São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Publicidade substitui potência por status

Carros com tecnologia semelhante modificam os conceitos comerciais

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não é de hoje que os veículos participam de arriscadas missões. Na década de 70, o Ford Corcel foi usado para salvar uma mocinha em apuros na linha do trem, e sua perua, a Belina, foi essencial na fuga de um condenado. Já a irreverência do Volkswagen Fusca incomodou o ministro da Fazenda.
Tudo isso aparecia na publicidade numa época em que eram poucas as marcas à venda no Brasil. Porém, além da multiplicação de opções, a evolução tecnológica -que faz com que os modelos de um mesmo segmento tenham tecnologia parecida- deixou as equipes de criação das agências de publicidade de cabelo em pé.
Mas é evidente que, do Chevrolet Chevette no meio do mato a Jack Bauer dirigindo um Citroën C4 Pallas na avenida Paulista, muito mudou.
Os primeiros anúncios se limitavam a grandes fotos do carro, indicando seu nome e o motor. O texto era mais informativo, mas pouco atraente.
Na década de 60, surgiu a preocupação de cativar o público com mensagens mais inteligentes e até provocativas. "Os carros não tinham tantos recursos, mas tirávamos leite de pedra", lembra o publicitário da agência SPGA, Alex Periscinoto, que trabalhou com a publicidade da Volkswagen do Brasil durante 40 anos.
As campanhas ajudavam a fazer do Fusca o líder de vendas, e o Brasil aprendia a fazer propaganda de carro. Expressões como "lave e use" ressaltavam a durabilidade, enquanto "cheque ao portador" indicava um bom valor de revenda. "Vendíamos um conceito."
Outra recordação de Periscinoto é um telefonema do então ministro da Fazenda Delfim Netto (1967-1974), que reclamou da frase "Invista em algo que não vai quebrar" quando houve problemas com a poupança e a inflação.
Mas, de um modo geral, os publicitários levam em conta três fatores para atrair o cliente: performance, design e valor de revenda, conceitos que nem sempre sobrevivem com o aumento da concorrência.
Para o publicitário Rodrigo Corbari, da equipe de criação da Euro RSCG Brasil, hoje as propagandas vendem muito mais o desejo de compra que os atributos do veículo. "Os carros são muito parecidos, e não adianta mais dizer a potência ou os recursos, temos de mostrar o status que ele traz."
Segundo o publicitário, atualmente, para ganhar a fidelidade do cliente, divulga-se mais a marca que o modelo. "Temos de trabalhar uma espécie de aura em torno da marca, descrever como a pessoa vai ser vista quando comprar o carro, principalmente no caso das empresas que estão estabelecidas há pouco tempo no país."

Tecnologia
Não bastasse o brilho dos astros, novos recursos tecnológicos também estão mudando a cara das campanhas. A Fiat foi buscar em Los Angeles ferramentas para deixar mais fora-de-estrada o cenário do comercial da Palio Adventure.
Os "ferozes" animais que cercam a perua são robôs feitos sob encomenda pela americana Animal Makers, que contribuiu com grandes produções do cinema, como "Piratas do Caribe" e "Inspetor Bugiganga".
Já a Audi trilhou um caminho mais simples, mas inédito. Ao abrir a página onde está estampado um R8, o leitor vê o pisca direito piscar. O texto diz que ultrapassagem é um "item de série" no modelo esportivo, de 420 cavalos.
"O ineditismo utilizado está ligado à própria Audi, que fabrica carros com alta tecnologia", justifica o gerente de marketing da marca, Felipe Gomes.
(RICARDO RIBEIRO)



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