São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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CARNAVAL
Cantor co-produz documentário sobre o grupo carnavalesco baiano, que o canal pago GNT exibe amanhã, às 22h
Gilberto Gil leva bloco Filhos de Gandhy à TV paga

DA SUCURSAL DO RIO

O CANAL pago GNT (Net e Sky) apresenta a curiosa fusão de candomblé, comunismo, Gilberto Gil e seu encontro com religiosos de algumas cidades da Índia e com a filosofia do pacifista Mohandas Gandhi. Essa mistura está registrada no documentário "Filhos de Gandhy", que o canal exibe amanhã, a partir das 22h.
O tema do programa é o bloco Filhos de Gandhy (assim mesmo, com a letra "y"; o motivo é revelado no programa), que fez 50 anos em 99. O diretor Lula Buarque de Hollanda decidiu entrar nessa nova empreitada após fazer dois documentários com Gilberto Gil: o premiado "Pierre "Fatumbi" Verger - Mensageiro entre Dois Mundos" e "Tempo Rei".
Para concretizar o projeto, a Conspiração Filmes e o GNT gastaram juntos cerca de R$ 625 mil. As gravações começaram com a preparação do Carnaval do Filhos de Gandhy em janeiro do ano passado, passaram pelo desfile, continuaram com uma viagem à Índia e terminaram com algumas cenas adicionais em Salvador.
"Eu soube da existência do Filhos de Gandhy quando ouvi a música do Gil pela primeira vez, na década de 70. Sempre fiquei intrigado com a sua história e tive um contato mais forte quando fomos gravar os documentários em Salvador", conta Lula.
O filme não faz uso da história formal para contar a trajetória do Gandhy. O que conduz a narrativa é uma série de relatos dos fundadores do bloco.
"Queríamos que fosse uma narrativa mais orgânica, descontinuada, seguindo o diálogo dos fundadores. Seria algo mais parecido com uma conversa. Faço tudo para fugir do didatismo, quero pegar as pessoas pela emoção das imagens e das histórias", diz o diretor.
O bloco foi criado por um grupo de estivadores comunistas em 1949. Sentindo-se reprimidos politicamente, resolveram criar um bloco inspirado no que tinham ouvido falar do que seriam os ideais pacifistas do líder político e religioso indiano Mohandas Gandhi.
Seria uma forma de prosseguir na luta sem lutar. Como a ótica era pacifista, a única exigência para participar dos desfiles era ter bons antecedentes.
Desde o primeiro ano, somente homens desfilam. As mulheres apenas observam o desfile. "São 12 mil homens solteiros e cobiçados. Se uma mulher quer arrumar um casamento tem que ir para lá", brinca Gilberto Gil, vice-presidente do bloco e co-produtor do documentário.
"As mulheres ficam de fora porque elas são o objeto da cobiça dos homens. Eles desfilam por elas. É um ritual. Além disso, se misturássemos, poderiam acontecer brigas entre os homens dali de dentro mesmo", analisa de forma bem-humorada o presidente do bloco, Agnaldo Silva.
Gilberto Gil desfila no Gandhy há 25 anos e foi um dos coordenadores da grande festa do cinquentenário. "Cresci vendo o Filhos de Gandhy desfilando e dizendo que um dia estaria lá. Realizei um sonho", conta.
Foi de Gil uma idéia curiosa: fazer um desfile do bloco na Índia. A idéia rende algumas cenas belíssimas, mas, em alguns momentos, lembra demais o extinto programa "Brasil Legal", de Regina Casé, com o espírito de armar uma situação e ver o que vai acontecer.
Uma ótima cena mostra os indianos e os baianos -liderados por Gil- vendo-se incapazes de alguma comunicação verbal e fazendo contato por meio da troca de instrumentos musicais. Em alguns minutos começam a testá-los e depois tocam juntos.
O momento "Brasil Legal" é a tentativa de registrar como reagem os indianos ao ver Antônio, o sósia de Gandhi. Quando o homem é entrevistado, mostra, de forma constrangedora, que, mesmo depois de passar cerca de duas décadas desfilando como o líder pacifista, nunca se importou em aprender algo sobre ele.


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