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Pneu importado dá dor de cabeça
Modelos como A3, Picanto e Prisma têm peça que não existe para reposição no Brasil
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um consumidor sai da concessionária com seu carro importado zero-quilômetro e, na
primeira esquina, cai num buraco e rasga o pneu. Quando
volta à revenda para comprar
um pneu novo, descobre que
não há em estoque no Brasil.
Essa cena é fictícia, mas totalmente viável. Aqui, não há lei
que obrigue a montadora a vender o pneu original na autorizada, mesmo sendo um dos itens
mais vulneráveis a acidentes.
"Essa obrigação fica a cargo
do fabricante de pneus, que é
nomeado pela montadora como representante legal para
importação e abastecimento
das lojas com pneus", explica
Vilien Soares, diretor-geral da
Anip (Associação Nacional da
Indústria de Pneumáticos).
Mas nem sempre isso acontece. O Kia Picanto, por exemplo, é vendido no país desde setembro, mas seus pneus originais só chegarão em julho.
"Por um excesso de demanda
nos mercados coreano e chinês,
além de a medida 165/60 R14
ter pouca procura, o abastecimento no Brasil foi prejudicado
e teve um pequeno atraso", explica Eduardo Oliveira, gerente
de marketing da Hankook, que
faz o pneu na Coréia do Sul.
A Kia diz que há pneus para
reposição no seu centro de distribuição de peças. Mas, sem se
identificar, a Folha consultou
todas as revendas da Grande
São Paulo: nenhuma tinha a
peça para pronta entrega.
Segundo Rogério Montagner, gerente de marketing de
produto da Mercedes-Benz, a
maior dificuldade do consumidor de uma marca "premium" é
encontrar o pneu idêntico ao
vendido no exterior.
Ele também afirma que há
restrições para a montadora
importar os pneus originais, o
que isenta a Mercedes-Benz de
qualquer responsabilidade.
"Ao importar um carro com
um pneu que ainda não foi lançado no Brasil, preferimos
substituí-lo por outro que temos em estoque antes de vender o carro", diz Montagner.
Se os pneus da BMW forem
da Dunlop, serão substituídos
pelos da Continental. Celso Fogaça Júnior, gerente de produto e vendas da montadora, conta que os Dunlop são repassados para as revendas, pois alguns carros foram vendidos
com pneus dessa empresa.
A marca também enfrenta
problemas com os pneus "run
flat" (que rodam mesmo sem
ar). Eles equipam todos os
BMW -exceto o M5 e o M6- e
custam, em média, o dobro do
pneu normal. Além disso, são
raros no mercado de reposição.
Entre 10% e 15% dos Audi A3
Sportback importados têm
pneus Dunlop, o que gerou
problemas no início da importação, em agosto de 2006.
A montadora reconhece que
"ocorreram alguns poucos
casos de falta de pneu Dunlop
para reposição".
De acordo com a Audi, hoje
seus concessionários estão
abastecidos, até porque os Dunlop são substituídos antes de
o zero-quilômetro sair da loja.
Carro nacional
Esse panorama, porém, não
vale apenas para carros importados. As primeiras unidades
do Chevrolet Prisma, fabricado
em Gravataí (RS) desde outubro do ano passado, foram vendidas com pneus argentinos
Maxxis e chineses Champiro.
Hoje, o Prisma vem com
pneus da Goodyear, que são
vendidos nas revendas. Os argentinos e os chineses têm representantes em dez capitais.
Segundo a General Motors, a
indústria brasileira de pneus
não atendia à demanda de Prisma novos. A fábrica também
afirma que os pneus importados estavam nas revendas.
O diretor da Anip lembra que
não há problema ao trocar o
pneu original por outro de marca diferente. "É preciso, porém,
trocar pelo menos dois pneus,
pois é recomendado o uso de
peças iguais no mesmo eixo."
Ou seja, o gasto do motorista
será multiplicado por dois.
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