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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
JAIME ARDILA
Hummer e Cadillac serão vendidos aqui
Presidente da GM não dá data, mas confirma que marcas globais do grupo chegarão ao
Brasil; filial brasileira respondeu, em 2007,
por um terço do aumento de vendas mundial
Rick Wagoner, presidente mundial da General Motors, deve ter levado em consideração a capacidade de
Jaime Ardila de guardar segredos ao indicá-lo para o
posto mais alto da filial brasileira. Na entrevista concedida à Folha no dia 21, Ardila negou uma nova fábrica no Brasil e não confirmou a importação do
Chevrolet Captiva. No dia seguinte, a Prefeitura de
Joinville (SC) anunciou a instalação de uma fábrica
de motores lá. Após 72 horas, a GM divulgou a importação do utilitário esportivo.
(JOSÉ AUGUSTO AMORIM)
O Captiva, uma das atrações
da Chevrolet no Salão de São
Paulo, em outubro, faz parte da
estratégia de Ardila de importar carros de baixo volume e fazer aqui os que vendem muito.
Colombiano de uma família
cafeeira de Pereira, Ardila, 52,
assumiu a GM do Brasil em novembro. "O Brasil é o único
país, no mundo emergente, que
tem qualidades similares às
que os EUA tiveram para se desenvolver no último século."
Sem revelar nenhum detalhe
sobre a família que será feita no
Mercosul em 2009, Ardila recebeu a Folha em seu escritório, em São Caetano do Sul, feliz com o que viu até agora.
FOLHA - O que há de tão especial
com a GM para fazê-lo feliz?
JAIME ARDILA - O mercado está
mais aquecido do que esperávamos, 2007 foi uma surpresa.
Com a crise econômica dos
EUA, ficamos um pouco preocupados se a economia brasileira poderia resistir. Para nossa
surpresa, as coisas estão indo
muito bem. O mercado foi muito forte em janeiro, e fevereiro
está ainda mais forte.
FOLHA - Como conseguir o primeiro lugar de vendas?
ARDILA - Estamos fazendo os
investimentos necessários para
eliminar os gargalos de produção que temos, especialmente
na área de motores. Anunciamos um terceiro turno aqui na
planta de São Caetano [a partir
de maio], o que nos dará 50 mil
unidades a mais. Eu não tenho
um número de participação de
mercado na cabeça. Eu quero
crescer, crescer rápido.
FOLHA - O aumento de produção
vai ser só de Corsa e Montana?
ARDILA - Vai ser de tudo. Com
exceção da S10, podemos aumentar quase tudo.
FOLHA - O problema é o motor 1.4?
ARDILA - O problema é a Família 1 [1.0, 1.4 e 1.8]. Na Família 2
[2.0 e 2.4], temos alguma capacidade. E há mais gargalos em
alguns componentes, por
exemplo, cabeçotes.
FOLHA - A GM ainda vende motores 1.8 para a Fiat?
ARDILA - É um contrato que firmamos há alguns anos e vamos
respeitá-lo. Não é um tema [importante] porque sabemos que
temos uma quantidade fixa para entregar até 2010.
FOLHA - A fila de espera para alguns modelos é de até três meses.
Quando o sr. estima que acabará?
ARDILA - É difícil falar, pois o
mercado está crescendo muito
mais rapidamente do que todos
esperavam. Este ano vai ser
muito melhor para nossos
clientes porque, com a produção adicional em São Caetano,
vamos reduzir a fila de espera.
FOLHA - A GM pode construir mais
uma fábrica?
ARDILA - Temos uma boa capacidade nas nossas plantas. Temos ainda a possibilidade de
mais turnos em São José [dos
Campos] e em Gravataí [RS], de
aumentar a produção em Rosário [Argentina] e podemos melhorar a produtividade. Uma
nova fábrica é uma possibilidade para um mercado de 5 milhões de unidades no Brasil.
FOLHA - Como fazer mais uma família no Brasil e na Argentina?
ARDILA - Os modelos que vamos fabricar no Brasil vão ser
os de alto volume, e vamos
complementar isso com algumas importações. Utilitários
médios e grandes e sedãs grandes de luxo serão importados.
FOLHA - Isso significa que Blazer
vai deixar de ser feito?
ARDILA - Isso significa que a
próxima geração de utilitários
grandes será importada.
FOLHA - Existe a possibilidade de
ter algum modelo além do Omega?
ARDILA - Consideramos um
carro entre o Vectra e o Omega.
FOLHA - Por que a linha da GM é
tão desatualizada?
ARDILA - Não posso concordar
com essa afirmação.
FOLHA - Na Europa, Zafira e Corsa
mudaram, Meriva está para mudar.
ARDILA - Corsa, Celta, Classic
têm muito tempo no mercado
precisamente pelo sucesso. É
verdade que alguns produtos já
mudaram para uma nova tecnologia na Europa, mas as diferenças são para cumprir regulamentações que não temos.
FOLHA - O consumidor busca produtos que a GM não tem, como o
Ford EcoSport. Qual o plano?
ARDILA - Temos planos de
atender os segmentos nos quais
não temos participação significativa ou não concorremos. Para os utilitários pequenos, temos planos e também um produto cuja aceitação é grande, o
Tracker. Poderíamos vender
mais, mas temos um gargalo de
produção na Argentina.
FOLHA - O conceito Prisma Y faz
parte desses planos?
ARDILA - Não [risos].
FOLHA - A crise mundial da GM afeta o Brasil?
ARDILA - O crescimento fraco
dos mercados dos EUA e da Europa faz com que a importância
dos emergentes seja ainda
maior. O crescimento das nossas vendas mundiais em 2007
foi de aproximadamente 300
mil unidades; no Brasil, foi de
100 mil carros. O país será ainda mais importante para o crescimento global da GM.
FOLHA - Neste ano, a GM vai crescer quanto aqui no Brasil?
ARDILA - Mais de 10%.
FOLHA - Para seu antecessor, Ray
Young, um mercado com 2 milhões
de vendas comportaria outras marcas do grupo. Os 2 milhões já foram
batidos, mas a Cadillac não chegou.
ARDILA - As duas marcas da GM
que estamos estudando são
Hummer e Cadillac. Ainda não
tomamos uma decisão sobre o
momento apropriado para introduzi-las. São marcas globais,
quer dizer, a GM quer vender
em todo o mundo. Algum dia
vão vir para o Brasil.
FOLHA - O Hummer desenvolvido
no Brasil já está pronto?
ARDILA - Não está pronto, mas
vai ser lançado nos EUA em
agosto. É o H3T.
FOLHA - O Brasil ganhou muita importância com a estrutura de centros de desenvolvimento regionais?
ARDILA - Ganhou. Há duas plataformas muito importantes,
de Hummer e de picapes compactas, que desenvolvemos
aqui. Mas eu gostaria de ver o
Brasil desenvolvendo a próxima geração do Celta.
FOLHA - Ela será feita na Coréia?
ARDILA - Está sendo feita na
Coréia, que tem a responsabilidade de carro pequeno global.
FOLHA - É um caminho copiar o desenho externo europeu e manter o
interior, como foi feito no Vectra?
ARDILA - Não é uma saída boa
porque os clientes, em todos os
países, estão ficando muito sofisticados. O brasileiro viaja,
usa a internet, é exigente.
FOLHA - Esse perfil só vale para os
carros mais caros?
ARDILA - É verdade que os equipamentos dos carros pequenos
podem não ser comparados aos
dos pequenos dos EUA ou da
Europa, mas são comparáveis
aos de China, Coréia e todos os
mercados emergentes.
FOLHA - Pode ser que a GM importe carro da China?
ARDILA - Não vejo sentido.
FOLHA - E da Coréia?
ARDILA - A Coréia tem muito
mais avanço em desenvolvimento de produto que a China.
Então a Coréia tem plataformas muito interessantes.
FOLHA - Como o Captiva?
ARDILA - Como o Captiva.
FOLHA - Quando a GM começa a tirar vantagem do acordo comercial
com o México?
ARDILA - Do lado da exportação, aproveitamos muito. Do da
importação, será no futuro próximo, pode ser ainda neste ano.
FOLHA - Por que a Argentina já
vende Avalanche, e o Brasil não?
ARDILA - É muito mais fácil importar para a Argentina. As regulamentações de calibração
do motor para nosso combustível tomam tempo e dinheiro.
FOLHA - Corvette não tem chance?
ARDILA - [risos] É o que os concessionários perguntam. É difícil considerar o Corvette porque os volumes para o Brasil seriam muito pequenos.
FOLHA - Algo da experiência brasileira com motores bicombustíveis
foi mandado para os EUA?
ARDILA - Tentamos promover,
nos EUA, a adoção de tecnologia similar à do Brasil. Tentamos que os EUA eliminem as
barreiras para importar o álcool brasileiro. O [motor] E85
[roda com 85% de álcool] é parecido com o que temos aqui.
FOLHA - Um motor feito lá poderia
ser importado para o Brasil?
ARDILA - A maioria dos novos
veículos vai ser calibrada automaticamente para o Brasil. É
muito mais fácil: tudo o que for
E85 vai poder ser importado.
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