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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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MERCADO

Fábricas como Troller, Lobini e Matra vivem de suprir as brechas de mercado deixadas pelas grandes montadoras

Nichos dão vida a "artesanato automotivo"

DA REDAÇÃO

Sem a obrigação de "agradar a gregos e troianos", que delimita a criatividade dos engenheiros das grandes montadoras multinacionais, alguns empresários automotivos brasileiros estão aproveitando nichos de mercado que não são ocupados nem por gregos nem por troianos.
É o caso da Lobini, empresa que mira os consumidores que admiram esportivos de luxo, mas que não teriam dinheiro para comprar uma Ferrari nem pelo sistema de consórcio.
Esse era o plano original. Mas a coisa mudou. "Nossos clientes são colecionadores e apreciadores de carro. Os que já reservaram um Lobini têm Porsche, Ferrari ou os dois", conta Eduardo Menga, 50, diretor-superintendente da empresa baseada em Jarinu (71 km ao norte de São Paulo).
O número de interessados supera a capacidade de produção da empresa. Segundo o diretor, há 35 reservas e mais de 20 pessoas na lista de espera. E não são só consumidores brasileiros que estão atrás do esportivo.
"Entre as 35 reservas confirmadas, cinco foram feitas por clientes do Reino Unido", conta Menga. O prazo entre a reserva e o recebimento de um Lobini -que custa de US$ 30 mil a US$ 35 mil- é de cerca de um ano.

Campo
Exportação é um sonho que ainda está longe dos planos da paranaense Matra, produtora da picape que leva seu nome. Robusta, a princípio ela foi criada para encarar o trabalho duro das fazendas.
"Com o tempo, carros como o [Toyota] Bandeirante e outros destinados a esse tipo de usuário foram sumindo do mercado. Aproveitei a oportunidade para desenvolver um modelo baseado no Mercedes Unimog", conta Nivaldo Rubens Trama, 59, presidente da empresa.
Ele, que é o maior produtor de soja da região de Buri (252 km a oeste de São Paulo), diz ter sentido na pele a necessidade de um veículo como o que hoje fabrica. "As importadas são caras e não aguentam esse tipo de trabalho."
Se da observação no campo surgiu a idéia, foi nas pistas que Trama aprendeu o bê-a-bá automobilístico. E o professor foi ninguém menos que o tricampeão de F-1 Nelson Piquet, com quem o então agricultor dividia uma equipe de preparação de carros.
Com base nas vendas, o empresário acertou ao estimar seu público. Em geral, são fazendeiros, mineradores e, na área urbana, empresas distribuidoras de gás e supermercados, por exemplo.
"Muita gente considera nosso carro feio. Concordo, e isso é até proposital", admite Trama. "Não produzimos uma picape pequena que, no final das contas, presta-se mais à cidade que ao campo."
Mas isso não impede que, nas próximas versões, o modelo ganhe itens de conforto como ar-condicionado. Por enquanto, o que impera é a simplicidade.
Vendida por preços que começam em R$ 41 mil, a picape é vendida sem a caçamba, tem versões com cabine dupla ou estendida e pode ser equipada com tração integral ou 4x2.

Aventura
O maior sucesso recente desse setor quase artesanal da indústria automobilística brasileira é o jipe Troller, que já conta cerca de 3.000 unidades circulando pelas ruas e trilhas do país.
Assim como os idealizadores da Lobini, a fábrica cearense atirou no que viu e acertou no que não viu. "No início, pensávamos em produzir um veículo para profissionais liberais e executivos que estivessem em busca de um pouco de aventura", destaca Clecio Antonio Eloy, 38, diretor-executivo da empresa.
Hoje, o carro seduz jovens -endinheirados, pois os preços começam acima da casa dos R$ 50 mil- urbanos. Segundo o diretor, os primeiros proprietários do jipe o utilizavam como terceiro carro da família.
"Mas, em São Paulo [que consome 35% da produção mensal de 30 jipes da Troller], as pessoas começaram a usar o veículo para driblar o rodízio. Passaram a gostar da altura, do conforto de carro de passeio e adotaram o Troller como primeiro carro."
Para os executivos da empresa, seus maiores concorrentes não são outros jipes. Eles consideram que os possíveis consumidores de Troller hoje estão rodando em picapes com tração integral.
"Na nossa avaliação, há muita gente comprando picapes, apesar das caçambas, que, na maioria dos casos, só servem para quebrar o galho dos amigos e levar a geladeira deles até a casa de praia. É esse o público que a gente quer." (EDSON FRANCO E LUÍS PEREZ)


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