São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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CAPITÃES DA INDÚSTRIA

SHO MINEKAWA


Estamos cientes da necessidade do Fit Flex automático

Presidente não confirma vinda do novo Fit, mas diz que Brasil pode esperar outra versão "verde"

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS

Quem visita o Japão tem a impressão de ser acolhido por um povo cordial, calmo, educado, discreto. É assim que se comporta Sho Minekawa, 53, responsável pelas operações da Honda na América do Sul desde abril de 2007. Ele mostra outro traço japonês: o respeito ao próximo -nesse caso, o consumidor.

É também com paciência oriental que Minekawa resume a situação da Honda no Brasil: "Foi com bastante esforço e paciência que conseguimos chegar a esse patamar. Pode ser que algumas necessidades ou vontades de clientes não tenham sido atingidas ainda". E promete que "agora é hora de dar o segundo avanço".
A série Capitães da Indústria, suspensa por problemas de agenda do executivo -ele vai ao Japão ao menos seis vezes por ano-, chega ao fim. Não quiseram participar os presidentes de Citroën, Peugeot e Toyota. Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Minekawa, concedida na quinta-feira. Ainda sem se sentir seguro para falar português, ele respondeu à Folha em japonês, e Paulo Takeuchi, diretor-sênior de relações institucionais da Honda, foi o tradutor.

 

FOLHA - Qual a importância do mercado brasileiro para a Honda?
SHO MINEKAWA
- O mercado brasileiro é muito importante. Por esse motivo, no caso das duas rodas, a Honda já está [no país] há mais de 30 anos e passou por várias dificuldades, mas sempre se manteve presente. Lógico que hoje o segmento de duas rodas tem outro cenário, com a produção de mais de 1 milhão [de unidades]. O de quatro rodas também. Ficamos praticamente, nos primeiros dez anos, numa situação bem complicada até termos resultados positivos. A Honda suportou vários momentos difíceis exatamente pelo potencial que o país tem e, dessa forma, ela sempre ficou bem enraizada ao mercado.

FOLHA - O sucesso que a Honda tem com motos ajudou com carros?
MINEKAWA
- Um dos pontos estratégicos da Honda são as duas rodas. Não só no Brasil mas em vários países a Honda se estabeleceu inicialmente com duas rodas para abrir o mercado, ganhar experiência. Depois é que vem o negócio de automóveis. Essa experiência não é só para conhecer o mercado mas, principalmente, para a formação das pessoas. Quando se implantou a fábrica de automóveis em Sumaré, tínhamos pessoas formadas e experientes.

FOLHA - Os resultados positivos vieram quando?
MINEKAWA
- Mais ou menos há três, quatro anos. Coincidem com o lançamento dos "flex".

FOLHA - Os modelos bicombustíveis foram lançados há dois anos.
MINEKAWA
- É, mais ou menos.

FOLHA - Por que a Honda foi uma das últimas a ter o sistema flexível?
MINEKAWA
- As montadoras japonesas tiveram certa dificuldade de assimilar toda a sistemática, o que atrasou o desenvolvimento da tecnologia para satisfazer o público.

FOLHA - A Honda tem o sistema mais diferente, com um bocal separado para o tanque de partida a frio.
MINEKAWA
- O conceito da Honda é sempre desenvolver um veículo pensando na segurança do consumidor. Isso fez com que, a partir do momento em que decidimos desenvolver esse veículo, ele ficasse dentro das diretrizes da Honda.

FOLHA - O Brasil o aceitou?
MINEKAWA
- Algumas reclamações foram em relação à estética, e não à técnica. Nossos técnicos chegaram à conclusão de que a localização ideal para garantir a segurança era lá.

FOLHA - A Honda faz sucesso com produtos caros num país muito sensível a preço. Qual o segredo?
MINEKAWA
- O país está crescendo economicamente, então a classe média tem tido uma participação importante. Algo parecido ocorreu e ocorre no Japão. Lá, o veículo com até 600 cm3 era muito comum. Na medida em que a economia foi melhorando, a classe média foi crescendo. É similar ao que ocorre no Brasil. A demanda cresceu em todos os sentidos.

FOLHA - Faltam carros nas lojas. A Honda não seguiu a demanda?
MINEKAWA
- Não havia sido planejado que [o crescimento de] a demanda seria tanta quanto foi. Não pudemos precisar à época, até pela preocupação da pergunta anterior: será que um veículo dessa categoria vai explodir? Na medida em que foi faltando produto, houve um esforço grande para aumentar a eficiência. Ampliamos as horas de trabalho. Com a entrada de novas pessoas, tudo dentro do tempo devido para o treinamento da mão-de-obra, aumentamos os turnos.

FOLHA - A fábrica de Sumaré já atingiu o limite de produção?
MINEKAWA
- Ela atingiu 550 carros por dia, que é o limite atual. Estamos prevendo, para agosto, o fim de mais uma etapa para produzir 650 carros.

FOLHA - A fábrica de motores, inaugurada em junho, ajuda?
MINEKAWA
- Ela não veio para aumentar a produção. É uma nacionalização de motores, que antes recebíamos do Japão. Em termos de produção, não influi diretamente. Quando você depende de importação, depende da capacidade produtiva do outro país. Não vamos ficar mais dependentes, podemos caminhar com as próprias pernas.

FOLHA - Por que ter uma fábrica na Argentina, e não ampliar a do Brasil?
MINEKAWA
- São duas coisas distintas. A fábrica do Brasil está sendo ampliada e vai continuar. Na Argentina, há um mercado em crescimento.

FOLHA - Lá será feito um produto que não é feito no Brasil?
MINEKAWA
- Não está definido qual produto. As duas fábricas são para sermos competitivos no Mercosul. Se tivermos de produzir o mesmo modelo aqui e lá, será uma possibilidade.

FOLHA - Existe previsão de quando a fila de espera acabará?
MINEKAWA
- Os relatórios de estoque dos concessionários mostram que melhorou muito o tempo de entrega. Mas não estou falando que resolveu.

FOLHA - A espera é de quanto?
MINEKAWA
- De, no máximo, 30 dias. Depende de modelo, cor.

FOLHA - Os importados também? O CR-V também tem lista de espera.
MINEKAWA
- Outra vez não se previu tanto. Já reforçamos o pedido e deve agilizar também.

FOLHA - Como o sr. vê o Civic vender mais que o novo Corolla?
MINEKAWA
- Essa batalha não é recente, e já ocorreu de estarmos atrás. No momento, o Civic tem liderado em várias partes do mundo, talvez seja motivo para a Honda focar o cliente e melhorar o produto.

FOLHA - O novo Fit fará um ano no Japão. Quando ele muda aqui?
MINEKAWA
- Essa mudança só foi feita no Japão, para o mercado local. Não é mundial.

FOLHA - Os outros mercados vão continuar com o atual?
MINEKAWA
- Existe a idéia [da mudança do Fit], mas não temos ainda uma data.

FOLHA - O Fit automático nunca vai ser bicombustível?
MINEKAWA
- Tudo depende da vontade do consumidor, e estamos cientes dessa necessidade. Precisamos tomar providência.

FOLHA - O câmbio é diferente, mas o Civic já é automático e flexível.
MINEKAWA
- Fica a expectativa para esse lançamento.


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