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FIM DE SÉRIE
"Friends" só mais uma temporada
Atores relembram os oito anos de trabalho e contam com exclusividade para o "TV Folha" como deverá ser a sua última jornada juntos
MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
JENNIFER Aniston, com os cabelos
agora na altura dos ombros e mais lisos do que nunca, gagueja quando o assunto é a provável última temporada da
sitcom mais assistida da TV americana.
"Não consigo falar nisso sem ficar com
os olhos cheios de lágrimas", disse ela ao
TV Folha, em Los Angeles. "Quando
chegar a hora de deixar Rachel para trás,
estarei colocando ponto final em uma
das fases mais belas da minha vida e no
relacionamento diário que tenho com
essas outras cinco pessoas maravilhosas,
que hoje são, para mim, uma família",
contou com a voz trêmula e levando as
mãos à boca, no melhor estilo Rachel, como quem quer segurar o choro. "Juntos,
passamos por casamentos, gravidez, separações e experiências de quase morte."
O depoimento é oportuno, já que, diz a
lenda, estava previsto para a última quinta o começo da oitava e última temporada da série -mesmo que a Warner Bros.
ainda não tenha oficializado nada.
Para os aficionados, portanto, há uma
ponta de esperança, embora uma improvável mas não impossível nona temporada vá custar US$ 6 milhões por semana
-apenas em remuneração para o sexteto, que hoje ganha, per capita, US$ 750
mil semanalmente (especula-se que,
com US$ 1 milhão por episódio, eles aceitariam tomar novas rodadas de capuccinos no Central Perk).
E pensar que tudo começou no dia 22
de setembro de 1994 com cada um dos
então ilustres desconhecidos ganhando
o mínimo previsto pelo sindicato, trabalhando para uma sitcom que deveria se
chamar "Across the Hall" e torcendo
apenas para que a série passasse do décimo capítulo antes de ser cancelada.
"Trabalhar em uma sitcom é brincar
com a sorte", disse Matthew Perry. "Sete
em cada dez são interrompidas", emendou, lembrando que há quase dez anos
foi fazer o teste para o papel de Chandler
Bing de ônibus e sem endereço fixo. "Estava numa roubada, dormindo no sofá
de um amigo e precisando desesperadamente de trabalho". Hoje, ele dirige um
Porsche do ano e tem mais de um endereço para fornecer.
Mas, entre o ônibus e o Porsche, vieram perdas e ganhos incontroláveis de
peso, doses altas de álcool e anfetaminas,
internações em UTIs e uma (ainda) frustrada carreira cinematográfica.
Por sinal, essa é uma característica
compartilhada com o resto da gangue,
que ainda não conseguiu acontecer fora
do apartamento de Monica (Courtney
Cox Arquette). "As críticas ao nosso trabalho cinematográfico são sempre muito
duras. Somos valorizados enquanto atores televisivos e chicoteados em tela
grande. É como se nos fizessem heróis
num dia para nos destruir no outro",
afirmou Cox, com uma ponta de mágoa.
Mas, entre a sala de estar da neurótica
Monica e o sofá do Central Perk, essa turma é, há exatos sete anos, dona do pedaço. "Quando estávamos gravando o piloto (o episódio em que Rachel entra no café vestida de noiva, aos prantos), não sabíamos se aquele ambiente regado a cafeína e com um sofá central seria atraente
e pensamos em mudar o cenário para
um restaurante como o de "Seinfeld'",
disse David Schwimmer. Vale lembrar
que, há sete anos, a cafeína não havia
ainda invadido a cultura pop e a série,
que é coqueluche da juventude entre 18 e
38 anos mundo afora (em Londres, as videolocadoras alugam episódios aos baldes) colaborou com a tendência.
Porém, essa era apenas uma das muitas dúvidas. Produtores pensavam, por
exemplo, que Monica (uma personagem
escrita para ser mais maternal e menos
neurótica) acabaria se envolvendo com
Joey, mas nunca com Chandler, que, por
sua vez, havia sido concebido como gay.
"Quando li o roteiro e vi que Monica e
Chandler iriam dormir juntos em Londres fiquei boquiaberta", confessou Cox.
"Mas é bom dizer que foi ela quem insistiu com os produtores e roteiristas para que nosso romance, originalmente
pensado para durar três episódios, continuasse a acontecer", contou Perry.
"Realmente, forcei a barra, mas eles não
teriam entrado na minha se não houvesse ali uma boa história", explicou Cox,
para quem o relacionamento entre dois
seres humanos neuróticos acaba rendendo excelentes piadas.
E foi exatamente por culpa dessa neurose que o terceiro episódio da nova fase
teve de ser reescrito e refilmado. Graças à
exagerada pontualidade de Monica, ele
se passava quase que inteiramente em
um aeroporto, onde o casal chegou para
embarcar mais de três horas antes do
vôo. Por causa do trágico ataque terrorista que destruiu as torres do World Trade
Center e mudou o horizonte da cidade,
os produtores acharam melhor alterar a
trama central do capítulo.
Modificações no roteiro, a propósito,
não são incomuns. "Os escritores são
muito abertos às nossas sugestões", explicou Lisa Kudrow, a naturalista Phoebe. "E quase sempre levamos a eles experiências de nossas próprias vidas, que
eles adaptam para a tela", disse, lembrando, entretanto, que quando ficou
grávida de verdade não gostou muito de
saber que Phoebe também daria à luz.
"Foi uma atitude arriscada, porque, que
Deus me perdoe, se eu perdesse a criança
não ia querer aparecer de barrigão."
E gravidez parece ser novamente o assunto, desde que, no último episódio da
temporada passada, descobriu-se que
Rachel estava esperando um filho. "Não,
eu não estou grávida, quem está é Rachel", apressou-se em explicar Aniston,
já cansada de responder a essa pergunta.
"E eu só soube disso horas antes de filmarmos, porque naquela semana eles
nos entregaram um roteiro com final falso", lembrou, dizendo que, tão logo o diretor gritou "corta", foi parabenizada
por toda a equipe. "Levei meses para
provar que não estava grávida", disse levantando e mostrando a barriga, mais
magra do que nunca. "Mas, pelo menos,
isso fez com que as pessoas parassem de
me perguntar se Winona (Rider) beijava
bem", afirmou sobre o relacionamento
lésbico que rolou entre as duas na série.
"Quem garante que Joey não é o pai do
filho de Rachel?", interrompeu em tom
de brincadeira o tímido Matt LeBlanc,
que promete boas surpresas para seu
personagem. Mas, por causa do silêncio
que produtores e escritores sempre reservam a novos capítulos, fica difícil antecipar a temporada que vai ser inaugurada em novembro no Brasil. Certa mesmo, apenas a sempre marcante aparição
de convidados especialíssimos, como
Sean Penn (no papel de namorado de
Ursula, irmã gêmea de Phoebe) e inesperadas mudanças de rumo na trama central, a característica marcante da série.
"Terão Joey e Phoebe o tão esperado
romance? Ross e Rachel mais uma vez?
Monica e Chandler continuarão juntos?
Tudo será respondido agora", garantiu
Schwimmer. Quanto ao final de
"Friends", resta dizer que nem Aniston
colocaria todas as suas fichas nisso. "Até
onde sei, parece que ficamos por aqui,
mas ...", disse ela, deixando reticências
no ar, para esperança da multidão de fãs.
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