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MERCADO
Há casos em que o veículo entra no Brasil por um Estado, é nacionalizado em outro e comercializado num terceiro
Importado "viaja" pelo país e encarece 30%
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois de viajar até 50 dias em
um navio, um veículo importado
pode ficar mais três meses em um
porto brasileiro. Além disso, há
casos em que o carro sai de Vitória e vai até o interior de Goiás antes de ser vendido em uma concessionária. Para o consumidor,
todo esse processo chega a custar
30% do valor do carro.
"Para essa porcentagem, é preciso considerar taxas de nacionalização, despachantes e capatazias
[taxas alfandegárias]", explica Ricardo Pellegrini, 40, diretor de
vendas e marketing da Suzuki.
Há ainda os 35% do Imposto de
Importação -excluindo os carros vindos do Mercosul e do México-, IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços).
Só então é considerado nacionalizado, informa o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A montadora
tem um prazo de 90 dias para
cumprir essa burocracia.
"Eu até preferiria, se pudesse, ficar mais [no porto] para esperar o
dólar cair", brinca Mario Mizuta,
gerente de logística da Citroën.
Enquanto ele sonha com isso, a
BMW usou a "nacionalização seletiva" em 2002, mas pode fazê-la
outra vez a qualquer momento. A
empresa só pagava os tributos depois que o consumidor já tivesse
feito o pedido na concessionária,
para se defender da instabilidade
cambial e dos altos estoques.
Segredo
Não é fácil fazer as montadoras
tornarem público o "aumento"
no preço dos importados. A Toyota, por exemplo, diz que traz os
carros para o Brasil em lotes para
diminuir seus encargos e poder
vender o veículo pelo preço de tabela, estipulado pela própria filial.
Segundo a BMW, o que mais
pesa no valor de seus produtos
não são taxas portuárias ou frete
marítimo, mas o Imposto de Importação e o câmbio.
"Quando a matriz determina o
valor do veículo, o frete já está incluído. Não é muito porque a negociação é mundial", diz Anderson Pires Godinho, gerente administrativo de vendas da Peugeot.
Manoel Fernandes, 50, gerente
de marketing do produto da
Volkswagen, afirma que, ao definir o preço do automóvel, todas
as despesas já estão incluídas.
Para a General Motors, o preço
final de um automóvel reflete custos de importação e de logística,
que não são detalhados por causa
da competitividade do mercado.
Ao decidir que um determinado
modelo será importado, as fábricas sabem as alterações que são
necessárias, como recalibragem
da suspensão ou remapeamento
da injeção eletrônica.
"Tudo isso é feito na linha de
montagem do A4 na Alemanha",
ilustra Jaroslav Sussland, 56, diretor de vendas da Audi Senna.
"A legislação brasileira obriga
que sejam instalados extintor de
incêndio e triângulo e que haja
marcação do número do chassi
nos vidros. Tudo isso acontece no
porto", conta Michel Bernardet,
diretor de pós-vendas da Citroën.
"As alterações de funcionamento
do carro são feitas na França."
Acessórios
A Mitsubishi não fala oficialmente, mas a Folha apurou que a
montadora leva os utilitários Pajero do porto de Vitória até Catalão (GO). Além de a nacionalização ser feita em Goiás, os bancos
japoneses de tecido são substituídos por outros de couro.
Também em Vitória, a Toyota
aproveita para instalar toca-CDs
no utilitário esportivo SW4, que
teve 643 unidades vendidas no
ano passado. O mesmo acontece
com os modelos Camry e RAV4.
Além do Pajero, outros modelos
"viajam" pelo Brasil antes de serem liberados para a venda. Os fabricados pela BMW na Alemanha
entram pelo porto de Vitória, mas
vão até São Bernardo do Campo
(Grande São Paulo) para passar
por uma inspeção de qualidade.
Os conterrâneos modelos da
Mercedes-Benz vão do Rio de Janeiro até Juiz de Fora (MG), onde
a empresa tem uma fábrica, para
serem nacionalizados.
Explica-se: em troca de benefícios recebidos para construir uma
fábrica, a montadora se compromete a nacionalizar seus importados no Estado porque parte do
ICMS fica ali mesmo. É por isso
que a Audi e a Volkswagen importam por Paranaguá (PR), e a
Peugeot trocou Vitória pelo Rio
de Janeiro depois da inauguração
da planta de Porto Real.
Os modelos da Jaguar, da Volvo
e da Land Rover são nacionalizados em Salvador porque essas
marcas pertencem à Ford. Na vizinha Camaçari, a montadora
norte-americana fabrica o Fiesta e
o ainda inédito EcoSport.
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