São Paulo, Domingo, 28 de Março de 1999
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Remakes refletem crise do gênero

da Reportagem Local

Com "Louca Paixão" a Record se junta às outras emissoras na febre dos remakes. A prática, cada vez mais comum, reflete uma crise no formato e no gênero. Até os próprios autores querem que sejam feitas mudanças.
Já foram refeitas novelas como "Anjo Mau" e "Pecado Capital", na Globo, "Éramos Seis", no SBT (com "O Direito de Nascer" guardada na gaveta), e "Meu Pé de Laranja Lima", na Bandeirantes.
A Globo não é a principal adepta da prática por acaso. Nos últimos anos, suas novelas têm estado abaixo das metas de audiência da emissora.
No horário noturno na Globo, das 18h às 23h59, a medição do Ibope apontou queda de seis pontos na média de audiência -de 38, em outubro 1995, a 32, no mesmo mês em 1998. Cada ponto equivale e 80 mil telespectadores na Grande São Paulo.
"As novelas não estão em crise. Pelo contrário. O que há é muitas tramas no ar e as pessoas não assistem mais somente à Globo", afirma Walcyr Carrasco, autor de "Fascinação", do SBT.
Na mesma medição do Ibope, o SBT e a Record ganharam quatro e seis pontos, respectivamente, de outubro de 95 ao mesmo mês em 98.
"Os autores cansaram das novelas longas. Precisamos de tramas com menos capítulos, onde o trabalho de pesquisa e de elenco possa ser mais elaborado", afirma Lauro César Muniz, autor da minissérie "Chiquinha Gonzaga".
Alcides Nogueira, que é co-autor da próxima novela das seis da Globo junto com Gilberto Braga, também acha que as minisséries são o ideal. "A forma como as novelas são feitas hoje está tornando a coisa toda uma linha de montagem. É um trabalho massacrante", afirma.
Talvez a tese a favor das minisséries esteja certa. "Chiquinha" alcançou índices impressionantes para o horário em que foi exibida (23h). Enquanto "Suave Veneno" patinava com índices que chegaram a médias de 29 pontos, a minissérie chegou, no dia 19 de fevereiro, a superar a trama das oito obtendo 33 pontos contra 32 da novela.
Se a comparação for feita com "Auto da Compadecida", exibida em janeiro, pela Globo, a diferença fica ainda mais surpreendente. A minissérie marcou índices de 39 pontos, que "Suave Veneno" só igualou quatro vezes e superou em três ocasiões.
O autor da novela das oito, Aguinaldo Silva, acha que tramas mais curtas seriam o ideal para quem as escreve. Mas diz que isso é também uma ilusão. "Uma novela da Globo só se paga após o capítulo 80. É ilusão achar que podemos fazer tramas menores que sejam rentáveis", diz.
Para ele, o modo de produção das novelas deveria ser revisto para diminuir o tempo entre o momento em que o autor escreve e o dia em que o capítulo vai ao ar. "A novela precisa ser cada vez mais quente e antenada", diz.
Ana Maria Moretzsohn, que escreveu "Pedra sobre Pedra" e "Tieta", junto com Aguinaldo Silva, e assinou "Serras Azuis", acha que a solução está em mandar as novelas para o horário da tarde e investir em seriados no horário nobre. Esse é o formato adotado pelas redes de TV dos EUA.
Silva acha a solução impraticável no Brasil. "Como a Globo iria produzir mais três programas diferentes por dia, seis dias por semana? É inviável, não há escala de produção para isso", avalia.
Já Yves Dumont, o autor de "Louca Paixão", acha que a saída está num caminho intermediário: novelas com cerca de 140 capítulos contra o padrão de cerca de 180 da Globo. "As tramas mais curtas com um número menor de personagens são mais fáceis. Acaba sendo mais agradável para o autor escrever e controlar", conclui.


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