São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2009

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Na mira da vistoria

Teste exclusivo revela que um carro sem catalisador polui 20 vezes mais

Marcelo Justo/Folha Imagem
Sonda no escapamento afere emissões no laboratório da Bosch

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

A cena é comum: o motorista chega na loja de escapamento com o catalisador ruim, pergunta o preço e toma um susto: "R$ 700?". Por R$ 40, o mecânico "resolve" o problema: troca o catalisador entupido por um pedaço de cano ou retira o miolo da peça e a deixa oca.
Essa prática, porém, está com os dias contados. Desde o dia 2, a Prefeitura de São Paulo exige que os carros fabricados entre 2003 e 2008 passem por uma vistoria de emissões. Em minutos, o catalisador pode se tornar o mocinho ou o vilão.
A pedido da Folha, a Bosch, fabricante de sistemas de injeção, mediu as emissões de CO (monóxido de carbono), HC (hidrocarbonetos) e CO2 (gás carbônico) de um Volkswagen Gol 1.0 com catalisador original e 52.000 km, que é a média da frota de nove anos do Brasil.
Em seguida, a Bosch repetiu as medições sem o miolo da peça -a prática mais comum para a retirada dos metais preciosos ródio, platina e paládio, que oxidam os gases tóxicos. E o resultado foi preocupante.
Sem o catalisador, o carro poluiu cerca de 20 vezes mais que o veículo original. Não seria reprovado na inspeção porque os níveis do primeiro ano de fiscalização são brandos.
"É um ano de aprendizado para a Controlar [empresa que fiscaliza]. Os índices devem cair", prevê Homero Carvalho, gerente de engenharia da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).
Segundo ele, a Cetesb fez um estudo com 462 veículos fabricados de 1992 a 2007 em São Paulo. Destes, 37% estavam com o catalisador inoperante, poluindo 20 vezes mais. Na frota de 6,5 milhões de carros, equivale a 122 mil toneladas por ano a mais de poluentes.
Valdecir Rebelatto, gerente de engenharia da Mastra, fabricante de catalisadores, conta que alguns lojistas censuram o catalisador, projetado para durar 80.000 km, antes do tempo. "Alguns mecânicos retiram os metais, que não se desgastam, e os vendem por R$ 100 o quilo."
Rebelatto explica que o mais comum é o catalisador entupir -por fuligem do motor desregulado- ou formar uma borra quando é atacado por combustível a 1.500C, que derrete os metais preciosos. O carro engasga e perde desempenho.
Para reduzir o preço do catalisador de um carro "popular" de R$ 700 para R$ 350, os fabricantes reduzem a cerâmica, que estrutura o miolo. A durabilidade cai para 40.000 km.
Mesmo assim, é melhor comprar um novo, pois há quatro leis e um decreto proibindo a retirada do catalisador, por ser crime ambiental sujeito a multa de R$ 1.000 a R$ 50 mil.

Mito
Muitos motoristas, porém, tiram a peça na esperança de ganhar desempenho -em teoria, o escape ficaria mais "livre".
Só que o IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) mostrou que isso é um grande mito. Na pista, o Gol -com e sem catalisador- praticamente não teve variação de desempenho.
"O ganho de torque só acontece em carros com carburador [anteriores a 1995]. Com injeção eletrônica, a falta do catalisador faz uma contrapressão no motor que pode até piorar o desempenho", explica Maurício Trielli, professor do laboratório de motores da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).


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