São José dos Campos, Domingo, 9 de maio de 1999

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CULTURA 3
Juiz de Taubaté concede reintegração e índios voltam para o MT
Xavantes perdem escola com determinação judicial

Luciano Coca/Folha Imagem
Grupo de crianças da tribo xavante de Barra do Garça (MT), em casa cedida por simpatizantes, em Taubaté


da Folha Vale

Um grupo de seis índios xavantes que estavam sendo alfabetizados havia três anos em Taubaté serão obrigados a deixar a cidade nos próximos meses devido a uma ação de reintegração de posse que deu ganho de causa à atual proprietária do terreno onde eles estavam instalados.
A decisão foi tomada pelo juiz Luiz Roberto Ribeiro Bueno, da 2ª Vara Cível. A ação de reintegração foi movida pela empresária Magali Frasão de Jesus dos Santos contra seu ex-associado, Douglas Flor de Souza. Magali nega as acusações de Souza e afirma que ele teria provocado um desfalque na empresa.
Os índios, com idades entre 8 e 15 anos, foram levados à cidade por Souza, que afirmou ser sertanista e membro de uma ONG (organização não-governamental) que mantém contato com reservas indígenas. Eles estudavam em escolas estaduais no município e vão ter de voltar para Barra do Garça (MT) devido à falta de estrutura para mantê-los.
De acordo com Souza, o terreno que fica no bairro Vila Albina está no nome de Magali. "Ela viu que o negócio era promissor. Os alojamentos dos índios ficavam no terreno e agora estamos em uma casa ao lado que foi emprestada para nós."
O sertanista afirmou que as crianças tinham vindo para Taubaté a pedido de lideranças da comunidade indígena xavante. Segundo Souza, a vinda dos índios está toda documentada de acordo com a legislação da Funai (Fundação Nacional do Índio).
"No início do projeto eram 11 índios, mas cinco deles não se adaptaram à vida aqui no Vale do Paraíba e retornaram. Hoje temos seis crianças que fazem parte da tribo xavante na divisa dos Estados de Mato Grosso e Pará."
Souza afirmou que a situação das tribos que vivem no local é crítica. "Eles estão sofrendo por lá com a falta de comida e estrutura precária. Pediram para eu trazer as crianças para cá a fim de educá-las."

Educação
Segundo Souza, o objetivo da educação entre os "brancos" era o de preparar líderes para retornarem à tribo. "Só assim os índios terão condições de batalhar pelo desenvolvimento da tribo."
As crianças eram mantidas no local com doações promovidas por escolas e aposentados. "A prefeitura até que nos ajudou no início, com cestas básicas, mas parou de enviá-las."
A alternativa encontrada pelo sertanista é um recurso na Justiça para tentar obter o terreno de volta. "Estamos tentando fazer um embargo para obter novamente o terreno. Nem o juiz sabia que havia crianças morando ali. Para ele era apenas um terreno."
A Folha não conseguiu contato com o juiz para comentar o caso.
Mesmo com a possibilidade de retomar a posse do terreno, Souza acredita que seja melhor o retorno dos índios devido a uma possível demora no decorrer da ação. "Já entrei em contato com a Funai e pedi para retirá-los daqui."



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