São José dos Campos, Sexta-feira, 27 de Julho de 2001

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SÃO JOSÉ, 234 ANOS
Crescimento vertiginoso em 50 anos consolida pólo tecnológico e industrial, mas amplia problemas
São José tenta manter status econômico em meio às crises

Claudio Capucho/Folha Imagem
Vista de São José dos Campos, na região dos bairros Vila Adyana, Vila Ema, Jardim Esplanada e São Dimas


JOSÉ BENEDITO DA SILVA
EDITOR-ASSISTENTE DA FOLHA VALE
CRISTIANE MORAES
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

Maior potência industrial do Vale do Paraíba, primeira cidade do interior do Estado de São Paulo em arrecadação de ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), 7ª cidade do Estado e 28ª do país em população e um dos principais pólos tecnológicos do país, São José dos Campos completa hoje 234 anos de história.
No aniversário, há muito o que se comemorar. Em cinco décadas, a população da cidade saltou de 44.804 habitantes, em 1950, para 538.909, em 2000 -um espantoso crescimento de 1.102%.
O aumento da população em São José é quatro vezes maior que o crescimento verificado no país, cuja população passou de 51,8 milhões, em 50, para 169,5 milhões, em 2000 -salto de 227,22%.
O crescimento populacional foi fruto da migração de trabalhadores em busca de emprego.
Primeiro, foram os pioneiros mineiros do sul de Minas Gerais, que inauguraram as primeiras correntes migratórias para a cidade, onde fundaram o bairro de Santana, um dos orgulhos do município até hoje.
O objetivo da odisséia mineira era buscar empregos nas recém-instaladas indústrias de São José dos Campos, como a mitológica Tecelagem Parahyba e a histórica indústria de cerâmicas do início do século passado.
Na trilha aberta pelos mineiros, vieram, anos depois, gente de todas as partes do país para trabalhar no recente pólo industrial aberto a partir da criação da via Dutra, em 51.
Enquanto criava aquela que seria uma das maiores concentrações de metalúrgicos do Estado -a cidade emprega hoje cerca de 45 mil trabalhadores no setor-, São José dos Campos também se preparava para receber outra categoria que foi fundamental na consolidação da cidade -os militares.
A criação do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), da Avibrás, que foi uma das maiores indústrias bélicas do país, e, principalmente, da Embraer, transformou São José dos Campos em palco de um dos mais arrojados projetos militares já engendrados no país, que era a auto-suficiência na produção de aviões e de tecnologia militar.
Do sonho dos brigadeiros, que virou pó após a privatização da Embraer e a derrocada da indústria bélica em todo o mundo, sobraram, no entanto, cerca de 13 mil empregos na Embraer, uma das melhores instituições de ensino superior do país (o ITA) e a consolidação de um pólo tecnológico-aerospacial, que reúne 160 empresas e emprega 13.500 pessoas.
Depois dos primeiros trabalhadores vindos de Minas Gerais, dos primeiros metalúrgicos e dos militares, outro tipo de migrante instalou-se no Vale do Paraíba: os profissionais altamente especializados das indústrias multinacionais de ponta, que investiram e se consolidaram na cidade nos últimos anos.
Para empresas como Johnson & Johnson, Ericsson, Kodak e Embraer, entre as muitas outras existentes, vêm técnicos e executivos de todas as partes do planeta, da Europa à Ásia.
Também de outros países, vieram cientistas e pesquisadores para desenvolverem seus trabalhos nos centros de pesquisa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do CTA, do ITA e das grandes multinacionais.
Cinquenta anos depois da grande virada que marcou a transição entre a fase sanatorial e a fase moderna da cidade, São José é uma cidade fruto de todo esse processo -multicultural, multinacional, mas extremamente identificada com os valores culturais e sociais do Vale.
Ao completar 234 anos, no entanto, São José dos Campos tem que pensar o futuro em busca de soluções para os próximos desafios, todos frutos do complexo nível econômico, urbano e político que a cidade alcançou.
O primeiro deles é como manter o status atingido em meio às seguidas crises econômicas advindas do frágil processo de globalização, que transfere grandes problemas de um país para outro em questão de poucas horas.
Assim, os reflexos da crise argentina e do racionamento de energia elétrica, por exemplo, já provocaram o corte de 628 vagas de trabalho no mercado formal de emprego entre os metalúrgicos, apenas no período maio/junho deste ano.
A crise reavivou o velho sindicalismo combativo da cidade e uniu a classe empresarial em busca de soluções para conter a ameaça representada pelo sinal vermelho das demissões.
Além da crise de emprego, outras insistem em se manter como desafios aos atuais e aos próximos governantes, como as questões do aumento da violência e do mau atendimento na área da saúde.
Bolsões de miséria da cidade, como alguns bairros da zona sul, registram índices altíssimos de violência, sendo que a maioria das mortes envolve adolescentes e está ligada ao tráfico de drogas.
Há, ainda, o aumento de outros crimes, como sequestros e assaltos a bancos, praticados em todas as áreas da cidade e em qualquer hora do dia.
Apesar do aumento do Orçamento municipal ao longo dos anos, áreas como a saúde, por exemplo, ainda deixam a desejar, principalmente nos bairros mais pobres e mais populosos.
Os governantes e a sociedade civil de São José dos Campos precisam e devem se mobilizar para enfrentar todos os problemas que a condição de metrópole conquistada pela cidade deve continuar trazendo aos seus moradores.


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