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ENTREVISTA
Na Alemanha, brasileira domina motor Mercedes
DO ENVIADO ESPECIAL A MALLORCA
(ESPANHA)
Câmara hemisférica, comando de válvula roletado,
pistões "cut-off". Jargões da
engenharia dominada por
homens. Agora imagine uma
mulher, brasileira e negra no
centro de desenvolvimento
de motores da Mercedes-Benz, em Stuttgart (Alemanha). "Cor da pele não é para
se ter orgulho. Sou negra e
mulher, sim, e daí?", indaga a
engenheira Sandra Nascimento Ganser. Gaúcha, ela
diz ter sofrido preconceito e
levado muito "não" antes de
vencer.
(FABIANO SEVERO)
FOLHA - Como começou o interesse por carros?
SANDRA NASCIMENTO GANSER -
Carro sempre foi hobby do
meu pai, engenheiro mecânico. Meu mundo era de "bites" e "bytes", por isso estudei
engenharia eletrônica na
PUC-RS. Fiz estágio na
CIEE [companhia de energia
do RS] até ir para Alemanha
trabalhar como controladora da ABB. Depois de mandar currículo para Deus e o
mundo, fui para a Bosch, que
me contratou para a área automotiva. Depois, segui para
a Mercedes, onde estou até
hoje. Aí aprendi o alemão.
Até então me comunicava na
empresa em inglês.
FOLHA - Nesse tempo, você sofreu preconceito na engenharia?
GANSER - O fato de ser mulher atrapalhou. Há profissões mais adequadas para as
mulheres, principalmente
na Alemanha. A engenharia
é um hábito dos homens.
Existe uma resistência até
alguém conseguir chegar lá.
Mas eu já sofri muito preconceito, principalmente pela cor da pele. Eu era a única
negra na escola, na faculdade, no estágio. Isso não é motivo de orgulho.
FOLHA - Ser brasileira ajudou ou
atrapalhou?
GANSER - A Alemanha gosta
muito de brasileiro. Acho
que pelo fato de eles serem
muito fechados, disciplinados, e os brasileiros mais extrovertidos, mais "lights".
FOLHA - As mulheres são melhores em áreas da engenharia?
GANSER - Não são melhores
nem piores. Depende do seu
"background" sobre o assunto e o quanto você se dedica a
ele. Hoje trabalho na área de
calibração de motores e controles de emissões. Com as
novas normas, é o assunto
mais badalado do momento.
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