São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Pneu importado dá dor de cabeça

Modelos como A3, Picanto e Prisma têm peça que não existe para reposição no Brasil

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um consumidor sai da concessionária com seu carro importado zero-quilômetro e, na primeira esquina, cai num buraco e rasga o pneu. Quando volta à revenda para comprar um pneu novo, descobre que não há em estoque no Brasil.
Essa cena é fictícia, mas totalmente viável. Aqui, não há lei que obrigue a montadora a vender o pneu original na autorizada, mesmo sendo um dos itens mais vulneráveis a acidentes.
"Essa obrigação fica a cargo do fabricante de pneus, que é nomeado pela montadora como representante legal para importação e abastecimento das lojas com pneus", explica Vilien Soares, diretor-geral da Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos).
Mas nem sempre isso acontece. O Kia Picanto, por exemplo, é vendido no país desde setembro, mas seus pneus originais só chegarão em julho.
"Por um excesso de demanda nos mercados coreano e chinês, além de a medida 165/60 R14 ter pouca procura, o abastecimento no Brasil foi prejudicado e teve um pequeno atraso", explica Eduardo Oliveira, gerente de marketing da Hankook, que faz o pneu na Coréia do Sul.
A Kia diz que há pneus para reposição no seu centro de distribuição de peças. Mas, sem se identificar, a Folha consultou todas as revendas da Grande São Paulo: nenhuma tinha a peça para pronta entrega.
Segundo Rogério Montagner, gerente de marketing de produto da Mercedes-Benz, a maior dificuldade do consumidor de uma marca "premium" é encontrar o pneu idêntico ao vendido no exterior.
Ele também afirma que há restrições para a montadora importar os pneus originais, o que isenta a Mercedes-Benz de qualquer responsabilidade.
"Ao importar um carro com um pneu que ainda não foi lançado no Brasil, preferimos substituí-lo por outro que temos em estoque antes de vender o carro", diz Montagner.
Se os pneus da BMW forem da Dunlop, serão substituídos pelos da Continental. Celso Fogaça Júnior, gerente de produto e vendas da montadora, conta que os Dunlop são repassados para as revendas, pois alguns carros foram vendidos com pneus dessa empresa.
A marca também enfrenta problemas com os pneus "run flat" (que rodam mesmo sem ar). Eles equipam todos os BMW -exceto o M5 e o M6- e custam, em média, o dobro do pneu normal. Além disso, são raros no mercado de reposição.
Entre 10% e 15% dos Audi A3 Sportback importados têm pneus Dunlop, o que gerou problemas no início da importação, em agosto de 2006. A montadora reconhece que "ocorreram alguns poucos casos de falta de pneu Dunlop para reposição".
De acordo com a Audi, hoje seus concessionários estão abastecidos, até porque os Dunlop são substituídos antes de o zero-quilômetro sair da loja.

Carro nacional
Esse panorama, porém, não vale apenas para carros importados. As primeiras unidades do Chevrolet Prisma, fabricado em Gravataí (RS) desde outubro do ano passado, foram vendidas com pneus argentinos Maxxis e chineses Champiro.
Hoje, o Prisma vem com pneus da Goodyear, que são vendidos nas revendas. Os argentinos e os chineses têm representantes em dez capitais.
Segundo a General Motors, a indústria brasileira de pneus não atendia à demanda de Prisma novos. A fábrica também afirma que os pneus importados estavam nas revendas.
O diretor da Anip lembra que não há problema ao trocar o pneu original por outro de marca diferente. "É preciso, porém, trocar pelo menos dois pneus, pois é recomendado o uso de peças iguais no mesmo eixo."
Ou seja, o gasto do motorista será multiplicado por dois.


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