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CRÍTICA
Pagando mico
FRANCISCO MARTINS DA COSTA
Editor do TV Folha
Os preços da TV paga subiram recentemente e, com
isso, fica cada vez mais difícil entender por que o assinante paga tanto por esse
serviço.
Durante os anos dourados do negócio no Brasil,
em 1996/97, as operadoras
só acrescentavam canais
aos seus "line ups", e notava-se um investimento em
produções de qualidade.
Com a estagnação do número de assinantes, a alta
do dólar e uma boa dose de
desânimo nos executivos
do setor, o que aconteceu
nos últimos meses justifica
uma boa reflexão a respeito da relação custo-benefício envolvida no ato de
aderir a um dos sistemas
disponíveis de TV paga.
Canais "de qualidade"
hoje são uma pálida lembrança do que já foram. O
GNT, por exemplo, virou
um grande "Vale a Pena
Ver de Novo", tal a quantidade de reprises. As produções nacionais como
"Chatô, O Rei do Brasil",
"Futebol", "O Velho - A Vida de Luís Carlos Prestes" e
"Cinco Dias Que Abalaram
o Brasil" atualmente são
uma raridade - e, quando
aparecem, são executadas
com recursos perceptivelmente menores.
Um dos "destaques" da
programação do canal em
junho, por exemplo, foi a
reapresentação de "Leila
Três Vezes Diniz", documentário produzido na fase áurea do canal.
Outro canal da Globosat,
o USA, deixou de exibir recentemente dois programas que eram alguns dos
poucos destaques de sua
grade: "Entertainment Tonight" e "Hard Copy". A
justificativa é uma reestruturação na programação,
mas os dois programas
-sucesso absoluto nos
EUA-só podem ter sido
tirados do ar por razões financeiras. Prova disso é
que já existem outros canais negociando a exibição
desses programas no Brasil.
É duro compreender
também por que o USA
anuncia com tanto barulho
a série "Xena" como um
dos destaques de sua programação, se o SBT já exibe
há anos -e de graça- o
mesmo seriado, por sinal,
lixo puro. Por que pagar
por isso?
Complicada também é a
situação dos canais de filmes e de notícias. O destaque dos canais Telecine
neste mês foi a refilmagem
de "O Chacal", com Bruce
Willis, fracasso de bilheteria nos cinemas dos EUA e
do Brasil que agora tem a
chance de fracassar também na TV. Na HBO, a
principal estréia foi "Força
Aérea Um", filmeco de
ação com Harrison Ford e
Gary Oldman.
Nos canais de notícia, a
Globo News tem que rever
com urgência a função e o
formato de seus boletins
"Em Cima da Hora". Não
dá para entender o que fazem notícias do sábado incluídas nos boletins da madrugada de domingo para
segunda, por exemplo.
Qual o sentido de reprisar
uma reportagem do "Jornal Hoje" ou do "Jornal da
Globo" nesses boletins sem
acrescentar nada ao que já
foi dito? Precisamos pagar
para ver isso?
Na segunda-feira passada, por exemplo, ao exibir
uma reportagem sobre a final do Campeonato Paulista, um desses boletins da
madrugada foi incapaz de
informar que o jogador
Edílson havia sido cortado
da seleção. Pior foi quando
o "Em Cima da Hora"
anunciou na noite da entrega do Oscar que "O Resgate do Soldado Ryan" havia sido o vencedor na categoria de melhor filme.
Parecia que o boletim havia sido gravado previamente.
Mas o que não dá mesmo
para engolir é o telejornalismo da CBS Telenotícias.
O canal tem apenas uma
repórter no Brasil (que fica
no Rio). Quando São Paulo
pára por causa das enchentes, a manchete dos informes produzidos em Miami
é sempre sobre tufões de
Oklahoma, ou a inauguração do novo aquário municipal de Orlando. Quando
exibe alguma notícia do
Brasil, usa material produzido pelo Canal 21, pela
Band, pela TV Cultura ou
pelo SBT. OK, então, por
que pagar para ver isso, se
essas emissoras são de sinal aberto por aqui? Para
ver Leila Cordeiro entrevistar artistas brasileiros
que vão terminar suas turnês em Miami, após já terem falado com todos os
órgãos de imprensa no
Brasil?
Vale também registrar
aqui a situação insólita do
canal Bravo Brasil, que podia ser uma excelente opção para rivalizar com o
caótico Multishow (um balaio de gatos onde há de tudo, mas pouca coisa se salva). Com o fim da parceria
entre a TVA programadora
e a matriz norte-americana
do Bravo, o canal virou o
que é hoje, um mero retransmissor de um limitado acervo de filmes de arte
e shows (muitos deles, excelentes, aliás). Tudo isso
sem um nadinha de "cor
local". Falta Brasil no Bravo Brasil.
Por essas e por outras razões é que se pode dizer
que certo está Antônio
Athayde, executivo pioneiro do setor de TV paga no
Brasil, que disse recentemente que esse negócio
simplesmente não deu certo no país. Se deu, foi para
alguns poucos empresários do setor e telespectadores que se sentem satisfeitos com o modelo atual.
Os pacotes da TV paga
são compostos por aquela
meia dúzia de canais que
são os da preferência do assinante e mais algumas dezenas de estações que não
passam de puro "enchimento".
Com o número de assinantes em queda, esse é um
dado a ser levado em consideração pelos operadores
que criam os pacotes e pelas pessoas que pensam em
se tornar assinantes.
O ideal seria a formação
de pacotes "à la carte",
montados de acordo com
as necessidades do assinante. Impossível? O tempo dirá. Vamos ver até
quando o modelo brasileiro vai resistir a essa tendência.
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