São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Caos inspirador

Em meio a carros com retrovisores rebatidos, Índia tenta produzir modelo de US$ 2.500 e faz do Logan sedã de luxo

Raveendran/France Presse
Sem metrô, 19 milhões de habitantes de Mumbai se espremem no trânsito

FELIPE NÓBREGA
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI

Quem acha o trânsito de São Paulo caótico não encontraria adjetivo pior para descrever a loucura nas ruas de Mumbai (antiga Bombaim), que disputa com Nova Déli o título de maior cidade da Índia.
Com aproximadamente o dobro da população da capital paulista e sem metrô, atravessar a cidade sobre rodas pode levar mais de três horas, devido aos congestionamentos.
A situação poderia ser ainda pior se os motoristas seguissem à risca a lei. Com tantos riquixás (veículos de três rodas), automóveis, motos e caminhões, os guardas de trânsito nem se importam com o fato de os retrovisores externos serem recolhidos -ou nem existirem.
Essa é a forma que os motoristas encontraram para se espremerem ainda mais e, assim, multiplicarem o número de faixas. Mas as vacas, com o status de animal sagrado, sempre encontram uma brecha para pastar no asfalto -todos desviam.
Na ausência de espaço, sobra a buzina. É numa espécie de sinfonia através da qual os motoristas se comunicam, avisando que vão mudar de faixa ou repreendendo outro mais distraído. Nos caminhões, em vez de "mantenha distância", o aviso é "buzine, por favor".
A jovem Ayesha -muitos indianos usam um nome só- sempre viveu em Mumbai, mas aprendeu a dirigir numa cidade vizinha. "Aqui não dirijo. Tenho a impressão de que meu carro vai ser prensado."
Quem pode pagar cerca de US$ 150 mensais para um motorista particular geralmente abandona o volante. A publicidade do Renault Logan, lá fabricado pela Mahindra, destaca o espaço do banco traseiro.
A diferença de posicionamento do Logan -no Brasil, foi mostrado em supermercados e virou xodó de taxistas- mostra que os dois mercados não são tão parecidos quanto dizem.
A semelhança está no volume de vendas, com mais de 2 milhões de unidades. Isso tem feito dos dois países, junto com a Rússia e a China, o alívio dos balanços de multinacionais.

Moto de quatro rodas
Com um PIB per capita 73% menor que o brasileiro, a Índia vê nas motos a solução para o transporte individual -não tão individual assim. O operário Balkrishna, 39, não se acanha ao dizer que transporta na moto a esposa e os dois filhos.
"Meu maior sonho é ter um carro." De olho nele e nos mais de 7 milhões de consumidores anuais de motocicletas, a Tata desenvolveu o Nano, o carro de US$ 2.500. Apresentado em janeiro, teve seu lançamento adiado para dezembro por conflitos com os ex-donos das terras onde a fábrica seria erguida.
O Nano é uma espécie de moto com quatro rodas. Sem luxo e com motor de 0,6 litro, não poderia ser vendido em muitos países ocidentais, onde se exige muito mais que cinto de segurança como item de série.
Seguindo o mesmo caminho, a Renault desenvolve um carro de US$ 2.500 com a fabricante de motos Bajaj. "Se for um sucesso, poderemos adaptá-lo para o Brasil, mas ele não custaria menos de US$ 10 mil", disse o presidente mundial da francesa, Carlos Ghosn, em agosto, durante visita ao Paraná.


FELIPE NÓBREGA viajou a convite da Mahindra

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