São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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Números de vendas, uso por profissionais e facilidade para achar peças de manutenção esticam a vida de modelos com design defasado, como Volkswagen Kombi, 46, Volkswagen Gol, 23, Fiat Mille, 19, e Chevrolet Vectra, 10

Brasil dá asilo a VELHINHOS

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um carro é pensado para sobreviver, em média, quatro anos. Mas a Kombi sai da linha de montagem da Volkswagen desde 1957, a Fiat faz o Uno em Betim (MG) há 20 anos, e o Chevrolet Corsa Classic não sofreu nenhuma grande alteração desde seu lançamento, em novembro de 1995. Pois é, as montadoras nacionais produzem, com certa exclusividade, algumas lendas da indústria.
Nem por isso amargam vendas fracas. Sem modificações estéticas desde 1999, o hoje chamado Corsa Classic é responsável por metade das vendas de todos os Corsa. Sustentado pelos taxistas -esses profissionais representam 95% dos consumidores-, o Santana vende mais que o Citroën Xsara Picasso, por exemplo. Em 2003, foram comercializados 11.329 sedãs, contra 10.089 minivans.
O fato é que os "velhinhos" atraem pela relação custo-benefício. "O cliente é bastante racional. O Corsa Classic é o automático mais barato do mercado", explica Hermann Mahnke, gerente de marketing da General Motors que cuida da plataforma Corsa. Com motor 1.6, é vendido quase exclusivamente a frotistas.
A Volkswagen fez uma pesquisa e definiu esse tipo de cliente como "essencialista". É o oposto do entusiasta, aquele que valoriza o status e o prestígio que o veículo propicia. Há ainda o sensível -que não é um profundo conhecedor de automóveis, mas quer conforto e praticidade- e o guiado pela imagem, preocupado com design.
"Além disso, um projeto estabelecido tem peças de reposição baratas e mecânica conhecida", aponta Paulo Sérgio Kakinoff, diretor de vendas e marketing da Volkswagen. Como estão no mercado há muito tempo, seu papel entre os veículos usados é importante e têm clientes cativos.

Visual
Por atraírem pelo preço, as montadoras preferem não investir para alterar o visual, o que implicaria aumento para o cliente. Estima-se que uma reestilização não saia por menos de US$ 20 milhões. "O envelhecimento da carroceria é muito maior que o da parte mecânica, mas o consumidor profissional não se preocupa com design", diz Kakinoff.
A Fiat demorou 20 anos para lançar a segunda geração do Mille -que não usa o nome Uno há três anos-, mas manteve o preço. "Continuamos apostando na força do Mille. Não temos motivos para deixar de investir num carro com boa relação custo-benefício", diz Alberto Giglieno, que está trocando a superintendência no Brasil pela matriz, em Turim.
A primeira geração do Chevrolet Vectra foi lançada no Brasil em 1993. Três anos depois e apenas quatro meses depois da Europa, o novo Vectra começou a ser produzido no Brasil. No entanto, até hoje, a terceira versão ainda não deu as caras por aqui.
A GM afirma que foi uma definição de prioridades. Preferiu apostar no Astra Sedan, inclusive para os taxistas, oferecendo o motor 1.8 a álcool. No ano passado, foram 4.222 Vectra vendidos, enquanto o Astra (sedã e hatchback) atingiu 35.885 unidades.
O que dizer então da Volkswagen Kombi, cujo desenho é praticamente o mesmo desde que começou a sair da linha de montagem em 1957? Em 1996, o utilitário ganhou teto mais alto, mas o consumidor não está preocupado com seu visual. Sua média de vendas é quase dez vezes maior que a da Mercedes-Benz Sprinter.



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