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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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MERCADO

Há casos em que o veículo entra no Brasil por um Estado, é nacionalizado em outro e comercializado num terceiro

Importado "viaja" pelo país e encarece 30%

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de viajar até 50 dias em um navio, um veículo importado pode ficar mais três meses em um porto brasileiro. Além disso, há casos em que o carro sai de Vitória e vai até o interior de Goiás antes de ser vendido em uma concessionária. Para o consumidor, todo esse processo chega a custar 30% do valor do carro.
"Para essa porcentagem, é preciso considerar taxas de nacionalização, despachantes e capatazias [taxas alfandegárias]", explica Ricardo Pellegrini, 40, diretor de vendas e marketing da Suzuki.
Há ainda os 35% do Imposto de Importação -excluindo os carros vindos do Mercosul e do México-, IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Só então é considerado nacionalizado, informa o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A montadora tem um prazo de 90 dias para cumprir essa burocracia.
"Eu até preferiria, se pudesse, ficar mais [no porto] para esperar o dólar cair", brinca Mario Mizuta, gerente de logística da Citroën.
Enquanto ele sonha com isso, a BMW usou a "nacionalização seletiva" em 2002, mas pode fazê-la outra vez a qualquer momento. A empresa só pagava os tributos depois que o consumidor já tivesse feito o pedido na concessionária, para se defender da instabilidade cambial e dos altos estoques.

Segredo
Não é fácil fazer as montadoras tornarem público o "aumento" no preço dos importados. A Toyota, por exemplo, diz que traz os carros para o Brasil em lotes para diminuir seus encargos e poder vender o veículo pelo preço de tabela, estipulado pela própria filial.
Segundo a BMW, o que mais pesa no valor de seus produtos não são taxas portuárias ou frete marítimo, mas o Imposto de Importação e o câmbio.
"Quando a matriz determina o valor do veículo, o frete já está incluído. Não é muito porque a negociação é mundial", diz Anderson Pires Godinho, gerente administrativo de vendas da Peugeot.
Manoel Fernandes, 50, gerente de marketing do produto da Volkswagen, afirma que, ao definir o preço do automóvel, todas as despesas já estão incluídas.
Para a General Motors, o preço final de um automóvel reflete custos de importação e de logística, que não são detalhados por causa da competitividade do mercado.
Ao decidir que um determinado modelo será importado, as fábricas sabem as alterações que são necessárias, como recalibragem da suspensão ou remapeamento da injeção eletrônica.
"Tudo isso é feito na linha de montagem do A4 na Alemanha", ilustra Jaroslav Sussland, 56, diretor de vendas da Audi Senna.
"A legislação brasileira obriga que sejam instalados extintor de incêndio e triângulo e que haja marcação do número do chassi nos vidros. Tudo isso acontece no porto", conta Michel Bernardet, diretor de pós-vendas da Citroën. "As alterações de funcionamento do carro são feitas na França."

Acessórios
A Mitsubishi não fala oficialmente, mas a Folha apurou que a montadora leva os utilitários Pajero do porto de Vitória até Catalão (GO). Além de a nacionalização ser feita em Goiás, os bancos japoneses de tecido são substituídos por outros de couro.
Também em Vitória, a Toyota aproveita para instalar toca-CDs no utilitário esportivo SW4, que teve 643 unidades vendidas no ano passado. O mesmo acontece com os modelos Camry e RAV4.
Além do Pajero, outros modelos "viajam" pelo Brasil antes de serem liberados para a venda. Os fabricados pela BMW na Alemanha entram pelo porto de Vitória, mas vão até São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) para passar por uma inspeção de qualidade.
Os conterrâneos modelos da Mercedes-Benz vão do Rio de Janeiro até Juiz de Fora (MG), onde a empresa tem uma fábrica, para serem nacionalizados.
Explica-se: em troca de benefícios recebidos para construir uma fábrica, a montadora se compromete a nacionalizar seus importados no Estado porque parte do ICMS fica ali mesmo. É por isso que a Audi e a Volkswagen importam por Paranaguá (PR), e a Peugeot trocou Vitória pelo Rio de Janeiro depois da inauguração da planta de Porto Real.
Os modelos da Jaguar, da Volvo e da Land Rover são nacionalizados em Salvador porque essas marcas pertencem à Ford. Na vizinha Camaçari, a montadora norte-americana fabrica o Fiesta e o ainda inédito EcoSport.


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