São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Jogo de paciência

Emplacamento no Detran-SP é tão lento e burocrático que faz motorista pensar que vale a pena pagar R$ 450 ao despachante

FABIANO SEVERO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS

Tudo começa após a cobrança de R$ 450 do despachante para emplacar uma moto de R$ 5.000. Quase 10%? Os mesmos R$ 450 cobrados para carros de R$ 100 mil? Isso mesmo.
A pista para fazer o emplacamento sozinho está no site www.detran.sp.gov.br. Nele há o passo a passo (ao lado) que, só de ler, já cansa.
É cópia daqui, cópia acolá. E a primeira parada é na papelaria, para comprar um formulário. "Não sei a diferença entre o verde e o vermelho", diz a vendedora Rosana, que há tempos cobra R$ 0,75 por duas vias.
Em tempo: a diferença é se o processo é com ou sem restrição (este se a compra do carro for à vista e com emplacamento feito em até 30 dias).
Formulário na mão e rumo ao Detran, no Ibirapuera (zona sul). Sem a moto, pois, sem placa, a lei só permite ir da loja ao posto de emplacamento.
No Detran, uma moça de vermelho, solícita, orienta pessoas. Todas têm dúvidas, umas mais cabeludas que as outras.
A atendente informa que é preciso entrar na fila do banco Nossa Caixa e pagar a primeira taxa (R$ 61,02 pela lacração da placa). Depois, volta-se à fila para pagar o registro do veículo (R$ 175,94). Fora esses R$ 237, o resto é lucro do despachante.

"A" fila
Mas só ele há de ter paciência para "a" fila. Duas vezes.
Do nada, um motoboy com um capacete rosado na cabeça entra na fila de idosos. À frente dele, há jovens com mais saúde que o Robinho na fase Santos.
Difícil saber quais são as suas "necessidades especiais". Para refrescar, giram dois ventiladores de pezinho. Eram brancos, mas estão pretos de poeira.
"A" fila anda a passo de cágado ladeira acima. Já se vão 45 minutos e dá para ver 14 caixas, mas só sete atendentes. Uma delas berra: "próximo". Painel eletrônico? Nem pensar.
A atendente não parecia estar num bom dia. Pior era o humor do senhor da classificação de placas, no primeiro andar.
Ele mal fala. Só franze a testa e ergue as sobrancelhas, como se perguntasse: "A papelada?".
Com força, marca quatro carimbos e um "X" -surgem três letras e quatro números. A placa começa a dar sinais de vida.
Não sem antes entrar na terceira fila. Mais dúvidas: há dois guichês e pouca informação. Um rapaz ora aparece numa janelinha ora noutra e explica que a da direita é para calcular IPVA e DPVAT. Na do lado, pega-se suas guias de pagamento.
Hora de voltar ao banco e "à" fila. Os personagens mudam; a história (e a espera) é a mesma. E os ventiladores também...
Após quatro horas, o setor de CRV (documento do veículo) diz que só sairá em cinco dias.
Na semana seguinte, o CRV pronto permite cruzar a cidade e emplacar a moto. Pensando bem, R$ 450 não é tão caro.


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