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Jogo de paciência
Emplacamento no Detran-SP é tão lento e burocrático que faz motorista pensar que vale a pena pagar R$ 450 ao despachante
FABIANO SEVERO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS
Tudo começa após a cobrança de R$ 450 do despachante
para emplacar uma moto de
R$ 5.000. Quase 10%? Os mesmos R$ 450 cobrados para carros de R$ 100 mil? Isso mesmo.
A pista para fazer o emplacamento sozinho está no site
www.detran.sp.gov.br. Nele
há o passo a passo (ao lado)
que, só de ler, já cansa.
É cópia daqui, cópia acolá. E
a primeira parada é na papelaria, para comprar um formulário. "Não sei a diferença entre o
verde e o vermelho", diz a vendedora Rosana, que há tempos
cobra R$ 0,75 por duas vias.
Em tempo: a diferença é se o
processo é com ou sem restrição (este se a compra do carro
for à vista e com emplacamento feito em até 30 dias).
Formulário na mão e rumo
ao Detran, no Ibirapuera (zona
sul). Sem a moto, pois, sem placa, a lei só permite ir da loja ao
posto de emplacamento.
No Detran, uma moça de
vermelho, solícita, orienta pessoas. Todas têm dúvidas, umas
mais cabeludas que as outras.
A atendente informa que é
preciso entrar na fila do banco
Nossa Caixa e pagar a primeira
taxa (R$ 61,02 pela lacração da
placa). Depois, volta-se à fila
para pagar o registro do veículo
(R$ 175,94). Fora esses R$ 237,
o resto é lucro do despachante.
"A" fila
Mas só ele há de ter paciência
para "a" fila. Duas vezes.
Do nada, um motoboy com
um capacete rosado na cabeça
entra na fila de idosos. À frente
dele, há jovens com mais saúde
que o Robinho na fase Santos.
Difícil saber quais são as suas
"necessidades especiais". Para
refrescar, giram dois ventiladores de pezinho. Eram brancos,
mas estão pretos de poeira.
"A" fila anda a passo de cágado ladeira acima. Já se vão 45
minutos e dá para ver 14 caixas,
mas só sete atendentes. Uma
delas berra: "próximo". Painel
eletrônico? Nem pensar.
A atendente não parecia estar num bom dia. Pior era o humor do senhor da classificação
de placas, no primeiro andar.
Ele mal fala. Só franze a testa
e ergue as sobrancelhas, como
se perguntasse: "A papelada?".
Com força, marca quatro carimbos e um "X" -surgem três
letras e quatro números. A placa começa a dar sinais de vida.
Não sem antes entrar na terceira fila. Mais dúvidas: há dois
guichês e pouca informação.
Um rapaz ora aparece numa janelinha ora noutra e explica
que a da direita é para calcular
IPVA e DPVAT. Na do lado, pega-se suas guias de pagamento.
Hora de voltar ao banco e "à"
fila. Os personagens mudam; a
história (e a espera) é a mesma.
E os ventiladores também...
Após quatro horas, o setor de
CRV (documento do veículo)
diz que só sairá em cinco dias.
Na semana seguinte, o CRV
pronto permite cruzar a cidade
e emplacar a moto. Pensando
bem, R$ 450 não é tão caro.
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