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CAPITÃES DA INDÚSTRIA
SHO MINEKAWA
Estamos cientes da necessidade do Fit Flex automático
Presidente não confirma vinda do novo Fit, mas diz que Brasil pode esperar outra versão "verde"
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS
Quem visita o Japão tem a impressão de ser acolhido
por um povo cordial, calmo, educado, discreto. É assim que se comporta Sho Minekawa, 53, responsável
pelas operações da Honda na América do Sul desde
abril de 2007. Ele mostra outro traço japonês: o respeito ao próximo -nesse caso, o consumidor.
É também com paciência
oriental que Minekawa resume
a situação da Honda no Brasil:
"Foi com bastante esforço e paciência que conseguimos chegar a esse patamar. Pode ser
que algumas necessidades ou
vontades de clientes não tenham sido atingidas ainda". E
promete que "agora é hora de
dar o segundo avanço".
A série Capitães da Indústria,
suspensa por problemas de
agenda do executivo -ele vai ao
Japão ao menos seis vezes por
ano-, chega ao fim. Não quiseram participar os presidentes
de Citroën, Peugeot e Toyota.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Minekawa, concedida na quinta-feira. Ainda sem se sentir seguro
para falar português, ele respondeu à Folha em japonês, e
Paulo Takeuchi, diretor-sênior
de relações institucionais da
Honda, foi o tradutor.
FOLHA - Qual a importância do
mercado brasileiro para a Honda?
SHO MINEKAWA - O mercado
brasileiro é muito importante.
Por esse motivo, no caso das
duas rodas, a Honda já está [no
país] há mais de 30 anos e passou por várias dificuldades,
mas sempre se manteve presente. Lógico que hoje o segmento de duas rodas tem outro
cenário, com a produção de
mais de 1 milhão [de unidades].
O de quatro rodas também.
Ficamos praticamente, nos primeiros dez anos, numa situação bem complicada até termos
resultados positivos. A Honda
suportou vários momentos difíceis exatamente pelo potencial que o país tem e, dessa forma, ela sempre ficou bem
enraizada ao mercado.
FOLHA - O sucesso que a Honda
tem com motos ajudou com carros?
MINEKAWA - Um dos pontos estratégicos da Honda são as duas
rodas. Não só no Brasil mas em
vários países a Honda se estabeleceu inicialmente com duas
rodas para abrir o mercado, ganhar experiência. Depois é que
vem o negócio de automóveis.
Essa experiência não é só para conhecer o mercado mas,
principalmente, para a formação das pessoas. Quando se implantou a fábrica de automóveis em Sumaré, tínhamos pessoas formadas e experientes.
FOLHA - Os resultados positivos
vieram quando?
MINEKAWA - Mais ou menos há
três, quatro anos. Coincidem
com o lançamento dos "flex".
FOLHA - Os modelos bicombustíveis foram lançados há dois anos.
MINEKAWA - É, mais ou menos.
FOLHA - Por que a Honda foi uma
das últimas a ter o sistema flexível?
MINEKAWA - As montadoras japonesas tiveram certa dificuldade de assimilar toda a sistemática, o que atrasou o desenvolvimento da tecnologia para
satisfazer o público.
FOLHA - A Honda tem o sistema
mais diferente, com um bocal separado para o tanque de partida a frio.
MINEKAWA - O conceito da
Honda é sempre desenvolver
um veículo pensando na segurança do consumidor. Isso fez
com que, a partir do momento
em que decidimos desenvolver
esse veículo, ele ficasse dentro
das diretrizes da Honda.
FOLHA - O Brasil o aceitou?
MINEKAWA - Algumas reclamações foram em relação à estética, e não à técnica. Nossos técnicos chegaram à conclusão de
que a localização ideal para garantir a segurança era lá.
FOLHA - A Honda faz sucesso com
produtos caros num país muito sensível a preço. Qual o segredo?
MINEKAWA - O país está crescendo economicamente, então
a classe média tem tido uma
participação importante. Algo
parecido ocorreu e ocorre no
Japão. Lá, o veículo com até
600 cm3 era muito comum. Na
medida em que a economia foi
melhorando, a classe média foi
crescendo. É similar ao que
ocorre no Brasil. A demanda
cresceu em todos os sentidos.
FOLHA - Faltam carros nas lojas. A
Honda não seguiu a demanda?
MINEKAWA - Não havia sido planejado que [o crescimento de] a
demanda seria tanta quanto foi.
Não pudemos precisar à época,
até pela preocupação da pergunta anterior: será que um
veículo dessa categoria vai explodir? Na medida em que foi
faltando produto, houve um esforço grande para aumentar a
eficiência. Ampliamos as horas
de trabalho. Com a entrada de
novas pessoas, tudo dentro do
tempo devido para o treinamento da mão-de-obra, aumentamos os turnos.
FOLHA - A fábrica de Sumaré já
atingiu o limite de produção?
MINEKAWA - Ela atingiu 550
carros por dia, que é o limite
atual. Estamos prevendo, para
agosto, o fim de mais uma etapa
para produzir 650 carros.
FOLHA - A fábrica de motores,
inaugurada em junho, ajuda?
MINEKAWA - Ela não veio para
aumentar a produção. É uma
nacionalização de motores, que
antes recebíamos do Japão. Em
termos de produção, não influi
diretamente. Quando você depende de importação, depende
da capacidade produtiva do outro país. Não vamos ficar mais
dependentes, podemos caminhar com as próprias pernas.
FOLHA - Por que ter uma fábrica na
Argentina, e não ampliar a do Brasil?
MINEKAWA - São duas coisas
distintas. A fábrica do Brasil está sendo ampliada e vai continuar. Na Argentina, há um
mercado em crescimento.
FOLHA - Lá será feito um produto
que não é feito no Brasil?
MINEKAWA - Não está definido
qual produto. As duas fábricas
são para sermos competitivos
no Mercosul. Se tivermos de
produzir o mesmo modelo aqui
e lá, será uma possibilidade.
FOLHA - Existe previsão de quando
a fila de espera acabará?
MINEKAWA - Os relatórios de
estoque dos concessionários
mostram que melhorou muito
o tempo de entrega. Mas não
estou falando que resolveu.
FOLHA - A espera é de quanto?
MINEKAWA - De, no máximo, 30
dias. Depende de modelo, cor.
FOLHA - Os importados também?
O CR-V também tem lista de espera.
MINEKAWA - Outra vez não se
previu tanto. Já reforçamos o
pedido e deve agilizar também.
FOLHA - Como o sr. vê o Civic vender mais que o novo Corolla?
MINEKAWA - Essa batalha não é
recente, e já ocorreu de estarmos atrás. No momento, o Civic tem liderado em várias partes do mundo, talvez seja motivo para a Honda focar o cliente
e melhorar o produto.
FOLHA - O novo Fit fará um ano no
Japão. Quando ele muda aqui?
MINEKAWA - Essa mudança só
foi feita no Japão, para o mercado local. Não é mundial.
FOLHA - Os outros mercados vão
continuar com o atual?
MINEKAWA - Existe a idéia [da
mudança do Fit], mas não temos ainda uma data.
FOLHA - O Fit automático nunca
vai ser bicombustível?
MINEKAWA - Tudo depende da
vontade do consumidor, e estamos cientes dessa necessidade.
Precisamos tomar providência.
FOLHA - O câmbio é diferente, mas
o Civic já é automático e flexível.
MINEKAWA - Fica a expectativa
para esse lançamento.
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