São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUSTIÇA

Cinco anos depois da maxidesvalorização do real, consumidores esperam para conseguir ter veículo em seu nome

Contrato de leasing em dólar ainda gera insatisfação

Fernando Moraes/Folha Imagem
Pedro Vileterá Teixeira devolveu seu Fiesta mesmo depois de já ter pago R$ 17 mil


EDUARDO CERIONI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cerca de 2.000 dias depois da maxidesvalorização do real frente ao dólar, ainda há reflexos na vida de milhares de pessoas. Em São Paulo, parte dos 250 mil consumidores que compraram um carro pelo leasing atrelado à moeda americana e que acabaram pagando prestações pela variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) continua à espera da decisão da Justiça para poder ter o bem em seu nome.
"A Ford nem fabrica mais o Escort, e eu não consigo ter liberada a documentação do meu, de 1998", reclama a psicóloga Regina Serrano, que ainda não se sentiu seduzida pelas novas propostas da financeira. A também psicóloga Rita Nicioli se nega a desembolsar mais dinheiro por seu Fiat Palio 1998. "Sei que o carro perde valor a cada dia, mas ele já foi todo pago sem atraso. E bem pago."
No primeiro mês de 1999, Nicioli desembolsou R$ 337,82 pela mensalidade, que subiu para R$ 502,32 em fevereiro. Em janeiro daquele ano, o dólar teve uma valorização de 45% em apenas uma semana, sendo que a inflação total do mês foi de 0,42%. Depois disso, com base no INPC, em função de uma ação na Justiça, ela pagou parcelas entre R$ 350 e R$ 400 até o final do crediário.
O motorista Pedro Vileterá Teixeira devolveu seu Ford Fiesta no começo de 2003. "Já tinha dado R$ 17 mil e ainda devia metade do carro", conta. "Não tive orientação na hora de assinar o contrato em dólar nem na entrega." Além disso, as multas do veículo somavam R$ 2.000, o que o incentivou a entregá-lo. Hoje, porém, arrepende-se e está na Justiça para consegui-lo de volta.
A Associação Brasileira das Empresas de Leasing não sabe quantificar o número de pendências, mas divulga que "a quase totalidade dos clientes optou por um acordo". Para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que em 1999 moveu ação civil pública ainda em juízo, o momento favorece um entendimento. Mas José Eduardo Pavolieri de Oliveira, vice-presidente da comissão de Defesa do Consumidor da entidade, alerta: "É preciso saber negociar".
Serrano, Nicioli e os outros contratantes do leasing em dólar vêm recebendo cartas ou telefonemas dos escritórios de advocacia das financeiras na tentativa de uma solução amigável. No caso da dona do Palio, o banco diz haver um residual de R$ 8.500 -mas dá um desconto de R$ 7.000. "Cadê o prejuízo que os bancos diziam ter se hoje aceitam, na maioria das vezes, receber 10% da diferença alegada?", questiona Oliveira.
Quem fez acordo, como o jornalista Fábio Pescarini, se diz "aliviado". Ele queria trocar seu Chevrolet Corsa e aceitou o desconto proposto de 80%.
Quanto à decisão final, Oliveira faz projeções pessimistas: pode levar mais cinco anos. O julgamento em segunda instância já dura três anos e há recursos pendentes no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.

Texto Anterior: Pé na estrada: Sapato representa segurança ao volante
Próximo Texto: Panorâmica - Novos: Fiesta Sedan custa a partir de R$ 26.990
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.