São José dos Campos, Domingo, 24 de Setembro de 2000

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Setor de telefonia não acompanha boom tecnológico

Lucio Piton/Folha Imagem
Antena de telefonia celular da Ceterp, que foi comprada pela Telefônica, em Ribeirão Preto


DA REDAÇÃO

O avanço verificado no desenvolvimento da tecnologia no país, principalmente no setor de telecomunicações, não vem sendo acompanhado no mesmo nível pelas empresas da área de telefonia fixa em relação à qualidade.
A indústria de telecomunicações apresentou um faturamento de US$ 5,6 bilhões no primeiro semestre deste ano, 40% superior ao valor obtido pelo setor em 99, de acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Mesmo assim, nenhuma das 38 operadoras de telefonia fixa cumpriu todas as metas de qualidade no atendimento e de universalização (quantidade de telefones instalados) na prestação do serviço estipuladas pela agência nos contratos de concessão. O processo de privatização foi iniciado em 96.
Hoje, o setor no Brasil é administrado por várias companhias telefônicas, divididas por região.
As que atuam em nível nacional (serviços de longa distância nacional e internacional) são a Embratel e a empresa-espelho Intelig.
As empresas-espelho são autorizadas pelo governo a operar nas mesmas áreas de concessão de companhias privatizadas.
Mais da metade das ligações de longa distância feitas nos períodos da tarde e da noite não são completadas, segundo balanço de cumprimento de metas divulgado em agosto pela Anatel.
As multas previstas são de até R$ 50 milhões, mas nunca uma operadora teve de pagar. Telefônica e Vésper (empresa-espelho) foram algumas das operadoras que mais deixaram de cumprir metas ou prestar informações.
De janeiro a junho de 2000, foram abertos, na área da Vésper em São Paulo, 72 Pados (Procedimento de Apuração de Descumprimento de Obrigações). A Vésper atende 17 Estados e prevê investir US$ 5 bilhões em cinco anos. Até o final de 2000, deverá ser cerca de US$ 1,7 bilhão.
A empresa começou a atuar há cerca de oito meses e já tem 350 mil linhas vendidas no país. O fato de ter começado a instalar uma rede a partir do zero é apontado como uma das causas do não-cumprimento de parte das metas estabelecidas pela Anatel.
"Alguns dos números apontados pela Anatel são imprecisos, mas estamos tentando nos ajustar e acertar. Acredito que em três ou quatro meses, vamos estar cumprindo as metas", disse Rodolpho Cardenuto, vice-presidente de marketing e vendas da Vésper.
A Telefônica, que teve 91 Pados, informou que atingiu, em agosto, 11 milhões de linhas instaladas no Estado, superando a meta prevista pela Anatel com um ano e quatro meses de antecedência. A empresa considera positivo sua atuação nos indicadores de qualidade.
A Embratel, maior rede de telecomunicações da América Latina, com 23 milhões de clientes, teve 15 Pados. A MCI Communications Corporation, que controla a empresa, já investiu US$ 2 bilhões no mercado de telefonia local.
O vice-presidente da agência, Luiz Francisco Perrone, disse que a qualidade do serviço já apresentou melhoras, mas ainda não foram suficientes. "Em alguns aspectos, deixamos ainda a desejar em relação aos países desenvolvidos, como a telefonia pública. Mas também avançamos em outras. O número de telefones mais que dobrou nos últimos três anos. Uma linha custava uns R$ 4.000 ou R$ 5.000. Hoje, tem empresa que cobra R$ 50 pela habilitação."
O professor Marcelo Pinho, da Faculdade de Engenharia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Guaratinguetá, especialista em sistema de comunicações, disse que a Anatel deu prazos razoáveis para que as operadoras se adequassem às metas.
"Todas as exigências estavam na concorrência, então, as empresas sabiam das regras do jogo. Quando entraram, sabiam dos investimentos que teriam de fazer. Os padrões determinados pela Anatel são realmente elevados, mas estão dentro do que é possível fazer se considerarmos o retorno que esse mercado dá."
A telefonia começou a expandir no Brasil principalmente a partir de 97. "Nos países desenvolvidos, foi no início dos anos 80." Para ele, a maior parte da tecnologia aplicada na telefonia é importada. "Estamos seguindo para desenvolver uma tecnologia própria."


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