São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2001

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FIM DE SÉRIE

"Friends" só mais uma temporada

Atores relembram os oito anos de trabalho e contam com exclusividade para o "TV Folha" como deverá ser a sua última jornada juntos

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

JENNIFER Aniston, com os cabelos agora na altura dos ombros e mais lisos do que nunca, gagueja quando o assunto é a provável última temporada da sitcom mais assistida da TV americana.
"Não consigo falar nisso sem ficar com os olhos cheios de lágrimas", disse ela ao TV Folha, em Los Angeles. "Quando chegar a hora de deixar Rachel para trás, estarei colocando ponto final em uma das fases mais belas da minha vida e no relacionamento diário que tenho com essas outras cinco pessoas maravilhosas, que hoje são, para mim, uma família", contou com a voz trêmula e levando as mãos à boca, no melhor estilo Rachel, como quem quer segurar o choro. "Juntos, passamos por casamentos, gravidez, separações e experiências de quase morte."
O depoimento é oportuno, já que, diz a lenda, estava previsto para a última quinta o começo da oitava e última temporada da série -mesmo que a Warner Bros. ainda não tenha oficializado nada.
Para os aficionados, portanto, há uma ponta de esperança, embora uma improvável mas não impossível nona temporada vá custar US$ 6 milhões por semana -apenas em remuneração para o sexteto, que hoje ganha, per capita, US$ 750 mil semanalmente (especula-se que, com US$ 1 milhão por episódio, eles aceitariam tomar novas rodadas de capuccinos no Central Perk).
E pensar que tudo começou no dia 22 de setembro de 1994 com cada um dos então ilustres desconhecidos ganhando o mínimo previsto pelo sindicato, trabalhando para uma sitcom que deveria se chamar "Across the Hall" e torcendo apenas para que a série passasse do décimo capítulo antes de ser cancelada.
"Trabalhar em uma sitcom é brincar com a sorte", disse Matthew Perry. "Sete em cada dez são interrompidas", emendou, lembrando que há quase dez anos foi fazer o teste para o papel de Chandler Bing de ônibus e sem endereço fixo. "Estava numa roubada, dormindo no sofá de um amigo e precisando desesperadamente de trabalho". Hoje, ele dirige um Porsche do ano e tem mais de um endereço para fornecer.
Mas, entre o ônibus e o Porsche, vieram perdas e ganhos incontroláveis de peso, doses altas de álcool e anfetaminas, internações em UTIs e uma (ainda) frustrada carreira cinematográfica.
Por sinal, essa é uma característica compartilhada com o resto da gangue, que ainda não conseguiu acontecer fora do apartamento de Monica (Courtney Cox Arquette). "As críticas ao nosso trabalho cinematográfico são sempre muito duras. Somos valorizados enquanto atores televisivos e chicoteados em tela grande. É como se nos fizessem heróis num dia para nos destruir no outro", afirmou Cox, com uma ponta de mágoa.
Mas, entre a sala de estar da neurótica Monica e o sofá do Central Perk, essa turma é, há exatos sete anos, dona do pedaço. "Quando estávamos gravando o piloto (o episódio em que Rachel entra no café vestida de noiva, aos prantos), não sabíamos se aquele ambiente regado a cafeína e com um sofá central seria atraente e pensamos em mudar o cenário para um restaurante como o de "Seinfeld'", disse David Schwimmer. Vale lembrar que, há sete anos, a cafeína não havia ainda invadido a cultura pop e a série, que é coqueluche da juventude entre 18 e 38 anos mundo afora (em Londres, as videolocadoras alugam episódios aos baldes) colaborou com a tendência.
Porém, essa era apenas uma das muitas dúvidas. Produtores pensavam, por exemplo, que Monica (uma personagem escrita para ser mais maternal e menos neurótica) acabaria se envolvendo com Joey, mas nunca com Chandler, que, por sua vez, havia sido concebido como gay. "Quando li o roteiro e vi que Monica e Chandler iriam dormir juntos em Londres fiquei boquiaberta", confessou Cox.
"Mas é bom dizer que foi ela quem insistiu com os produtores e roteiristas para que nosso romance, originalmente pensado para durar três episódios, continuasse a acontecer", contou Perry. "Realmente, forcei a barra, mas eles não teriam entrado na minha se não houvesse ali uma boa história", explicou Cox, para quem o relacionamento entre dois seres humanos neuróticos acaba rendendo excelentes piadas.
E foi exatamente por culpa dessa neurose que o terceiro episódio da nova fase teve de ser reescrito e refilmado. Graças à exagerada pontualidade de Monica, ele se passava quase que inteiramente em um aeroporto, onde o casal chegou para embarcar mais de três horas antes do vôo. Por causa do trágico ataque terrorista que destruiu as torres do World Trade Center e mudou o horizonte da cidade, os produtores acharam melhor alterar a trama central do capítulo.
Modificações no roteiro, a propósito, não são incomuns. "Os escritores são muito abertos às nossas sugestões", explicou Lisa Kudrow, a naturalista Phoebe. "E quase sempre levamos a eles experiências de nossas próprias vidas, que eles adaptam para a tela", disse, lembrando, entretanto, que quando ficou grávida de verdade não gostou muito de saber que Phoebe também daria à luz. "Foi uma atitude arriscada, porque, que Deus me perdoe, se eu perdesse a criança não ia querer aparecer de barrigão."
E gravidez parece ser novamente o assunto, desde que, no último episódio da temporada passada, descobriu-se que Rachel estava esperando um filho. "Não, eu não estou grávida, quem está é Rachel", apressou-se em explicar Aniston, já cansada de responder a essa pergunta.
"E eu só soube disso horas antes de filmarmos, porque naquela semana eles nos entregaram um roteiro com final falso", lembrou, dizendo que, tão logo o diretor gritou "corta", foi parabenizada por toda a equipe. "Levei meses para provar que não estava grávida", disse levantando e mostrando a barriga, mais magra do que nunca. "Mas, pelo menos, isso fez com que as pessoas parassem de me perguntar se Winona (Rider) beijava bem", afirmou sobre o relacionamento lésbico que rolou entre as duas na série.
"Quem garante que Joey não é o pai do filho de Rachel?", interrompeu em tom de brincadeira o tímido Matt LeBlanc, que promete boas surpresas para seu personagem. Mas, por causa do silêncio que produtores e escritores sempre reservam a novos capítulos, fica difícil antecipar a temporada que vai ser inaugurada em novembro no Brasil. Certa mesmo, apenas a sempre marcante aparição de convidados especialíssimos, como Sean Penn (no papel de namorado de Ursula, irmã gêmea de Phoebe) e inesperadas mudanças de rumo na trama central, a característica marcante da série.
"Terão Joey e Phoebe o tão esperado romance? Ross e Rachel mais uma vez? Monica e Chandler continuarão juntos? Tudo será respondido agora", garantiu Schwimmer. Quanto ao final de "Friends", resta dizer que nem Aniston colocaria todas as suas fichas nisso. "Até onde sei, parece que ficamos por aqui, mas ...", disse ela, deixando reticências no ar, para esperança da multidão de fãs.


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