São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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CAPITÃES DA INDÚSTRIA

JAIME ARDILA


Hummer e Cadillac serão vendidos aqui

Presidente da GM não dá data, mas confirma que marcas globais do grupo chegarão ao Brasil; filial brasileira respondeu, em 2007, por um terço do aumento de vendas mundial

Rick Wagoner, presidente mundial da General Motors, deve ter levado em consideração a capacidade de Jaime Ardila de guardar segredos ao indicá-lo para o posto mais alto da filial brasileira. Na entrevista concedida à Folha no dia 21, Ardila negou uma nova fábrica no Brasil e não confirmou a importação do Chevrolet Captiva. No dia seguinte, a Prefeitura de Joinville (SC) anunciou a instalação de uma fábrica de motores lá. Após 72 horas, a GM divulgou a importação do utilitário esportivo. (JOSÉ AUGUSTO AMORIM)

O Captiva, uma das atrações da Chevrolet no Salão de São Paulo, em outubro, faz parte da estratégia de Ardila de importar carros de baixo volume e fazer aqui os que vendem muito. Colombiano de uma família cafeeira de Pereira, Ardila, 52, assumiu a GM do Brasil em novembro. "O Brasil é o único país, no mundo emergente, que tem qualidades similares às que os EUA tiveram para se desenvolver no último século." Sem revelar nenhum detalhe sobre a família que será feita no Mercosul em 2009, Ardila recebeu a Folha em seu escritório, em São Caetano do Sul, feliz com o que viu até agora.

 

FOLHA - O que há de tão especial com a GM para fazê-lo feliz?
JAIME ARDILA
- O mercado está mais aquecido do que esperávamos, 2007 foi uma surpresa. Com a crise econômica dos EUA, ficamos um pouco preocupados se a economia brasileira poderia resistir. Para nossa surpresa, as coisas estão indo muito bem. O mercado foi muito forte em janeiro, e fevereiro está ainda mais forte.

FOLHA - Como conseguir o primeiro lugar de vendas?
ARDILA
- Estamos fazendo os investimentos necessários para eliminar os gargalos de produção que temos, especialmente na área de motores. Anunciamos um terceiro turno aqui na planta de São Caetano [a partir de maio], o que nos dará 50 mil unidades a mais. Eu não tenho um número de participação de mercado na cabeça. Eu quero crescer, crescer rápido.

FOLHA - O aumento de produção vai ser só de Corsa e Montana?
ARDILA
- Vai ser de tudo. Com exceção da S10, podemos aumentar quase tudo.

FOLHA - O problema é o motor 1.4?
ARDILA
- O problema é a Família 1 [1.0, 1.4 e 1.8]. Na Família 2 [2.0 e 2.4], temos alguma capacidade. E há mais gargalos em alguns componentes, por exemplo, cabeçotes.

FOLHA - A GM ainda vende motores 1.8 para a Fiat?
ARDILA
- É um contrato que firmamos há alguns anos e vamos respeitá-lo. Não é um tema [importante] porque sabemos que temos uma quantidade fixa para entregar até 2010.

FOLHA - A fila de espera para alguns modelos é de até três meses. Quando o sr. estima que acabará?
ARDILA
- É difícil falar, pois o mercado está crescendo muito mais rapidamente do que todos esperavam. Este ano vai ser muito melhor para nossos clientes porque, com a produção adicional em São Caetano, vamos reduzir a fila de espera.

FOLHA - A GM pode construir mais uma fábrica?
ARDILA
- Temos uma boa capacidade nas nossas plantas. Temos ainda a possibilidade de mais turnos em São José [dos Campos] e em Gravataí [RS], de aumentar a produção em Rosário [Argentina] e podemos melhorar a produtividade. Uma nova fábrica é uma possibilidade para um mercado de 5 milhões de unidades no Brasil.

FOLHA - Como fazer mais uma família no Brasil e na Argentina?
ARDILA
- Os modelos que vamos fabricar no Brasil vão ser os de alto volume, e vamos complementar isso com algumas importações. Utilitários médios e grandes e sedãs grandes de luxo serão importados.

FOLHA - Isso significa que Blazer vai deixar de ser feito?
ARDILA
- Isso significa que a próxima geração de utilitários grandes será importada.

FOLHA - Existe a possibilidade de ter algum modelo além do Omega?
ARDILA
- Consideramos um carro entre o Vectra e o Omega.

FOLHA - Por que a linha da GM é tão desatualizada?
ARDILA
- Não posso concordar com essa afirmação.

FOLHA - Na Europa, Zafira e Corsa mudaram, Meriva está para mudar.
ARDILA
- Corsa, Celta, Classic têm muito tempo no mercado precisamente pelo sucesso. É verdade que alguns produtos já mudaram para uma nova tecnologia na Europa, mas as diferenças são para cumprir regulamentações que não temos.

FOLHA - O consumidor busca produtos que a GM não tem, como o Ford EcoSport. Qual o plano?
ARDILA
- Temos planos de atender os segmentos nos quais não temos participação significativa ou não concorremos. Para os utilitários pequenos, temos planos e também um produto cuja aceitação é grande, o Tracker. Poderíamos vender mais, mas temos um gargalo de produção na Argentina.

FOLHA - O conceito Prisma Y faz parte desses planos?
ARDILA
- Não [risos].

FOLHA - A crise mundial da GM afeta o Brasil?
ARDILA
- O crescimento fraco dos mercados dos EUA e da Europa faz com que a importância dos emergentes seja ainda maior. O crescimento das nossas vendas mundiais em 2007 foi de aproximadamente 300 mil unidades; no Brasil, foi de 100 mil carros. O país será ainda mais importante para o crescimento global da GM.

FOLHA - Neste ano, a GM vai crescer quanto aqui no Brasil?
ARDILA
- Mais de 10%.

FOLHA - Para seu antecessor, Ray Young, um mercado com 2 milhões de vendas comportaria outras marcas do grupo. Os 2 milhões já foram batidos, mas a Cadillac não chegou.
ARDILA
- As duas marcas da GM que estamos estudando são Hummer e Cadillac. Ainda não tomamos uma decisão sobre o momento apropriado para introduzi-las. São marcas globais, quer dizer, a GM quer vender em todo o mundo. Algum dia vão vir para o Brasil.

FOLHA - O Hummer desenvolvido no Brasil já está pronto?
ARDILA
- Não está pronto, mas vai ser lançado nos EUA em agosto. É o H3T.

FOLHA - O Brasil ganhou muita importância com a estrutura de centros de desenvolvimento regionais?
ARDILA
- Ganhou. Há duas plataformas muito importantes, de Hummer e de picapes compactas, que desenvolvemos aqui. Mas eu gostaria de ver o Brasil desenvolvendo a próxima geração do Celta.

FOLHA - Ela será feita na Coréia?
ARDILA
- Está sendo feita na Coréia, que tem a responsabilidade de carro pequeno global.

FOLHA - É um caminho copiar o desenho externo europeu e manter o interior, como foi feito no Vectra?
ARDILA
- Não é uma saída boa porque os clientes, em todos os países, estão ficando muito sofisticados. O brasileiro viaja, usa a internet, é exigente.

FOLHA - Esse perfil só vale para os carros mais caros?
ARDILA
- É verdade que os equipamentos dos carros pequenos podem não ser comparados aos dos pequenos dos EUA ou da Europa, mas são comparáveis aos de China, Coréia e todos os mercados emergentes.

FOLHA - Pode ser que a GM importe carro da China?
ARDILA
- Não vejo sentido.

FOLHA - E da Coréia?
ARDILA
- A Coréia tem muito mais avanço em desenvolvimento de produto que a China. Então a Coréia tem plataformas muito interessantes.

FOLHA - Como o Captiva?
ARDILA
- Como o Captiva.

FOLHA - Quando a GM começa a tirar vantagem do acordo comercial com o México?
ARDILA
- Do lado da exportação, aproveitamos muito. Do da importação, será no futuro próximo, pode ser ainda neste ano.

FOLHA - Por que a Argentina já vende Avalanche, e o Brasil não?
ARDILA
- É muito mais fácil importar para a Argentina. As regulamentações de calibração do motor para nosso combustível tomam tempo e dinheiro.

FOLHA - Corvette não tem chance?
ARDILA
- [risos] É o que os concessionários perguntam. É difícil considerar o Corvette porque os volumes para o Brasil seriam muito pequenos.

FOLHA - Algo da experiência brasileira com motores bicombustíveis foi mandado para os EUA?
ARDILA
- Tentamos promover, nos EUA, a adoção de tecnologia similar à do Brasil. Tentamos que os EUA eliminem as barreiras para importar o álcool brasileiro. O [motor] E85 [roda com 85% de álcool] é parecido com o que temos aqui.

FOLHA - Um motor feito lá poderia ser importado para o Brasil?
ARDILA
- A maioria dos novos veículos vai ser calibrada automaticamente para o Brasil. É muito mais fácil: tudo o que for E85 vai poder ser importado.


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