha-guarda", brinca ela.
Mas é justamente a velha-guarda que
não aprecia a "onipresença" de artistas
na avenida. O pesquisador e compositor
Hermínio Bello de Carvalho diz que participar do Carnaval é direito de todos.
"Mas o que ocorre é uma interferência.
A escola deixa de homenagear pessoas
importantes de sua história para dar lugar aos artistas. Já assisti a transmissões
de desfiles pela TV em que o narrador ignorava passistas lendárias e só tinha
olhos para os famosos da TV. É triste ver
que uma bunda está tirando espaço da
dona Zica e da dona Neuma", comenta,
referindo-se a figuras lendárias da Estação Primeira de Mangueira.
Segundo Hermínio, a participação de
artistas pode até ser nociva. "No ano passado, quando desfilava pela Mangueira,
Carla Perez parou para ajeitar o sapato
na avenida e acabou fazendo com que a
escola perdesse pontos."
Alheia às críticas, Carla Perez voltará a
desfilar na Mangueira. Além de sair no
fim-de-semana no bloco Algodão Doce,
em Salvador, voará ao Rio em um jatinho, chegando a tempo do desfile mangueirense. Por sinal, a única escola de
samba do Rio em que aparecerá.
O esforço é válido. A Globo exibirá o
desfile em rede nacional, entre o "Jornal
Nacional" e a novela "Terra Nostra".
"Não faço isso para aparecer. É claro que
é bom para um artista ser visto em um
carro alegórico da Mangueira. Me divirto
e o que vier é lucro", diz Carla.
A musa do Carnaval do ano passado,
Suzana Alves, a Tiazinha, será capaz de
uma façanha ainda mais ousada do que a
ponte aérea Salvador-Rio. Irá cruzar o
oceano Atlântico. Ela virá de Portugal,
onde terá desfilado como a rainha do
Carnaval. Como ela sabe que isso não dá
repercussão, chega na segunda à noite,
poucas horas antes de sair no último carro da Beija-Flor. "O Carnaval é muito
importante para mim. Foi essa festa que
me deu fama internacional", diz Suzana.
Sua sucessora no trono de musa, Joana
Prado, a Feiticeira, sabe que essa exposição é mesmo importante. Ela esteve envolvida em uma confusão entre a Mangueira e o Salgueiro e acabou optando
por desfilar na última, em um carro no
qual sua fantasia de odalisca e o indefectível véu não causariam problemas.
Ela acha que "todo ano tem uma que
será a bola da vez" e que o Carnaval dá
visibilidade internacional. "Nunca desfilei nem fui a um desfile. O que me emociona é saber que o mundo inteiro vai estar me vendo. Vou acabar chorando."
Joana terá outro motivo para chorar. A
Globo só exibirá o desfile da Salgueiro
para o Rio, enquanto o resto do Brasil assistirá a um capítulo de "Terra Nostra".
Além da emoção, Joana enfrentará
ainda o cansaço, já que desfilará também na Vai-Vai, de São Paulo, fará reportagens para a Band, em Salvador, e,
como se não bastasse, tem presença confirmada no camarote soteropolitano da
Ericson/Maxitel, por sinal, abarrotado
de artistas (veja o quadro ao lado).
Neste ano, Salvador tornou-se o destino certo de vários atores. Luana Piovani
é madrinha de um bloco local, o Coruja,
além de ser convidada do camarote da
Ericson/Maxitel, que tem como sócio o
ator e modelo Luciano Szafir.
Alguns carnavalescos vêem oportunismo na atitude dos artistas. "Eles aparecem na TV o ano todo e ainda querem o
nosso espaço. A escola não tem condições de ficar bancando as fantasias deles,
que ganham um bom dinheiro e ainda
querem as roupas de graça", diz Renato
Lage, da Mocidade Independente.
Os destaques das escolas, que vestem
justamente as fantasias mais caras, com
um preço médio próximo aos R$ 10 mil,
não pagam nada. A atriz Danielle Winits, por exemplo, será a madrinha da
bateria da Unidos de Vila Isabel, usando
uma fantasia que custa, de acordo com a
escola, R$ 20 mil. Membros da comunidade, que trabalham no Carnaval de sua
escola o ano todo, têm de pagar por suas
fantasias entre R$ 130 e R$ 400.
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