Equipamento de conforto rouba potência, em especial dos motores 1.0; consumo sobe 15%

DA REDAÇÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dados de mercado indicam que 30% dos carros são produzidos com ar-condicionado. Mas, se o motorista fica numa temperatura agradável, também pode correr risco. Levantamento da Folha mostra que o tempo de uma retomada aumenta até 22% com o ar ligado.
Para ir de 60 km/h a 120 km/h -uma das retomadas mais comuns em estradas-, um Ford Ka 1.0 leva 26,50s com o equipamento desligado e 32,34s com ele acionado. Isso quer dizer que o compacto precisa de 97 m a mais para completar uma ultrapassagem.
De acordo com a Ford, seus projetos são desenvolvidos para ocasionar a menor diferença possível. Os testes internos indicam uma variação de 5%.
A Fiat Palio Weekend, com 1.368 cm3 de cilindrada, é o carro que registra a menor perda, 1,8%. Ela foge à regra, já que, quanto mais potente o motor, menos a interferência do equipamento é notada. Em média, os 1.0 perdem 10,7% da performance, enquanto os mais fortes ficam 6% menos ágeis.
Dono da retomada mais rápida, o Honda Accord 2.0 perde 10,8%: 12,99s ante 14,39s. Para ir de 60 km/h a 120 km/h, são necessários 23 m a mais com o habitáculo resfriado.
"Em geral, ninguém usa os 200 cv [cavalos] que o motor oferece. Assim, sobra potência para o ar operar tranqüilamente", explica Antonio Luís de Campos Mariani, professor do departamento de engenharia mecânica da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Mas um "popular", que tem, em média, 70 cv, não conta com nenhum extra.
A mesma lógica é aplicada às ladeiras. Como o propulsor exige mais potência para subir, o ar-condicionado "atrapalha".
Para não pôr em risco a vida de ninguém, os aparelhos têm evoluído. Desde 1995, um dispositivo reconhece a necessidade emergencial e, automaticamente, desliga o compressor.
"Quando o motorista pisa no acelerador até o fim, o compressor é desligado de 10s a 15s. É pouco tempo, e o sistema continua gelado", explica Roger Guilherme, supervisor de motores e câmbios da Volkswagen. Ele lembra ainda que o ar-condicionado faz o consumo crescer, pelo menos, 15%.

Metodologia
Para chegar a todas essas conclusões, a Folha estudou o tempo de retomada entre 60 km/h e 120 km/h aferido pelo Instituto Mauá de Tecnologia para 19 automóveis: todos os "populares" hatchbacks e os líderes de cada categoria, de acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Para unificar o critério de comparação, foi considerada a performance com gasolina, a não ser para a Chevrolet S10. O equipamento de conforto causa um decréscimo de 6,4% na agilidade da picape a diesel.
No caso dos flexíveis, a diferença é próxima de um ponto percentual. Entre os "populares", o álcool ajuda a roubar menos potência do motor (as perdas são de 7,7% e 8,8%), enquanto os veículos mais potentes são beneficiados pelo uso da gasolina (5,2% contra 6,1%).


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