São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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CRISE

Estratégia faz com que veículos concorrentes, como as picapes Nissan Frontier e Chevrolet S10, usem o mesmo propulsor

Custo impõe motor único a vários carros

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um mesmo motor, três carros diferentes. Esse parece ser o artifício que as montadoras descobriram para economizar e sempre oferecer novidades em seus lançamentos.
É comum que modelos da mesma família -casos de Fiat Palio e Siena ou Volkswagen Gol e Parati- usem o mesmo propulsor. O que o consumidor pode estranhar, porém, é um motor igual em veículos tão distintos quanto Chevrolet S10 e Nissan Frontier ou Peugeot 206 e Renault Clio.
Em São Carlos (231 a noroeste de São Paulo), a Volkswagen fabrica os motores que "dão vida" aos modelos Polo, Gol, Parati e Golf, além do Audi A3. A fábrica afirma que buscou, dentre as opções já existentes, aquela que melhor se adaptasse ao Polo. E encontrou justamente aquela que é usada no Golf e no A3 1.6. Para a versão 1.0, escolheu o que já é usado no Gol, mas com alterações que o deixaram mais potente.
"Quanto menos modificações fizermos, melhor. Há uma meta de custo, tempo de desenvolvimento e desempenho", afirma Roger Guilherme, supervisor de engenharia experimental da VW.

Estratégia
Também há a questão mercadológica: o Polo deveria ser um carro ágil, enquanto o Golf responde pelo conforto -por isso o motor foi mantido. No caso do "popular", foi preciso elevar a potência de 76 cv (cavalos) para 79 cv. "O consumidor não ia querer um carro luxuoso e econômico com desempenho inferior ao de um veículo mais barato."
E economia de combustível foi o que o Chevrolet Celta mais ganhou após receber o motor 1.0 do Corsa. Em março, o Corsa foi remodelado e ganhou um propulsor com 10 cv a mais. Quatro meses depois, ele passou para a linha de montagem do Celta 2003.
"Hoje em dia não há como ter um motor para cada carro", afirmou à Folha um funcionário da empresa que prefere não se identificar. Oficialmente, a montadora conta que é uma estratégia de modernização, um processo de melhoria contínua de seus produtos.
Coincidência ou não, a nova minivan Meriva foi equipada com dois propulsores 1.8: o de oito válvulas é o mesmo do Corsa.

Terceirização
Nissan e Peugeot optaram por terceirizar a motorização quando passaram a fabricar no Brasil. Assim, a Frontier recebeu o mesmo motor que a Chevrolet S10 -fornecido pela MWM-, e o 206, o 1.0 do Clio feito pela Renault.
"Quando escolheu nosso produto, a Nissan pode ter pesado que é o usado pelo líder do mercado", diz Marcos Gonzalez, gerente de vendas da MWM. Segundo a Nissan, é apenas coincidência.
Ele lembra que um motor nunca é idêntico a outro. "A curva de performance pode ser a mesma, mas há diferenças nos "acessórios"." O aftercooler, por exemplo, é na frente da S10, enquanto na Frontier fica acima do motor.
Quando o 206 foi nacionalizado, a fábrica de motores da Peugeot ainda não estava pronta. Por isso, firmou um acordo com a concorrente para comprar propulsores 1.0 até 2005. Agora, já faz em Porto Real (RJ) a opção 1.6.
À época do lançamento, o então presidente da empresa, Cees Hermanns, frisava que foram feitas adaptações para usar peças exclusivas do grupo PSA (dono da Peugeot e da Citroën), como itens de fixação e a ligação com o câmbio.
No exterior, a prática é comum. A Audi faz o mesmo 1.8 para os esportivos S3 e TT. Os sedãs A4 e A6 recebem um 3.0 de 220 cv.
Na DaimlerChrysler, Jeep Grand Cherokee Laredo e Mercedes-Benz ML 270 compartilham um 2.7 diesel, que gera 163 cv e usa o sistema CRD (Common Rail Diesel). Na gama Mercedes, também há uma "massificação", como nos C 240, E 240 e CLK 240.


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